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27 de 11 de 2021, 16:29

Diário

Chega: militantes sem 'confiança', mas presentes no Congresso em Viseu

Líder da Distrital de Viseu diz que há "divisão" neste órgão partidário, mas espera que tudo seja sanado sem problemas. Moção para acabar com eleição de delegados chumbada após dividir congressistas

Congresso do chega

Fotógrafo: Igor Ferreira

Numa altura em que no Chega se apela ao fim de lutas internas e já reaprovados os estatutos do Partido, ainda há “espinhos” que não foram sanados e Viseu, onde está a decorrer o Congresso até domingo, é um dos exemplos.
Entre os mais de 500 delegados, está o líder da Distrital João Tilly e o vice-presidente Pedro Calheiros que ainda estão de “candeias às avessas”. O primeiro anunciou há cerca de um mês a retirada da confiança política ao segundo, que foi também o cabeça de lista por Viseu às autárquicas de 26 de setembro.
Uma “zanga” que levou, inclusive, à apresentação de duas listas para os delegados ao congresso.

João Tilly continua a afirmar que a confiança política foi retirada a Pedro Calheiros, mas espera agora que tudo fique sanado “sem problemas”.
“Vamos tentar resolver isto depois do congresso e depois das eleições. Há uma divisão na Distrital, é inegável, mas espero que tudo se resolve da melhor maneira e que depois das eleições tudo fique sanado. Neste momento não tem a confiança política distrital mas espero que as coisas se resolvam nos próximos meses”, disse o presidente deste órgão que se mostrou satisfeito pela realização da convenção máxima do Partido em Viseu e que, ao quarto congresso, é um dos mais participados de sempre.
Segundo João Tilly, Pedro Calheiros não foi suspenso porque o Conselho de Jurisdição Nacional não estava a funcionar fruto da decisão do Tribunal Constitucional que considerou que as alterações estatutárias introduzidas pelo partido no Congresso de Évora, em setembro de 2020, foram ilegais. “Tudo parou. Agora, no final do Congresso, veremos qual vai ser a decisão do Conselho, mas eu gostava que isto fosse sanado sem problemas nenhuns”, reiterou.

Também presente no Congresso, Pedro Calheiros disse, por seu lado, estar “completamente tranquilo”. “Não me foi retirada a confiança, foi anunciada a retirada de confiança de uma forma completamente ilegal. Houve um exagero numa tomada de posição”, acrescentou.
O militante aproveitou para frisar que “nem sempre as pessoas estão todas de acordo. Tem direito a opiniões diferentes e a pugnar por elas”, dando como “bom exemplo” a discussão que tinha surgido momentos antes sobre uma recomendação apresentada à Mesa e que pretendia acabar com a eleição dos delegados, que passariam a ser apenas indicados.
Viseu foi uma das distritais onde houve duas listas de delegados ao Congresso.

Durante a manhã, e ao segundo dia de trabalhos do Congresso do Chega, a recomendação apresentada pelo líder concelhio de Vila do Conde foi chumbada depois de dividir os cerca de 400 congressistas.
Luís Vilela queria alterar o artigo 15 do estatutos para substituir a eleição dos delegados ao congresso do partido pela "indicação" por parte da Direção Nacional, ficando para concelhias e distritais 10% dessas designações.

Esta proposta gerou polémica e dividiu mesmo os delegados, acabando chumbada com 257 votos contra, 97 abstenções e apenas 46 votos a favor. André Ventura e a Direção Nacional anunciaram que não iriam votar a recomendação.
Para justificar a proposta, Luis Vilela alegou que há militantes suspensos que continuam a questionar o partido e os seus dirigentes.
“É muito triste haver militantes que já foram suspensos e nesse período, nas redes sociais através de perfis falsos, continuarem a denegrir o partido e os seus dirigentes e integrarem agora a listra de delegados. É simplesmente lamentável”, começou por dizer António Luís Vilela .

O responsável pelo Chega em Vila do Conde alegou que “um partido que se candidata a governar Portugal não pode continuar em lutas internas com o único objetivo de vingança pessoal”.
“Isto leva-me a apresentar uma recomendação, que seria uma moção, que visa alterar o artigo 15, onde os delegados a congresso forem indicados, e não eleitos, indicados pela concelhia e distritais” e, neste sentido, “devem as concelhias indicar um número proporcional à convocatória do congresso”.
Os militantes reagiram, contestando de imediato a proposta e pedindo “democracia” e “liberdade”. Alguns, como João Leitão, lembrou que “quanto maior a participação dos militantes maior é a democracia e mais o partido cresce”.
Entre as intervenções, um militante pediu a palavra para dizer que concordava “com o que o camarada anterior disse”, mas a expressão provocou uma onda de protesto na sala que vaiou a palavra "camarada".

“Fui e sou paraquedista e é assim que falo, e se entenderem a palavra de outra forma, o problema não é meu”, justificou o militante o que acabou por acalmar a sala da Expocenter, em Viseu, onde decorre o IV congresso do Chega.
João Leitão voltou a intervir para classificar como “uma vergonha a recomendação ser apresentada por um militante que tem” na concelhia de que é responsável, Vila do Conde, “os amigos”, levando Luís Vilela a subir ao púlpito para "defender a honra".
“Quem não deve não teme, e olhos nos olhos estou aqui e não conheço esse senhor Leitão”, reagiu Luís Vilela, ouvindo da sala que sim, “conhece sim senhor”. A sala agitou-se com trocas de palavras e a Luís Vilela acabou por ser retirada a palavra.
Entre os votos a favor, uma militante argumentou que é “a favor da democracia”, mas quer sair do congresso “com a certeza de que quem não é eleito, deixe de fazer a vida negra a quem foi eleito democraticamente”.

A recomendação foi a votos, para ver se deveria ser enviada à direção do partido, que não votou, assim como o presidente André Ventura, e acabou por ser chumbada com 257 votos contra a recomendação, 97 abstenções e 46 votos a favor do documento.
A discussão encerrou a manhã de trabalho que também aprovou os novos estatutos do partido onde confere ao presidente, André Ventura, o poder de “indicar os candidatos em qualquer ato eleitoral” em que o partido participe, além de poder dissolver os órgãos nacionais.