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23 de 09 de 2023, 09:30

Diário

Estamos a anos-luz de atingir a neutralidade climática que a União Europeia impõe para 2050

Atrasos na linha da Beira Alta e novas ligações ferroviárias até 2050. Para Manuela Antunes, ativista e coordenadora local do Bloco de Esquerda, a rede ferroviária é um nada. O distrito de Viseu está numa ilha rodeada de estradas portajadas e sem alternativa a um transporte sustentável e seguro. Não há transporte público coletivo que sirva o seu público e quando se fala na neutralidade climática em 2050, estamos a anos-luz dos objetivos. Manuela Antunes defende preços mais competitivos e um passe único acessível

Fotógrafo: Igor Ferreira

Um relatório da Greenpeace agora divulgado diz que Portugal aumentou a sua rede rodoviária em 2.378 quilómetros (346%), entre 1995 e 2018, enquanto a ferroviária diminuiu 18%. O que é que isto indica das sucessivas opções políticas relativamente à mobilidade?
É incentivar ao máximo o consumo de combustíveis fósseis. Por partes, nem toda a gente tem dinheiro para comprar um carro elétrico e mesmo a questão da substituição do carro elétrico tem outras consequências ambientais porque se de repente toda agente desatar a comprar elétricos isto seria catastrófico. As minas de lítio iriam destruir populações inteiras.
Ora, o que eu acho incrível é toda esta conversa à volta de investimento, e nunca houve tanto dinheiro como agora, mas a rede ferroviária em Portugal é uma miséria total. Se olharmos para o distrito de Viseu, ou até mesmo as zonas do interior, estamos completamente fechadas com estradas portajadas, vivemos numa ilha rodeada de portagens. As estradas surgiram para corrigir o desequilíbrio em termos de coesão territorial e isso não aconteceu. A acrescentar a isto, mais um atraso nas obras da linha da Beira Alta. A questão do transporte público em termos de que sirva a vida das pessoas não existe. E quando digo público não estou a dizer que tem de ser na alçada do Estado, seja privado ou público não há uma rede de transportes que permita às pessoas fazer as viagens coletivamente e a preços mais confortáveis e combatendo assim também a utilização do carro individual que está cada vez mais potenciada. Eu acho que quando existir uma rede ferroviária – acredito que daqui a uns anos, mas não sei se já vou ver isso – não sei se as pessoas vão voltar a andar de comboio. Elas estão já tão habituadas ao carro porque a suas vidas são os horários, o trabalho, as escolas… eu nem sei realmente se quando chegarmos lá isso vai combater alguma coisa em termos climáticos. Fica muito difícil conquistar o público para outras alternativas de transporte a não ser que os preços sejam muito competitivos.

Fala-se na ligação Aveiro/ Viseu/Vilar Formoso até 2050. Mas a região já perdeu décadas?
Perderam-se mesmo décadas e essas décadas vieram atrasar a vida das pessoas quer em termos pessoais, quer ambientais. Enquanto não existir essa linha era importante criar (e depois das obras da Linha da Beira Alta terminarem) um transporte que pudesse fazer a ligação entre Mangualde e Aveiro para que as pessoas possam viajar de comboio, isto com autocarros mais pequenos. Seria importante até para as pessoas perceberem que não precisam do seu carro e têm esta ligação a passar por Viseu/ Mangualde e poder ir a Aveiro apanhar o seu comboio para o resto do país. Era importante numa fase de transição até ter a tal ligação em 2050. Isto sim, era criar situações alternativas reais. Outra coisa importante é a questão da criação do passe único acessível que dê para circular no país todo de comboio. Este tem de ser o passo a seguir depois das linhas estarem todas requalificadas e construídas. Depois de termos uma boa rede viária se forem com preços exorbitantes não vai ser para toda a gente.


(Para ler na íntegra na edição do Jornal do Centro)