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17 de 11 de 2021, 18:55

Cultura

O meu caminho vai dar a Montemuro

Patrícia Portela fala de uma semana que começou com uma emocionante homenagem a Jorge Salavisa, vai ter o regresso ao palco do Teatro Viriato do coreógrafo Paulo Ribeiro e que, subitamente, é interrompida com a notícia do falecimento da Paula Teixeira, do Teatro Regional de Montemuro.

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Começámos esta semana com uma homenagem a Jorge Salavisa, celebrando o seu primeiro aniversário sem a sua companhia. A festa foi maravilhosa, fazendo subir ao palco tantos artistas de gerações diferentes, e que hoje são diretores de companhias, de teatros ou mesmo vereadores da cultura, todos presentes para lhe dedicar as mais belas palavras. Acabámos todos com um “Choro feliz” tocado por Mário Laginha que ofereceu um concerto à cidade em honra deste nosso visionário e príncipe das artes em Portugal. Ao meu lado estava, para minha felicidade, Célia Fechas, atriz que muito admiro, que começou a sua carreira no Teatro Regional da Serra do Montemuro, uma das companhias mais emblemáticas da nossa região (com 30 anos de existência), e que divide a sua vida profissional entre produções independentes no Porto e a mui amada companhia belga Laika, conhecida pelos seus espetáculos que envolvem gastronomia e espaços improváveis e que, coincidentemente, estarão esta semana no projeto Lavrar o Mar com uma performance gastronómica e alquímica que emociona até as pedras da calçada sem proferir uma única palavra.
No final desta semana contamos ainda com o regresso do coreógrafo Paulo Ribeiro a Viseu com “Segunda de 2”, coreografia que por certo encherá a nossa sala de espectadores e de memórias de tantas obras que aqui foram germinadas, apresentadas pela primeira vez, e partilhadas com tanta gente cúmplice e amiga.
Porque junto estes espetáculos e estes artistas todos no início de uma crónica sobre atualidade cultural e programação do Teatro Viriato?
Porque acabo de saber pela voz da atriz Célia Fechas que a Paula Teixeira, produtora do Teatro Regional da Serra de Montemuro acaba de nos deixar com apenas 44 anos. O meu coração apertou e ligou todas estas pessoas numa só imagem. Mais precisamente num Hotel, de seu nome Tomilho, onde conheci a atriz Célia Fechas, debaixo de um chuveiro. “Hotel Tomilho” foi um espetáculo icónico dos Laika e do Teatro Regional da Serra de Montemuro com co-produção do Centro Cultural de Belém. Foi apresentadoe m Viseu, a convite do Teatro Viriato, nos Percursos, um projeto coordenado por dois druidas de seu nome Madalena Vitorino e Giacomo Scalisi que organizam agora o projeto Lavrar o Mar, em Aljezur. Laika é também a companhia com quem dialogávamos esta tarde, eles acabadinhos de chegar a Portugal, para desenharmos novos projetos de criação conjunta e para os desenvolvermos em Viseu durante os próximos anos no Teatro Viriato, em cumplicidade com a cidade e com a comunidade da região. À semelhança de “Hotel Tomilho”.
De repente, a geografia, mas também o passado e o futuro uniram-se para perder alguém para sempre.
Paramos um momento para respirar e para pensar no que nos trouxe aqui. O que nos faz ser o que somos hoje. E como tantos destes projetos passaram pelas mãos e pelas horas invisíveis de Paula Teixeira, incansável produtora que com tantos outros, conseguiu colocar de pé o impossível. E, acreditem, muitos destes projectos, mesmo depois de acontecerem, continuam a parecer impossíveis. No entanto, aconteceram, reunindo-nos, fazendo parte da nossa história pessoal, cultural, artística e colectiva. Esta que partilhamos hoje convosco.
Por isso esta crónica hoje é dedicada aos nossos parceiros de longa data, a toda a equipa do Teatro Regional da Serra de Montemuro. Não temos palavras para vos abraçar e, no entanto, é preciso escrever e dizer: Obrigada por tudo! Coragem para tudo! Que a tragédia nos ensine a não deixar para trás os projetos que ainda não conseguimos fazer já! Hoje, todos os caminhos vão dar a Montemuro, os da voz, os da memória e os do futuro. Pensamos em vós.


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Patrícia Portela, diretora artística do Teatro Viriato