Filipa Jesus

09 de 04 de 2021, 12:44

Cultura

Teatro Viriato reabre com música e parcerias para procurar “o encontro”

O mês de abril é sinónimo de primavera na sala de teatro de Viseu. Ou talvez de música. Na realidade, assistimos a um pouco de tudo.

Fachada Teatro Viriato

O Teatro Viriato iniciou o segundo trimestre do ano ao som da 14.ª edição do Festival Internacional de Música da Primavera (FIMPViseu). Reabriu as portas físicas e prolongou-se pelos palcos digitais. Em breves cliques, assistimos a concertos sob as mais delicadas teclas, mas diferentes do habitual. E não poderia ser de outra forma pela nova realidade imposta pela pandemia. Este ano, sentimos o piano como nosso. Cada nota surge pelas mãos de artistas portugueses. E depois, no dia 10 de abril, prolonga-se para uma conversa sobre o intercâmbio cultural entre Lilit Stepanyan, Susanna Guylamiryan e Fernando Pinto do Amaral, com a moderação de Pedro Sousa Loureiro. E assim se dá início a uma nova programação a cheirar a primavera, marcada pela música e parcerias com outros agentes culturais.

Segue-se Ricardo Toscano, em parceria com o FIMPViseu, num formato ligeiramente diferente: em Double Trio. Acompanhado pelos contrabaixos de Demian Cabaud e de Carlos Barreto e as baterias de Marcos Cavaleiro e João Pereira, o músico atreve-se a flutuar por espaços desconhecidos. E não os teme. Acima de tudo, o tocar de um simples saxofone assemelha-se a um estranho universo de ritmos, que tende a cambalear entre a reflexão e a invenção de novos pensamentos musicais.

De 30 de abril a 1 de maio, imaginamos o futuro pelas palavras de João Pedro Leal, Eduardo Molina e Marco Mendonça. Pressentimos um certo questionar de tudo o que nos rodeia: que possibilidades há para o futuro?; como estará o mundo daqui a 20 anos?; numa realidade sem liberdade, qual seria a que deveríamos manter? Não há respostas certas, apenas uma oficina aberta a quem queira idealizar um espaço imaginário e delinear o sistema político e social perfeito.

Já com um pé em maio, o teatro, a dança, a leitura encenada, as palestras e performances regressam à sala de Viseu, incluindo algumas parcerias com Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI). Também a 1 de maio, entramos em Estado Vegetal guiados pelo monólogo de Manuela Infante. Começamos por nos associar à vida de uma planta e, de repente, parece que se criam condições para um diálogo entre seres humanos e plantas. As palavras de Manuela perseguem intensamente os pensamentos radicalistas de filósofos como Michael Marder e neurobiologistas como Stefano Mancuso. O porquê? Questionar os conceitos da inteligência vegetal, alma vegetativa ou comunicação vegetal, e a sua influência no próprio processo de criação.

E seguimos Noite Fora com leitura e conversas sobre teatro, com a coordenação Sónia Barbosa e a artista convidada, Janaína Leite. É um dos projetos em parceria com o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica.

A 7 de maio, o Teatro Viriato regressa às palestras e performances com Stabat Mater - em latim: a mãe estava lá - de Janaína Leite. Um trabalho cru, envolvido por uma luz ousada, que tende a recuar até à história da Virgem Maria. A partir do texto da filósofa e psicanalista Julia Kristeva, Janaína Leite associa temas historicamente inconciliáveis, como a maternidade e a sexualidade.

No dia a seguir, 8 de maio, a sala de espetáculos de Viseu irá flutuar pela conversa sobre populismo, entre o músico B Fachada e o jornalista e artista Rui Catalão.

A 12 de maio, as paredes do teatro vão falar sobre histórias de artistas de dança que por ali vão passar. Este projeto deu já a conhecer o trabalho e as influências de: Ana Borralho & João Galante, André Lepecki, Christine de Smedt, Clara Andermatt, Gil Mendo, Gustavo Ciríaco, Francisco Camacho, Jennifer Lacey, Jeroen Peeters, João Fiadeiro, entre outros.

E chegamos a meio do mês de maio, com um laboratório de criação teatral BB2021, do encenador Jorge Fraga. Em meses, o grupo reuniu-se para ler e conversar sobre as peças didáticas de Bertolt Brecht, como “A Decisão”, “A Exceção e a Regra”, “O que diz sim”, “O que diz não”, entre outras. O resultado dessa reflexão está para sair, em breve, nos palcos do Teatro Viriato.