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13 de 09 de 2022, 11:03

Cultura

Aquilino Ribeiro nasceu há 137 anos e há um século publicava “Estrada de Santiago”

Foi a 13 de setembro de 1885 que o escritor nasceu em Carregal, no concelho de Sernancelhe. Figura opositora da monarquia e do Estado Novo, o autor protagonizou uma vasta carreira literária. Hoje, o Grupo Off apresenta espetáculo em homenagem em Viseu

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Fotógrafo: D.R./Arquivo

Faz hoje, terça-feira, 137 anos que nasceu Aquilino Ribeiro. O escritor foi um dos mais sonantes oriundos da região de Viseu e um dos autores mais incontornáveis da literatura portuguesa do século XX.

Foi a 13 de setembro de 1885 que Aquilino Ribeiro nasceu em Carregal, no concelho de Sernancelhe. Foi batizado em Vila Nova de Paiva e cresceu em Moimenta da Beira.

Figura opositora da monarquia e do Estado Novo, o autor protagonizou uma vasta carreira literária que teve como grandes marcos as obras “O Malhadinhas”, “Terras do Demo”, “Quando os Lobos Uivam”, “O Homem da Nave”, “Cinco Réis de Gente” e “Romance da Raposa”, entre outras.

A mãe queria que Aquilino fosse padre, mas este acabou por se enveredar no mundo dos livros. Proposto para o Prémio Nobel da Literatura, chegou a ser professor do ensino secundário.

Viveu durante vários anos em Lisboa, onde morreu a 27 de maio de 1963, aos 77 anos. Aquilino Ribeiro é considerado um dos grandes autores da língua e literatura portuguesa, com honras de Panteão Nacional.

Este ano, também se celebra o centenário da publicação "Estrada de Santiago", uma coletânea de contos escrita pelo 'Mestre', onde se insere “O Malhadinhas”. O livro inclui também os contos "A Maldição cubra os Pardais", "Valeroso Milagre", "A Grande Dona" e "Bufonaria Heroica".

Por iniciativa de sua mãe, que ambicionava fazê-lo sacerdote, frequenta o Seminário de Beja de onde acabaria por ser expulso em 1904, por incompatibilidade com o padre Manuel Ançã, um dos diretores da instituição. Em 1906, já a residir em Lisboa, inicia uma colaboração com o jornal republicano A Vanguarda.

No ano seguinte escreve, em parceria com José Ferreira da Silva, o conto “A Filha do Jardineiro”, obra onde enaltece o republicanismo, criticando figuras do regime. Entra para a Maçonaria através do Grande Oriente Lusitano e é acusado de anarquista. Evade-se da prisão em 1908, mantendo, em Lisboa, contactos com os regicidas.

Em 1910, vamos encontrá-lo em Paris, estudando na Faculdade de Letras da Sorbonne. Aquando da implantação da República, a 5 de outubro, Aquilino visita Lisboa mas regressa a Paris, onde se havia enamorado pela alemã Grete Tiedemann, com quem casaria mais tarde, após uma breve passagem pela Alemanha.

De regresso a Paris, nasce, nesta cidade, em 1914, o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Ribeiro. Nesse mesmo ano escreve “Jardim das Tormentas”. O surgimento da Primeira Guerra Mundial obriga Aquilino e a sua família a mudar-se para Portugal.

Apesar de não ter concluído a licenciatura em Sorbonne, é colocado como professor no Liceu Camões, onde permanecerá três anos. Em 1918, publica “A Via Sinuosa”, entrando no ano seguinte para a Biblioteca Nacional de Portugal.

Após a sua primeira esposa ter falecido, casa-se em 1929 na cidade de Paris com Jerónima Dantas Machado. O filho de ambos, Aquilino Ribeiro Machado, viria a ser o 60.º presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1977 a 1979.

