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Carta do Diretor do Museu do Falso aos Leitores do Jornal do Centro:
A Meia de Encher do Capitão Leitão
Viseu, 28 de Janeiro de 2023
Bom fim-de-semana, para quem expectativas de que os mais novos durmam até ao meio-dia (só este fim-de-semana que está frio!).
Esta é a primeira– esperamos – de vastas e longas (fica o aviso) missivas quanto ao Museu do Falso, no Jornal do Centro. Este Vosso Museu viseense que vai trotando mundos e anos, galgando uma década no findo 2022, para susto e arreliação de quem o via sempre fechado, por não saber ler informações: “existência permanente online”. Os Museus também podem não ter edifício próprio. Só não podem é – nesse caso – pertencer à Rede Portuguesa de Museus… Há outras (Redes), ainda assim, já que as Redes são como na pesca: nem tudo é de arrastão.
Já que estamos nas apresentações, fica o Museu do Falso apresentado: em 2022 andou de braço dado com a DGArtes e o financiamento obtido no Programa de Apoio a Projetos – Programação. Não ficou mal visto. Ali, onde de longe, não se lhe rilham os dentes ao que fazemos. O que somos? Fundado em 2012 o Museu do Falso (MF) é uma instituição permanente sem fins lucrativos, sediada em Viseu (Portugal), de existência online e modelo expositivo físico “pop-up” (podem espreitar: https://museudofalso.projectopatrimonio.com/). Somos isto, num plural que não é majestático. Somos um Museu de território, faltava isto.
De qualquer modo e porque é cedo, apresentamos e apresentaremos, neste espaço de linhas e pontuação, as mais extraordinárias peças que o Museu do Falso ainda não tem no seu acervo. Por vários motivos, como óbvio, dos quais explicaremos os que nos apetecer, como será notório. Se as encontrarem e quiserem oferecer: aceitamos de bom grado.
Sendo nós dados às efemérides, transcorre de 28 de Janeiro para um pulo de três dias e lembramos o Capitão Leitão. Ainda aqui há uns tempos, na rua/quelha que vai de um largo para outro largo, na risonha povoação de Repeses, perguntava um turista ao outro: “Qui est cet Capitãoê Leitãoê?” [escrita fonética], ao que o outro respondeu “Pff…!” [encolher de ombros fonético]. Ora, o Capitão Leitão foi um dos abnegados heróis da falhada revolta Republicana de 31 de Janeiro de 1891. Ainda protestou e barafustou, escondido a fazer barrelas em Farminhão (terra natal do dito herói) e a fundar clubes da bola. O António Amaral Leitão (assim se chamava) tinha amigos da bola, foi mesmo um pioneiro do football em Portugal, de que Farminhão e Viseu beneficiaram inequivocamente.
Ora, ou nem por isso ou talvez por isso, não se quedou fora das vistas de quem o procurava como “insurrecto” e porque um padre o conheceu, foi de costas para o estrado de sabe-se lá quantos navios, até escolher (naquela altura escolhiam-se as penas, agora só as indemnizações) degredo em Angola sem prisão na metrópole. Angola era lugar da moda e por lá tinham passado Zé do Telhado e João Brandão, entre outros… famosos influencers e nativos analógicos do trabuque, bisarma e aguardente.
A coisa é rocambolesca, sabendo-se apenas que lá – em Angola – voltou ao jogo, e um scout francês enamorou-se da graça do Defesa Central (António Leitão, claro). Jurou-lhe patrocínios em espécie (como nos Apoios às Artes de hoje em dia) até ao final dos dias e tratou de o embarcar como o Benfica ao Eusébio: furtivamente. Ia a caminho do Le Havre quando não resistiu a uma pelada de despedida que se tornou digressão: Ambriz, Libreville, Paris! Aí o caso muda de figura e convidam o António a gingar no Brasil, sendo percursor de Jesus, portanto. Aceita, vai e encanta. Um “mercenário” de estouro que só queria, apesar de tudo, poder regressar a casa.
Lá o conseguiu, quase no fim da vida. Já depois de amnistiado, mas sem ver a República que tanto desejava.
O que há que prove o que dizemos? Uma das meias-de-encher (que eram as que se usavam antes das de fora, para a bola não magoar), do jogo fundador do mais tarde Grupo Desportivo de Farminhão, ocorrida algures entre o 31 de Janeiro de 1891 e o Dia de S. Brás, 1892 – reconhecido padroeiro de todos os que padecem de “qualquer coisa atravessada na garganta”.
Como dissemos, esta ainda não é peça do nosso acervo, mas lá chegaremos um dia, tal como o Académico regressar à Primeira (“dá-lhes” – metaforicamente – Jorge Costa!) e houver uma República, implicando os cargos de poder deixarem de seguir dos pais para os filhos/as e primos/as.
Nos entrementes, deixamos a sugestão do nosso Catálogo do Núcleo Linguístico, versão digital. Para ler enquanto se espera pelo autocarro, sentido Lustosa-Abraveses [DOWNLOAD DO CATÁLOGO DO NÚCLEO LINGUÍSTICO DO MUSEU DO FALSO: https://museudofalso.projectopatrimonio.com/]. Este Catálogo, o fim de uma epopeia, foi apresentado no Carmo’81 a anteceder o Natal, e levado com pompa até ao NACO, em Oliveirinha, já a passar dos Reis.
Até que bons olhos Vos revejam,
com admiração e estima,
pela Direção do Museu do Falso
[NOTA: O Museu do Falso não existe para provar factos, antes para o provocar, mas tudo remete para o que é verídico. Com liberdades criativas pelo meio. Ainda assim: pesquisem.
O Capitão Leitão nasceu (1845) e morreu (1903) em Farminhão, sendo um dos principais e mais reconhecidos nomes da tentativa falhada de implantação da República, ocorrida a 31 de Janeiro de 1891. A sua vida poderia dar origem a múltiplos filmes, tão extraordinária se conta que foi. Se não conhecem ou reconhecem o nome, não faltam fontes de onde retirar informação. Vale a pena. Também esperamos que o Académico suba à primeira: já este ano, se possível.]