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13 de 09 de 2023, 10:39

Cultura

Aquilino Ribeiro nasceu há 138 anos. Biblioteca de Sernancelhe desafia a ler o escritor

Autor foi um dos mais reconhecidos do seu tempo em Portugal e um dos mais sonantes oriundos da região de Viseu. Autarquias de Sernancelhe, Moimenta da Beira e Vila Nova de Paiva estão a organizar um programa de comemoração dos 60 anos da sua morte

Fotógrafo: Igor Ferreira

O escritor Aquilino Ribeiro faria 138 anos esta quarta-feira (13 de setembro). O autor foi um dos mais reconhecidos do seu tempo em Portugal e um dos mais sonantes oriundos da região de Viseu.

Foi a 13 de setembro de 1885 que Aquilino Ribeiro nasceu em Carregal, no concelho de Sernancelhe. Foi batizado em Vila Nova de Paiva e cresceu em Moimenta da Beira.

Figura opositora da monarquia e do Estado Novo, o autor protagonizou uma vasta carreira literária. Viveu durante vários anos em Lisboa, onde morreu a 27 de maio de 1963, aos 77 anos, e é considerado um dos grandes autores da língua e literatura portuguesa com honras de Panteão Nacional.

Para assinalar esta data, a Câmara de Sernancelhe anunciou que, durante esta semana, a Biblioteca Municipal vai ceder livros do escritor que sejam requisitados pelos utilizadores e oferecer um saco, caneta e o programa alusivo às comemorações dos 60 anos da sua morte.

Em Moimenta da Beira, a Fundação Aquilino Ribeiro, em Soutosa, recebe no próximo dia 1 de outubro a apresentação da reedição de 'A Via Sinuosa', livro prefaciado pelo antigo ministro da Cultura, João Soares. A ação integra o programa de homenagem ao escritor, promovido pelas autarquias dos concelhos onde Aquilino Ribeiro passou a vida.

O programa nacional pretende homenagear o autor e promover os territórios que fizeram parte da sua vida, estando para isso agendadas mais de duas dezenas de iniciativas que vão decorrer até maio de 2024.

A iniciativa envolve também a família de Aquilino Ribeiro, as Universidades de Aveiro e de Lisboa, a Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, o Panteão Nacional e a Bertrand Editora.

As ações têm lugar sobretudo em Moimenta da Beira (onde Aquilino viveu), Sernancelhe (onde nasceu), Vila Nova de Paiva (onde foi batizado), Paredes de Coura (onde viveu e escreveu o livro “Casa Grande de Romarigães”) e Lisboa (onde passou grande parte da sua vida).

O programa inclui reedições de livros com prefácios assinados por personalidades nacionais, bem como exposições fotográficas, momentos gastronómicos, conversas temáticas, concertos, jornadas de turismo literário, congressos, sessões evocativas, iniciativas dirigidas ao público infantojuvenil e inaugurações de espaços dedicados a Aquilino Ribeiro.

Um escritor que podia ter sido padre
Aquilino Ribeiro é autor de obras como “O Malhadinhas”, “Terras do Demo”, “Quando os Lobos Uivam”, “O Homem da Nave”, “Cinco Réis de Gente” e “Romance da Raposa”.

Ao todo, foram 69 os livros publicados em vida, além de um espólio ainda inédito. As obras de Aquilino Ribeiro abrangem a ficção, o jornalismo, a crónica, as memórias, o ensaio, estudos de etnologia e história, biografias, crítica literária, teatro, literatura infantil, polémicas e traduções-recriações do latim, grego, espanhol, francês e italiano.

A mãe queria que Aquilino fosse padre, mas este acabou por se enveredar no mundo dos livros. Proposto para o Prémio Nobel da Literatura, chegou a ser professor do ensino secundário.

Por iniciativa de sua mãe, que ambicionava fazê-lo sacerdote, frequenta o Seminário de Beja de onde acabaria por ser expulso em 1904, por incompatibilidade com o padre Manuel Ançã, um dos diretores da instituição. Em 1906, já a residir em Lisboa, inicia uma colaboração com o jornal republicano A Vanguarda.

No ano seguinte escreve, em parceria com José Ferreira da Silva, o conto “A Filha do Jardineiro”, obra onde enaltece o republicanismo, criticando figuras do regime. Entra para a Maçonaria através do Grande Oriente Lusitano e é acusado de anarquista. Evade-se da prisão em 1908, mantendo, em Lisboa, contactos com os regicidas.

Em 1910, vamos encontrá-lo em Paris, estudando na Faculdade de Letras da Sorbonne. Aquando da implantação da República, a 5 de outubro, Aquilino visita Lisboa, mas regressa a Paris, onde se havia enamorado pela alemã Grete Tiedemann, com quem casaria mais tarde, após uma breve passagem pela Alemanha.

De regresso a Paris, nasce, nesta cidade, em 1914, o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Ribeiro. Nesse mesmo ano escreve “Jardim das Tormentas”. O surgimento da Primeira Guerra Mundial obriga Aquilino e a sua família a mudar-se para Portugal.

Apesar de não ter concluído a licenciatura em Sorbonne, é colocado como professor no Liceu Camões, onde permanecerá três anos. Em 1918, publica “A Via Sinuosa”, entrando no ano seguinte para a Biblioteca Nacional de Portugal.

Após a sua primeira esposa ter falecido, casa-se em 1929 na cidade de Paris com Jerónima Dantas Machado. O filho de ambos, Aquilino Ribeiro Machado, foi o 60.º presidente da Câmara Municipal de Lisboa de 1977 a 1979.

Aquilino Ribeiro foi considerado “persona non grata” pelo regime do Estado Novo. Quando morreu, a 27 de maio de 1963, a censura proíbe os jornais de publicar notícias sobre as inúmeras homenagens que lhe eram prestadas. A 14 de abril de 1982, foi agraciado a título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.

Em 2007, a Assembleia da República decidiu passar os seus restos mortais para o Panteão Nacional.

Em Viseu, existe na Rua Formosa um monumento dedicado em homenagem ao escritor. O Parque da Cidade é também dedicado ao autor.