Ricardo Ferreira

12 de 08 de 2021, 13:00

Autárquicas'21

“Há muita gente que estava à espera e que dizia que vinha aí a brigada do reumático”

Fernando Ruas, tem 72 anos, dois filhos, três netos. Economista de profissão é atualmente deputado na Assembleia da República. Esteve 24 anos à frente da Câmara de Viseu. Durante metade desse tempo liderou também a Associação Nacional de Municípios Portugueses. De volta a luta política recusa um corte com o passado e com o executivo atual. Crítica o candidato do PS por só se ter mudado para Viseu porque quer “poder” e revela que deu uma nega ao CDS nestas eleições

Fernando Ruas

Fotógrafo: Igor Ferreira




Depois de 24 anos no poder o que mais pode dar de diferente a Viseu?
Posso completar muito das coisas que deixei equacionadas, muitas das quais concretizadas à espera de seguimento e posso dar também muitas coisas decorrentes da experiência que adquiri quando saí da Câmara. Quando sai não fiquei sentado no sofá e fui adquirindo conhecimentos que podem ser indispensáveis a quem quer voltar a ser líder no poder local.

Mas quer fazer um mandato igual aos anos em que esteve no executivo ou vai primar pela diferença?
Claro que não, a situação é totalmente diferente e naturalmente sei como adequar as decisões à nova realidade. Tomara eu fazer um mandato em termos de concretização como nos mandatos anteriores. Nós infraestruturamos o concelho nos mais diferentes campos. Tal como na vida normal, primeiro fizemos as estruturas fundamentais e agora vamos usá-las.

Mas o betão já acabou?
Não, de modo nenhum. Que não se pense com estas palavras que eu sou um adepto fervoroso do betão, o betão é um mal necessário. Se perguntar aos autarcas de freguesia seguramente que nas suas freguesias têm muitas necessidades de betão e alcatrão e, portanto, não podemos dizer que tudo tem que passar para o imaterial e que as obras físicas não são necessárias, de modo nenhum.

Quais são as obras físicas mais importantes para o concelho na sua leitura?
Há duas, entre outras, que não deixarei de fazer. O parque urbano da Aguieira que foi arranjado e determinado por nós e é para ser concluído convenientemente. É mais um pulmão para a cidade. Outro equipamento indispensável é o centro de artes que queremos construir.
Na malha rodoviária, queremos fazer o acesso à A25 pelo caçador e o prolongamento da segunda circular, não é a de Lisboa é esta, há quem se engane e vá lá pôr os cartazes, esta é aquela que deve levar de Travassós de Baixo a Rio de Loba e de Tondelinha à Colina Verde e esperamos que o Governo central faça a sua parte.

No domínio ambiental, queremos levar muito a sério a poluição visual que muitas vezes é determinada pela forma facilitista com que as operadoras se implementam na cidade. Vamos dizer que não aceitamos travessias no espaço público que não sejam devidamente enterradas, que é assim que fazem nos centros civilizados.

O que vai fazer em relação às obras de construção da cobertura no Mercado 2 de maio?
Farei como vou fazer em relação a todas as obras, vou analisar uma por uma se elas estiverem em condições de reversibilidade e eu não estiver de acordo com elas farei a reversão, se não estiverem em condições de reversibilidade não podemos andar a brincar com dinheiros públicos, vou acelerá-las.

Não vai cortar a eito na estratégia do atual executivo?
O mais normal é que levasse a eito todas as obras do anterior executivo, mas há muito mais coisas que me unem ao executivo anterior do que nos separam, agora são duas gestões diferentes.

A equipa que recrutou só tem um elemento do atual executivo que vai consigo? Porquê?
Isso é como quando um treinador chega a um clube e faz uma equipa de futebol, vê com a sua sensibilidade para cada setor quem é que escolhe.

Foi difícil construir esta equipa? É um corte com o passado?
Os meus colaboradores anteriores sabem os seus limites. Eu sei que há muita gente que estava à espera e que dizia que vinha aí a brigada do reumático. O único que pode estar incluído sou eu, mas mesmo assim eu peço meças de mostrar que há gente mais nova que tem muito mais cargas de reumatismo do que eu.

O que responde a quem diz que a sua candidatura de que é um regresso ao passado?
Se for um regresso ao passado para repetir o êxito das políticas que levei a cabo... Eu gostaria que fizesse tantas concretizações como fiz no passado, isso não me importava nada. Agora se o regresso ao passado tem uma carga negativa, para dizer que eu não acompanhei os novos tempos, tirem o cavalinho da chuva.

Tem 72 anos acha que a sua idade pode ser um fator contra ou a favor na hora de votar?
Vão muito mal aqueles que põem limites de idade às gerações, podia defender-me desta maneira: o nosso presidente da República é mais velho do que eu. Eu sei que nós temos um limite temporal, mas também não acho que seja retilíneo.

Sempre quis voltar à Câmara de Viseu quando deixou o poder há oito anos?
Não, estava arredado disso e foi a maior prenda que dei no agregado familiar, dizer que nunca mais voltava e que terminaria as minhas funções agora. Era isso que tinha definido…

Foi tudo precipitado pela morte de Almeida Henriques?
Claramente, mesmo depois do falecimento do Dr. Almeida Henriques tinha decidido que não.

Então porque mudou de ideias?
A ideia era dizer não e até tinha prometido isso em casa e depois fui convencido por muitos argumentos que me foram dados em Lisboa, pelo apoio das comissões de secção, distrital e nacional do PSD e o que mais pesou foi o número impressionante de mensagens que recebi dos viseenses a pedirem-me para regressar.

E a sua família ficou chateada consigo?
Não ficaram propriamente muito satisfeitos, neste momento estão resignados e apoiam-me incondicionalmente.

Que objetivos eleitorais é que o PSD e você traçaram para estas eleições?
Ganhar as eleições apenas.

Não há nenhuma margem?
Não, diria que espero que os viseenses me continuem a brindar como sempre brindaram anteriormente.

Como vê o PS ter ido buscar João Azevedo?
Não tenho nada a opor, nem é nada que me traga algum estado de alma. Agora que não haja nenhum aproveitamento para tentar arrebanhar pessoas que não são de Viseu e que vieram para cá. Há uma diferença grande entre as pessoas que não são de Viseu e que vieram para aqui trabalhar e que escolheram Viseu para fazer família, de quem veio à última da hora apenas para governar.

Foi abordado por algum partido para avançar coligado?
Não é segredo para ninguém, o CDS propôs-me uma coligação e eu achei que não era necessário. Sempre concorremos autonomamente, tenho grande respeito pelo CDS, mas achei que não era necessário, não era depois de tanto tempo a concorrer de forma autónoma que ia dar a ideia de que precisava de uma coligação.