Aquilino Ribeiro foi considerado “persona non grata” pelo regime do Estado Novo. Quando morre, a 27 de maio de 1963, a censura proíbe os jornais de publicar notícias sobre as inúmeras homenagens que lhe estavam a ser prestadas. A 14 de Abril de 1982, foi agraciado a título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.

Em 2007, a Assembleia da República decidiu passar os seus restos mortais para o Panteão Nacional.

“Nos dias atuais, a maior homenagem que cada um de nós pode fazer-lhe é continuar a ler a sua vasta obra pautada por uma linguagem com excecional riqueza lexicológica, deixando-nos transportar para o seu mundo literário onde imperam inúmeras construções frásicas de raiz popular, repletas de regionalismos, fruto da sua intensa vivência”, refere a Câmara de Moimenta da Beira numa nota que dá conta do aniversário do nascimento de Aquilino.

Em Viseu, na Rua Formosa, existe um monumento dedicado em homenagem ao escritor. O Parque da Cidade é também dedicado ao autor.

A companhia de teatro Grupo Off vai apresentar esta terça-feira o espetáculo “Aquilino” nas margens do rio Pavia em Viseu. O espetáculo vai ser apresentado no âmbito dos Passeios pela Literatura.

Em “Aquilino”, o Grupo Off pretende homenagear a figura de Aquilino Ribeiro, “o grande escritor que imortalizou as Terras do Demo”, num serão literário que terá direito a performances teatrais e a uma atuação musical de Sara Costeira e onde algumas personagens aquilinianas ecoarão as palavras do autor.

Obras de Aquilino Ribeiro
Romances
• A via sinuosa, 1918
• Terras do demo, 1919
• Filhas da Babilónia, 1920
• Andam faunos pelos bosques, 1926
• O homem que matou o diabo, 1930
• A batalha sem fim, 1932
• As três mulheres de Sansão, 1932
• Maria Benigna, 1933
• Aventura maravilhosa de D. Sebastião Rei de Portugal depois da batalha com o Miramolim, 1936
• São Bonaboião: anacoreta e mártir, 1937
• Mónica, 1939
• O servo de Deus e a casa roubada, 1941
• Volfrâmio, 1943
• Lápides partidas, 1945
• Caminhos errados, 1947
• O arcanjo negro, 1947
• Humildade gloriosa, 1954
• A Casa Grande de Romarigães, 1957
• Quando os lobos uivam, 1958
• A mina de diamantes, 1958
• O Malhadinhas, 1958
• Arcas encoiradas, 1962
• Casa do escorpião, 1963

Biografia
• Luís de Camões: fabuloso e verdadeiro (2 volumes), 1950
• O romance de Camilo (3 volumes), 1956

Contos
• A filha do jardineiro, 1907
• Jardim das tormentas, 1913
• Valeroso milagre, 1919
• Estrada de Santiago, 1922
• Sonhos de uma noite de Natal, 1934
• Quando ao gavião cai a pena, 1935

Literatura infanto-juvenil
• Romance da raposa, 1924
• Arca de Noé I, 1936
• Arca de Noé II, 1936
• Arca de Noé III, 1936
• O livro do menino Deus, 1945
• Fernão Mendes Pinto: aventuras extraordinárias de um português no Oriente, 1952
• O livro de Marianinha: lengalengas e toadilhas em prosa rimada (Edição póstuma), 1967

Memórias
• Alemanha Ensanguentada, 1935
• É a guerra: diário, 1934
• Cinco réis de gente, 1948
• Um escritor confessa-se (Edição póstuma), 1974

História
• Os avós dos nossos avós, 1943
• Príncipes de Portugal: suas grandezas e misérias, 1952

Tradução
• A retirada dos dez mil, de Xenofonte (tradução e prefácio)
• D. Quixote de la Mancha de Miguel de Cervantes Saavedra
• O príncipe perfeito, de Xenofonte (tradução e prefácio)
• O Santo (1907) de Antonio Fogazzaro