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11 de 01 de 2022, 16:40

Cultura

O corpo é o tema central do festival de dança NANT do Teatro Viriato

Mostra de dança assinala a 10.ª edição com um novo nome - Novas Ações, Novos Tempos - e começa já esta sexta-feira. São dez as iniciativas previstas na programação

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Fotógrafo: D.R.

O festival de dança NANT, no Teatro Viriato, em Viseu, destaca, nesta edição, o corpo como o elemento principal nos espetáculos e debates, assim como no ciclo de cinema do Cine Clube de Viseu, anunciou esta segunda-feira (11 de janeiro) a organização.

O NANT (“New Age, New Time”) atinge este ano a 10.ª edição, mas a diretora do Teatro Viriato, Patrícia Portela, assume-a como a primeira, uma vez que rebatizou a denominação para “Novas Ações, Novos Tempos” e assumiu a “ousadia” e o “arrojo” de passar este festival de dança de novembro para janeiro e “começar o ano com uma programação de dança”, justificou na apresentação da programação.

Uma edição “toda ela dedicada à ideia de corpo, que parece muito óbvia, porque estamos a falar de dança, mas ao mesmo tempo esta pandemia tem questionado isso”, com dez iniciativas agendadas.

Patrícia Portela levantou questões como “o que é um corpo saudável, o que é um corpo doente, o que é um corpo que pode estar presente e pode abraçar, o que é um corpo que não pode ver ninguém porque pode contaminar alguém e pode ser fatal, o que pode ser fatal, não ter ninguém por perto e não poder abraçar alguém”.

“Todas estas questões nascem a partir desta ideia de corpo. Temos um corpo vivo e, às vezes, temos tendência a esquecermo-nos que somos identidades que se movem e mudam, que sofrem metamorfoses e que também acolhem outros corpos, outras ideias e outros vírus”, justificou.

Neste sentido, e com o corpo “como tema para percorrer este festival”, o Teatro Viriato convidou artistas que considerou “fundamentais e que desenvolveram, muitos deles, o trabalho durante a pandemia, ou seja, são corpos resistentes e artistas resistentes”.

O festival que começa na sexta-feira (dia 14) e vai até 29 de janeiro junta-se ao Cine Clube de Viseu, que também programou um ciclo de cinema dedicado ao corpo e faz uma “espécie de pré-lançamento” com o filme “O Homem que Vendeu a Sua Pele”, de Kaouther Ben Hania. No dia 20, apresenta o documentário “Nada Pode Ficar”, de Maria João Guardão.

Esta sessão abre também um debate sobre o corpo entre convidados e espectadores, tal como acontecerá “em todos os espetáculos” do NANT, uma vez que Patrícia Portela defendeu que “é muito importante manter o diálogo constante entre público, convidados e artistas”.

Na sexta-feira, o NANT “abre com o ‘Bate Fado’, de Jonas & Lander, que é mais uma vez o corpo na sua relação com a tradição e com uma tradição”, desvendou Patrícia Portela, que entende que “este fado dançante é algo que à primeira estância não ocorre pensar, de que o fado pode ser dançado”.

“No sábado (dia 15) teremos uma peça muito bonita, muito delicada, muito sensível, muito subtil do Mário Afonso que se chama ‘Framework’. É um trabalho de uma enorme exposição e de uma enorme generosidade sobre um corpo que volta a dançar passados muitos anos e o corpo já não obedece e não cria da maneira que queríamos”, contou.

Para o público a partir dos 3 anos, Patrícia Portela anunciou “As estrelas lavam os teus pés”, uma peça de Sara Anjo, feita a partir da obra de Hieronymus Bosch e que poderá ser vista durante a semana.

“Também teremos ‘Hip. A pussy point of view’ que fará um espetáculo e uma oficina para adolescentes e onde nos vai desafiar através de um espetáculo radical em que nos conta uma história com os conflitos raciais de género, a relação entre o corpo e a cultura e a sua identidade e a política. É um trabalho que nos tira a respiração”, disse.

O espetáculo “O que não acontece”, de Sofia Dias e Vítor Roriz, “é um espetáculo onde muito acontece sobre esta coisa de não acontecer” e, considerou Patrícia Portela, “é um corpo duplo, uma dupla que não se distingue, são dois corpos que são um, mas também são múltiplos”.

De Miguel Pereira, em parceria com Guillem Mont de Palol, é possível assistir a “Falsos Amigos” que a diretora desvendou que “parte de uma ideia muito simples”, ou seja, “de palavras que são ditas da mesma maneira em duas línguas, mas querem dizer coisas completamente diferentes”.

“Terminamos com ‘O susto é um mundo’, de Vera Mantero, e com todas as questões a abrir para o espaço intergaláctico do que é isto de sermos corpos na internet, corpos digitais, virtuais e de estarmos presentes”, adiantou.

A diretora não escondeu “a alegria” do regresso às plateias do público presencial, sem entrar em pormenores de como é que isso vai acontecer, “uma vez que na semana passada era uma coisa, esta semana é outra e para a semana ninguém sabe se vai haver alterações”.

“Para já ficamos muito contentes por não ser preciso teste” à Covid-19, bastando o certificado digital para assistir aos espetáculos.

Patrícia Portela acrescenta que espera ver o Teatro Viriato de “casa cheia” no NANT. “São tempos difíceis e confusos. Nunca sabemos se se pode ou não se pode e com que situação e acho que a única maneira de convidar o público é fazer uma programação que não se possa perder e acho que foi essa a grande aposta que fizemos. São espetáculos únicos”, afirmou.

Também a vereadora da Cultura da Câmara de Viseu, Leonor Barata, incentivou a ida ao teatro. A também coreógrafa disse que é importante “que o público volte aos teatros, que os teatros voltem a estar cheios e que os artistas voltem a ocupar os palcos” e lembrou o papel da dança na programação cultural da cidade.

Por outro lado, o festival é já uma espécie de marca deste teatro que está muito associado à dança, bem como a própria programação cultural de Viseu. Portanto, esta possibilidade de termos um programa tão diferenciado com tantos espetáculos e para tantos públicos tão diversos é um motivo de grande contentamento”, disse.

O evento não foi realizado no ano passado por causa da Covid-19.


Aniversário da Arte só com mulheres

Para além do NANT, o arranque da temporada de 2022 no Teatro Viriato também ficará marcado pelas celebrações do Aniversário da Arte, que vai acontecer a 17 de janeiro. A comemoração vai ser feita com uma homenagem feita apenas por mulheres.

“Nós vamos fazer uma mulheragem que celebra as autoras portuguesas. Para tal, convidámos três artistas da região – Beatriz Rodrigues, Ana Biscaia e Rosário Pinheiro – que escolheram as suas autoras de eleição para ilustrar o Café do Teatro”, revelou Patrícia Portela.

Além disso, acrescentou a diretora, o Teatro Viriato também convidou treze autoras “que escreveram cartas a outras tantas autoras, umas vivas e outras não, que admiram ou com quem iniciar um diálogo”.