Autor

Jorge Marques

26 de 11 de 2021, 19:12

Colunistas

A falta de cimento

Em geral, porque somos uma sociedade gerada à volta da televisão que acredita em tudo o que vê. Mas ver não é compreender!

É nas crises que há a oportunidade de limpar caminhos, tapar buracos e reparar as paredes que caíram por falta da qualidade do cimento. Foi a propósito do cimento que encontrei um pensamento interessante do famoso ator Al Pacino. Diz ele: A vida de uma pessoa não se resume, nem se define por um momento bom ou mau. A vida de uma pessoa não são tijolos…É o cimento que fica entre os tijolos…É aquilo que se vê menos. Porque me chamou a atenção? Porque o papel do cimento é unir, mas é o que se vê menos, enquanto a política separa e o que se vê mais.

Nos próximos meses esta política será substituída pelo poder da atração e apagará até os restos da ideologia, passará a viver de nomes e de caras. Vencerão aqueles que melhor representarem o papel da credibilidade, porque tudo se passará entre atores. Daí que nem sejam precisos programas, porque até as divergências e conflitos serão encenados.
Este tipo de política nunca será cimento, porque quer muito ser vista, mesmo sem ver! Mas na essência, no suporte do poder está a visão, a competência e não a celebridade. Esta incapacidade de ver e de se ver transferiu para o cidadão o poder da visão. Aquilo que ele observa é que o rei vai nu! Mas porque é que isto acontece?

Em geral, porque somos uma sociedade gerada à volta da televisão que acredita em tudo o que vê. Mas ver não é compreender! Por isso somos flagelados pela vulgaridade, como se isso fosse verdadeiramente importante. Neste tipo de configuração tornou-se tão difícil governar como protestar, porque não há nada para decidir, apenas existe encenação. Nos próximos meses vamos assistir a estas representações e continuar a ouvir o costume, a esquerda/direita, um anacronismo dos finais do Séc. XVIII; as sondagens, outro anacronismo vindo da Antiguidade, herança do povo Ioruba e da Religião Tradicional Africana. Era o oráculo, já trabalhava com algoritmos e chamava-se IFÁ. Parecemos um Antiquário! De novo só os mamarrachos que continuam a plantar-se em Viseu.

A solução do problema está no cimento do Al Pacino, ver bem, ser menos visto e unir para construir…