Paulo Lopes

09 de 06 de 2021, 16:44

Cultura

Dois amores como o primeiro

Na crónica de Patrícia Portela, viajamos pela programação desta semana. A diretora artística do Teatro Viriato fala-nos de “Cordyceps” que sobe já hoje (9 jun 2021) ao palco, mas também do lançamento mundial do novo álbum do baterista Gabriel Ferrandini.

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Encantarmo-nos à primeira vista com um artista e com a sua obra é algo tão raro como nos apaixonarmos ao primeiro olhar. Poder pegar nesse encanto e partilhá-lo com toda a gente é algo mágico que talvez só seja possível na arte, no amor é sabido que tal partilha termina com frequência em desconsolo ou frustração.





Esta semana temos o prazer, no Teatro Viriato, de partilhar convosco duas paixões que nos acertaram em cheio no coração à primeira vista.
A primeira paixão é o resultado de um 'blind date', como o são todos os espetáculos que ainda não estão criados e que são construídos após o nosso sim a um casamento às cegas nos nossos palcos. “Cordycepes”, o espetáculo que coproduzimos no âmbito da parceria com a rede 5 sentidos, e que apresentamos já nesta quarta-feira dia 9 de junho, esteve em residência artística no Teatro Viriato em abril passado.
Assistir ao workshop de Eduardo Molina, João Pedro Leal e Marco Mendonça e ver o entusiasmo e o envolvimento de todos os jovens participantes, fez-nos perceber quão importante é programar projetos que criam a oportunidade de pensarmos em fins como se fossem belos inícios.

A segunda paixão à primeira vista chama-se Gabriel Ferrandini. Apesar de ser um habitué dos circuitos de jazz viseenses e de ter já tocado várias vezes no Teatro Viriato, e apesar do reconhecido mérito internacional que tem enquanto um dos melhores bateristas de jazz da cena europeia, a nossa paixão à primeira vista pelo que nos vai oferecer este sábado, só aconteceu há uns meses no Festival Lisboa Soa. Foi na Estufa Fria que o vimos pela primeira vez em plena sintonia com o espaço e a torcer a frequência do tempo. Os pássaros acompanharam a viagem sonora enquanto o público nem se atreveu a respirar. Só não tremeu o chão. Foi nesse dia que ouvimos falar de um certo disco, de um certo corte com um percurso musical, de uma nova trajetória artística que já se desenhava por esses dias. Foi nesse momento que percebermos que um novo Ferrandini estava para nascer... e foi nesse mesmo primeiro momento que percebemos que queríamos fazer parte de um novo grande amor.
Convidámo-lo de imediato a dar o primeiro nó com o nosso público em Viseu. No Teatro Viriato. E ele disse que sim.

Dia 12 de junho Ferrandini lança mundialmente em Viseu o seu primeiro álbum a solo pela novíssima editora Canto, num concerto que é parte integrante do ciclo de música da Galeria Zé dos Bois, programado pelo nosso já parceiro Sérgio Hydalgo.
Haverá melhor programa para 9 de junho, vésperas de Camões, do que vir encantar-se com a poesia e sageza das utopias de “Cordycepes”, ou entrar num teatro para dizer sim a “Hair of the Dog” de Gabriel Ferrandini no dia 12 de junho em vésperas de Santo António, o santo casamenteiro?

Num teatro, há muitos amores como o primeiro.

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Patrícia Portela, diretora artística do Teatro Viriato