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Foi há quarenta anos que Carlos Lopes venceu a medalha de ouro na Maratona dos Jogos Olímpicos de Los Angeles. 12 de agosto de 1984 é uma das datas mais douradas do desporto português. Ao Jornal do Centro, o ouro olímpico explica que a vitória em solo americano “mexeu muito com as pessoas”. “Os portugueses reviram-se. Foi um momento de que os portugueses estavam a precisar. Não era só a glória. Era sim, dar uma nova imagem do que são os portugueses. Daquilo de que somos feitos”, elucida.
Carlos Lopes recorda que, naquela altura, os portugueses atravessavam dificuldades nos Estados Unidos e que o triunfo “deu uma outra visão sobre a qualidade dos portugueses”. “Mostrou que fazemos obra por onde passamos e às vezes não somos reconhecidos. Aquele momento deu a todos a dimensão de que precisavam. Representei a minha Pátria com carinho, amor e respeito, acima de tudo”, afirma em {#link;https://jornaldocentro.pt/noticias/diario/gostava-que-os-portugueses-guardassem-de-mim-a-imagem-de-um-homem-que-nunca-foi-vedeta;entrevista ao Jornal do Centro;link#}.
O primeiro ouro olímpico português garante que a medalha foi preparada ao detalhe. “Quando se faz duas horas, nove minutos e 21 segundos, que é recorde olímpico durante 24 anos, é uma marca. Não caiu do céu, não aconteceu por acaso. Foram anos de preparação e de consciência de que tinha capacidade para fazer o que fiz”, frisa.
40 anos volvidos, Carlos Lopes puxa a fita atrás para dizer que o momento de entrar no estádio isolado deu-lhe a perceção de que a vitória lhe ia sorrir no final. Antes disso viveu um episódio que não lhe sai da memória. “A única coisa de que me lembro é, depois do tiro de partida, quando fiz uma volta, disse à minha mulher, que estava a assistir, para ir para o estádio que já nos íamos encontrar”, lembra.
Depois, quando o hino português foi ouvido em todo o mundo, Carlos Lopes recorda-se de confidenciar à mulher que gostava de estar em Portugal a sentir o que os portugueses viviam naquele momento. “Eu não sou de grandes emoções, mas tenho consciência daquilo que faço”, sustenta.
De Viseu guarda as melhores recordações. “O Fontelo dava-me uma saúde e liberdade tremendas. Subir e descer esta floresta deu-me uma capacidade e alento para continuar a fazer aquilo que gostava: fugir dos outros. Eu quando estava mais cansado, ou quando as coisas não me estavam a correr bem, eu vinha de Lisboa para Viseu durante uma semana. E saía daqui novo”, garante. “O Fontelo era talismã e foi terapia para me libertar da pressão de Lisboa”, resume.
Saiu de Vildemoinhos, terra onde nasceu e cresceu, para Lisboa aos 17 anos. “Já tinha sofrido um bocadinho. A minha família era pobre e tínhamos de trabalhar. Éramos oito irmãos. A partir dos 13 anos comecei a trabalhar para ajudar. Numa primeira fase fui assistente de pedreiro. Depois estive numa mercearia e numa ourivesaria. Aos 16 anos fui serralheiro. Depois fui para Lisboa e fiz mais uma quantidade de coisas. É a minha história. O que é importante é que cada um se enquadre naquilo em que se sente melhor”, assinala. O Carlitos da família do ‘olho verde’, como era conhecido em Vildemoinhos, lembra as palavras da mãe quando vinha de Lisboa até Viseu. “Dizia-me sempre que me achava muito magrinho”, confidencia.
Do Sporting, clube do seu coração, Carlos Lopes não esquece Moniz Pereira, um dos treinadores que mais o marcou. “Passou-me os valores da amizade, do respeito e da pontualidade. A falta de pontualidade fere-me. Sempre fui pontual. Quando me fazem esperar fico danado. É uma questão de respeito”, defende. Quanto ao Lusitano de Vildemoinhos, clube onde se formou, deixa os maiores elogios. “Foi o clube que mais encaixou na minha forma de estar na vida. O Lusitano no meu tempo era feito de malta da terra. E nós brincávamos e jogávamos à bola todos juntos”, relembra.
Nos últimos meses, Carlos Lopes enfrentou um problema grave de saúde. Deste episódio, o ouro olímpico deixa a certeza de nunca ter desanimado. “Sempre quis que me dissessem a verdade. Porque assim sei encarar as coisas. Tenho a noção de que as pessoas se preocuparam comigo, mas também não espalhei o pânico. Eu nasci para vencer. Nós temos de acreditar na Ciência. Nada é feito sem ela. Nunca tive medo, nunca chorei. Nada”, assinala.
Nesta entrevista, Carlos Lopes assume acreditar no destino e revelou-se um homem de fé, sem grandes demonstrações públicas. “Quando partia para a prova, só pedia a Deus para me ajudar. Era algo muito interior. Nunca rezei”, reforça. Aos 77 anos, Carlos Lopes quer que os portugueses recordem dele um homem “tranquilo, que fez coisas, mas nunca foi vedeta e, acima de tudo, aceitei as regras do jogo”.