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12 de 11 de 2023, 11:01

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José de Almeida e Silva, o pintor realista das Beiras

Não é preciso ser particularmente sensível à obra de Almeida e Silva para sentir cada traço a ser transportado para a realidade. A naturalidade de cada movimento assemelha-se a uma leve rajada de vento que, por acaso, ali repousou


José de Almeida e Silva nasceu na cidade de Viriato a 15 de novembro de 1864, no seio de uma família da pequena burguesia viseense. Nos seus primeiros anos de idade, envergou pela típica vida de comerciante na mercearia do seu pai. Os tempos começaram a mudar e de que maneira. Aos 18 anos, descobriu-se a sua veia artística pela mão de um conterrâneo abastado, José Ribeiro de Carvalho e Silva, que lhe suportou os custos do seu percurso académico na Real Academia de Belas Artes do Porto.
Mais tarde, lançaram-se os primeiros quadros de Almeida e Silva perfeitamente enquadrados nas vertentes artísticas do Realismo e do Naturalismo. Ao observar, ouve-se a pintura em voz alta, cambaleia-se entre os relevos de cada rasgo de tinta e depois silenciam-se os sussurros dos contornos que ali permanecem.
Ao concluir os estudos nas Belas Artes do Porto, o pintor regressa ao coração de Portugal. Dedica-se à ilustração, pintura e também ao ensino na Escola Industrial Emídio Navarro, em Viseu.
Além disso, Almeida e Silva foi também escritor. Desafiou-se a traduzir a pintura em obras literárias: “Quinze dias de estudo na Exposição dos Primitivos Portuguêses: a Escola de Pintura de Viseu, seu início e ramificações”, na sequência da Exposição do Mundo Português e “Pergaminhos, contos e fantasias históricas”, na qual distingue a identidade de Viseu.
Faleceu em 1945. Hoje, a arte de José Almeida e Silva entoa em cada recanto da cidade de Viriato, principalmente no Paços do Concelho de Viseu.

O pintor captado na sua própria pintura

Foi autor de dezenas de obras, com várias condecorações destacando-se a medalha de ouro pela obra intitulada de “Hortaliceiras”, atribuída pela Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1939. Falamos de um pintor, ilustrador, escultor, humorista e escritor com uma obra extensa sem um fim bem nítido. É difícil descrever cada obra ao mais ínfimo detalhe. Poderemos falar de duas vendedeiras, gerações separadas, a exaustão delas e a aspereza das suas mãos - “Hortaliceiras”.
Conhecemos a realidade do Mercado 2 de Maio, em Viseu, através do olhar de Almeida de Silva. Passamos os olhos por inúmeros elementos que se complementam numa única realidade - um dia comum de trabalho do típico comerciante viseense.
Além disso, o pintor faz questão de lançar um autorretrato, pintado quando tinha 68 anos. Na verdade, põe em cena uma obra que nunca deixou de equacionar, ou mesmo de marcar, o lugar de quem o vê como artista. Conhecemos a sua maturidade artística e como se vê a si próprio.