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11 de 03 de 2023, 08:27

Cultura

Ganso Manso e o desejo de levar mais cultura para o interior do país

Associação Cultural de Canas de Senhorim tem Leonor Keil como um dos rostos. "Vai não Vai" regressa no verão

Peça André

Fotógrafo: Igor Ferreira

Em Novembro de 2022, nasce em Canas de Senhorim, uma associação que pretende acrescentar uma visão cultural diferente à vila e à região. A Ganso Manso está a abrir as asas e promete voar

A ideia é “envolver a comunidade local através de ações participativas, apresentando práticas e perspectivas diferentes num trabalho de proximidade, proporcionando o encontro entre profissionais e não profissionais, a partilha inter-geracional entre pessoas de diferentes culturas e meios socio-culturais".
À frente desta associação cultural sem fins lucrativos está Leonor Keil. Nascida em Ponta Delgada, mas com fortes ligações a Canas de Senhorim, a bailarina de profissão comanda o navio mas, garante, “a ideia é que todos (os membros) contribuam com propostas quer seja de formação, eventos maiores, pontuais, residências”.
Além de Leonor, fazem parte da equipa Catarina Keil, Ivo Nicolau, Fernando Queiroz, Miguel Cardinho, Ana Patrícia Gonçalves, Paulo Mil Homens, Albino Moura e Francisca Rodrigues. Entre pessoas de Canas de Senhorim e simpatizantes da terra, “todos têm lugar”.

A Ganso Manso tem a sua sede nas instalações das Casas do Visconde num acordo de cedência de espaço, em troca dos serviços de apoio à produção das suas actividades artísticas e culturais.
Com idades compreendidas entre os 21 e os 60 anos, os membros da Ganso Manso apresentam uma diversidade não só ao nível etário como também nas áreas de formação. Sendo a vertente cultural a mais predominante onde cabe a História da Arte, Música, Performance, Cinema, Dança, Design, Artes Plásticas e Visuais e Produção artística, há até a Enfermagem no currículo dos membros da associação. 
A ideia surgiu em tempos de pandemia. Ao conviver com Catarina e Ivo durante esse período, Leonor Keil apercebeu-se da desilusão que assombrava o dia-a-dia daqueles e outros jovens e não permitia olhar para um futuro mais solarengo. Qual pedrada no charco, decidiram criar a associação com o principal objectivo de criar um festival: o "Vai Não Vai".
O nome surge com a ajuda do Sr. Luís, que trabalha com a família de Leonor Keil. “Vai Não Vai? Tem que ir, senão empurra-se. É uma expressão que se usa muito aqui”.
Foi graças à equipa da associação e à população de Canas de Senhorim que conseguiram realizar o festival, juntamente com um pequeno apoio da Câmara Municipal de Nelas. Para Leonor Keil, o apoio dos Canenses foi essencial: “à medida que se foi aproximando o acontecimento, houve pessoas, de facto, fundamentais e muito generosas. Apoiaram-nos em tudo. Foi muito bom, muito bonito”. 
Além da ajuda, a população mostrou-se bastante receptiva às actividades desenvolvidas no festival. Leonor confessa que “logo no primeiro dia, no jardim da Urgeiriça, houve pessoas que nos disseram que é incrível e incentivaram-nos a não desistir”.

O “Vai Não Vai” aconteceu no verão passado, nos dias 13 e 20 de Agosto. As múltiplas actividades desenvolvidas foram desde a música ao cinema, exposições, dança, entre muito mais.
Tudo sempre com o objectivo de “desconstruir ideias pré-concebidas”. Para a associação, a ideia não é tirar o lugar às festividades comummente realizadas. Num mês em que “os movimentos tradicionais, populares são mais vincados, a intenção é complementar”. A população pode estar “durante o dia e ver exposições e performances e à noite ir comer o seu caldo verde ao som de Maria Leal”. Segundo Leonor, “no fundo, o intuito é criar união”.

Para o futuro, está prevista mais uma edição do “Vai Não Vai”. Contudo, a Ganso Manso não quer ficar só por aí. No horizonte está, por exemplo, a reabilitação de um jardim. Sempre em diálogo com a população. Leonor sente a necessidade de os membros da associação “estarem nos sítios para os conhecer e não chegar aos locais, usar e ficar por aí”. Nesse sentido, está também pensada a ida a diferentes localidades limítrofes como Vale de Madeiros, Aguieira, entre outros. 
Ainda com pouco tempo de existência, a Ganso Manso tem ainda muito espaço para crescer. Com uma equipa multidisciplinar e em estreito diálogo com a população, a associação pretende acrescentar a Canas de Senhorim e à região uma oferta cultural diversa, muitas vezes restrita aos grandes centros urbanos.