Autor

Jorge Marques

13 de 01 de 2023, 11:05

Colunistas

Saber escolher é uma arte

Em português corrente é um processo de análise dos antecedentes de alguém que se quer contratar e neste caso os ministros e secretários de estado

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Nas últimas falsas partidas na escolha dos governantes, aparece agora mais uma modernice que se chama Vetting. Em português corrente é um processo de análise dos antecedentes de alguém que se quer contratar e neste caso os ministros e secretários de estado! Costumava chamar-se recrutamento, que era a procura dos candidatos e seleção que era a escolha dos mais adequados à finalidade a que se destinavam.

Vale a pena olhar dois exemplos limite. Quando perguntavam a Bill Gates qual era a sua tarefa mais importante na Microsoft, ele respondia: É a contratação das pessoas! Ele fazia questão de verificar tudo sobre os candidatos que iam depender dele e fazia-lhes perguntas cruzadas e bem difíceis. O outro exemplo vivi-o entre 72/77 na primeira empresa de grandes superfícies comerciais. Além dos dados curriculares, analisavam-se comportamentos e a decisão final era sempre do futuro chefe direto. Ele tinha que se comprometer! No caso de pessoas que movimentavam dinheiro, operadoras de caixa e outros, o ilustre tio do presidente da empresa tinha a função de saber junto dos vizinhos, sobre a boa vizinhança e as boas contas dos candidatos. Só depois de tudo isto a pessoa era contratada. Imaginem o que se exigia a uma operadora de caixa!

Bem sei que no caso dos ministros/secretários a complexidade é maior, por isso a escolha não deve ser simplificada. Há bons exemplos onde se pode fazer benchmarking (boas práticas), como é o caso da Comissão Europeia na escolha dos comissários. Para além das exigências curriculares elevadas, a presidente decide por um, entre dois candidatos que entrevista.

Nestes nossos casos há duas questões de fundo. A primeira é que o critério é sobretudo a confiança política e isso é pouco. Qualquer PM ou ministro deve assimilar que a sua primeira grande tarefa é envolver-se na escolha dos seus colaboradores diretos e que esses governantes vão servir o país e não o partido. A segunda questão tem a ver com o escrutínio mediático. Provavelmente já tivemos péssimos ministros/secretários que passaram em branco e outros bem melhores que foram massacrados na opinião pública. Aprendi ontem numa conferência, que o aumento de crimes na região deve-se mais ás novas intervenções policiais do que ao aumento da criminalidade. Quer dizer que ela existia, mas não estava á vista. O caso dos governantes é semelhante, o escrutínio mediático é cada vez maior e os jornalistas não são propriamente anjos da guarda!