Geral

15 de 09 de 2021, 17:21

Cultura

Ser e não estar? Estar e não ser?

"Este trimestre convocamos a sua presença - física, grande, pronta, decidida, de todo o ser - no nosso teatro. Queremos ouvir a plateia, aplaudindo, pateando, discordando, acrescentando, sempre, a tudo o que apresentamos."

Podcast Boca a Boca




Ser e não estar? Estar e não ser?
Por Patrícia Portela

Ser ou não ser,
Estar ou não estar
Ser mas não estar
Estar sem o ser.
Hoje estamos ausentes na presença, ligados à corrente, ao telemóvel, à plataforma digital que nos deixa cumprir o horário de trabalho no local da família e do lazer.
E estamos presentes na ausência, relembrados pelas cadeiras vazias em teatros e cinemas, em jantares e aniversários. Passamos o tempo a pensar que queríamos estar noutro lado, porque longe daqueles que amamos e que estão doentes. Distantes.

Ser e não estar
Estar sem o ser,
Será mais nobre aceitar o infortúnio, resignada.
Ou insurgir-me contra as provocações e os impropérios, contra as injustiças e as desigualdades?
Estaremos mais à altura quando vamos à luta
Ou quando, imóveis, decidimos pôr fim à angústia com o sono, empurrando a dor para o dia seguinte, até à morte?
Dormir, talvez sonhar, com a presença dos ausentes,
Com a ausência de um contágio que não convidámos a entrar no nosso estar.
Ser e não ser
Estar e não estar.

Este trimestre convocamos a sua presença - física, grande, pronta, decidida, de todo o ser - no nosso teatro. Queremos ouvir a plateia, aplaudindo, pateando, discordando, acrescentando, sempre, a tudo o que apresentamos.
Queremos saber a altura e o cheiro do nosso público, como se ri, como entra na sala, se sai a correr ou se fica para conhecer os artistas e dar a sua opinião.
Queremos conversar. Através da arte e através do encontro, antes e depois de cada espetáculo.
Porque são as cogitações que constroem os obstáculos e a melancolia, a vontade de escapar ao tumulto da existência através do repouso e da morte. Mas também são, na presença de outro, daquele que de nós difere, o que nos acorda, o que nos faz amenizar o cenário mais negro, o que nos dá coragem para enfrentar todos os males, a irrisão do mundo,
O agravo do opressor, a afronta do orgulhoso, o desprezo do amor, a insolência oficial, as dilações da lei, a impaciência dos tempos, o mérito imerecido dos traidores.
É o pensamento que nos acobarda perante a possibilidade da morte, e é esse medo, na companhia de outros que connosco partilham tantas ansiedades, o que nos conduz à possibilidade da ação.
O teatro é esse lugar onde todas as noites se está para se poder ser, e onde se é tanta coisa, quando não se pode estar em mais lado nenhum.

Ação, Palavra, Missão. É esta a nossa questão!


Consulte toda a programação desta nova temporada do Teatro Viriato nos locais habituais. E pode procurar-nos, queremos a vossa presença nas perguntas e nas respostas.

____
Patrícia Portela, diretora artística do Teatro Viriato