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27 de 11 de 2021, 09:00

Desporto

Do Lusitano para os Estados Unidos da América. Maria Alagoa, a mulher do golo

Maria Alagoa conta, na primeira pessoa, a história que a levou do Lusitano de Vildemoinhos para a equipa norte-americana dos Florida State Seminoles

maria alagoa

Fotógrafo: D.R.

Maria Alagoa nasceu em Viseu e foi no Lusitano de Vildemoinhos que se mostrou, d euma forma mais abrangente, ao mundo do futebol. Com mais de 30 internacionalizações pelas camadas jovens da seleção nacional, a viseense de 18 anos mudou-se, na temporada passada, para os Estados Unidos, onde joga no Florida State Seminoles. A portuguesa tem brilhado, tendo sido campeã logo na primeira época. Foi nomeada para o onze do ano.

Começou a jogar no Lusitano Vildemoinhos. Como foi a entrada no clube? O futebol foi sempre a primeira opção ou tinha outros desportos em mente?
Eu não comecei no Lusitano, comecei no Dínamo, com oito ou nove anos. Nesse tempo, jogava só pela diversão, para fazer amigos e porque gostava de futebol, por isso os meus pais decidiram inscrever-me no Dínamo. À medida que fui crescendo, o futebol foi tomando uma dimensão maior na minha vida, e nos sub-14 mudei-me para o Repeses, a jogar só com rapazes. Depois fui para o Viseu 2001, e há três ou quatro anos mudámos todas para o Lusitano, e acho que foi a partir daí que eu comecei a levar o futebol mais a sério e a ter em mente um futuro, não só na escola, como também no futebol.

Também foi chamada às seleções distritais. Qual foi o peso e a importância que a participação nas mesmas tiveram na carreira?
A primeira vez que eu fui, não sabia bem o que aquilo era, mas foi incrível porque eram as melhores jogadoras de Viseu. Para uma menina de 11 anos era uma grande responsabilidade, e nós sentíamo-nos a representar Viseu. Acho que teve um peso em nós porque foi desde aí que começámos a ter em mente objetivos maiores e a sentir o que era representar um distrito. Acho que foi uma boa raiz para as seleções nacionais, para não chegarmos lá sem sabermos bem o que era. As seleções distritais ajudam no espírito de equipa e para lutar por um objetivo coletivo.

E sobre as seleções nacionais, onde tem mais de 30 internacionalizações nos escalões de formação, como foi a primeira chamada?
Por acaso lembro-me, foi em dezembro de 2017, para as sub-15, fui com mais duas colegas de equipa. Foi um dos melhores dias de sempre, porque não estávamos à espera, apesar de termos esse sonho. O primeiro estágio também foi muito bom, por ser a primeira vez que estivemos que estivemos juntas e que sentimos a responsabilidade de representar o país.

Esteve no europeu de sub-17, em 2019. Qual é a sensação de representar o país numa grande competição internacional? É diferente?
Sim, estamos a falar de um europeu histórico, porque foi a primeira vez que uma seleção sub-17 foi a um europeu, sentimos muito isso na pele. Também foi a primeira vez que estivemos tanto tempo fora, o que nos marcou muito a todas. Nunca tínhamos jogado para um europeu, nem com tanta gente no estádio, acho que foi um bom ponto de partida para a equipa.

Neste momento está a jogar nos Estados Unidos, ao serviço dos Florida State Seminoles. Como é que a equipa norte-americana chegou até si e como foi a mudança de Viseu para a Flórida?
De facto, é uma diferença enorme. Tudo começou por causa da escola, porque a minha família queria que eu continuasse com os estudos depois do 12º ano. Eu também tinha esse objetivo, mas também queria jogar ao mais alto nível. E começámos a ver as opções que haviam em Portugal, e concluímos que se calhar o esforço que eu teria de fazer para conciliar os estudos e o futebol seria muito grande. Então procurámos alternativas fora do país e chegámos aos Estados Unidos. Aqui dá para conciliar os dois, conseguir jogar ao mais alto nível e sermos tratadas como profissionais. Foi por eu querer dar continuação aos estudos que tinha feito até então que surgiu esta oportunidade e a curiosidade de ver como seria cá fora, porque é uma experiência nova em que nunca se perde nada. Mas sim, é uma mudança muito drástica.

E como correu a adaptação pessoal e profissional nos Estados Unidos?
Eu acho que correu bem. Estava com um pouco de medo antes de vir, mas as pessoas daqui fizeram a diferença. A simpatia com que as pessoas me receberam cá contribuiu para uma boa adaptação, que foi melhor do que eu pensava.


Qual é a importância do futebol universitário nos Estados Unidos?
Quanto à Major League Soccer, tal como no basquetebol, também existe um draft, onde se escolhem jogadoras da universidade para irem jogar na liga profissional. Aqui as pessoas adoram o futebol, nós temos mesmo fãs e muita gente a ver os jogos. Mas temos sempre em conta a escola, porque na nossa equipa temos de ter uma determinada média. Temos alguns objetivos relativos à escola, o que é bom porque puxa por nós nesse lado académico. Também temos as bolsas, que dependem da nossa prestação durante o ano, tanto letivo como desportivo.


Um dos pontos altos da estadia na Flórida foi aquele que foi considerado um golaço que marcou, em agosto, frente a Alabama, e que correu o mundo. Foi um momento de inspiração?
Sim, eu ainda não tenho palavras, não sei bem o que aconteceu. Acho que, essencialmente, foi porque as minhas colegas de equipa são, de facto, muito boas, e eu sinto-me motivada a jogar com elas, por isso é que chutei. Não sei, foi mesmo um momento de inspiração e ainda não tenho palavras para o descrever. Mas penso que provém da confiança com que eu estava, por foi no segundo jogo e queria mostrar que também conseguia fazer alguma coisa, e saiu o golo.

Para terminar, o que tem perspetivado para o futuro? Pensas manter-te pelos Estados Unidos ou imaginas regressar à Europa?
Por enquanto, o meu objetivo é acabar o curso de quatro anos e depois, se possível, jogar numa liga europeia. Mas não sei o que vai acontecer.