Diogo Paredes

14 de 11 de 2023, 14:00

Cultura

FINTA incorpora pintura, malabarismo e marionetas numa edição que conta com uma homenagem a Caio Fernando Abreu

O Festival Internacional de Teatro da ACERT vai contar com oito companhias de cinco países diferentes. Além de sessões tradicionais de teatro, haverá ainda espaço para “Aperitivos Teatrais”, Cafés-Concerto e atividades em escolas e centros de dia

Fotógrafo: ACERT

Entre os dias 15 e 18 de novembro, Tondela vai tornar-se na capital do teatro e das artes teatrais em Portugal. A 29ª edição do Festival Internacional de Teatro da ACERT (FINTA) junta oito companhias de cinco países diferentes ao longo de quatro dias.

Portugal, Espanha, Alemanha, Brasil ou até mesmo Israel. São vários os países que estarão representados nesta edição, que conta com a estreia de uma peça da Companhia Teatro da Terra. Do lado de Israel, a atriz de Tel-Aviv, Michal Svironi, vai combinar pintura e teatro na peça “Carte Blanche”. “A artista nos seus espetáculos procura sempre criar novas linguagens. Para este em particular, criou uma nova linguagem cénica a que chama de paintheatre”, explicou ao Jornal do Centro a responsável pela programação desta edição do FINTA, Sandra Santos.

“Ao longo do espetáculo, vamos ver que a artista vai pintando ao mesmo tempo que nos vai contando a história do espetáculo, que neste caso é uma história sobre as ligações familiares e a reflexão sobre o que é que nos é deixado pelos nossos antepassados e o que é que nós iremos deixar”, contou. A artista israelita irá ainda dirigir o workshop “The Present Is a Present”. Esta formação tem como público-alvo todas as idades e as pessoas são convidadas a trabalhar a presença do criador no palco e no dia a dia. Neste workshop, a respiração, o movimento corporal, o som, a poesia e as palavras serão abordados pela artista.

No dia 18 de novembro, será a companhia espanhola Engruna Teatre a apresentar um espetáculo para as famílias, intitulado “Sopa de Piedras”. Esta peça será também apresentada, durante quatro sessões, para escolas do concelho, onde irá abordar um conto tradicional que conta a história de uma menina refugiada, que é representada na peça por uma marioneta. “É o nosso dever enquanto programadores e artistas falar de temas que nos preocupam a todos e que todos os ias vemos através dos noticiários, mas que também devemos refletir de uma outra forma”, disse ainda a responsável pela programação.

“Acabou por ser por isso a razão de trazermos espetáculos como o Sopa de Piedra ou As Fillas Bravas e o Mito de Cassandra, que também abordam a questão das mudanças climáticas e a urgência que é necessária para que nós passemos a tomar uma atuação diferente no que diz respeito a isso”, contou. Esta última peça foi criada pela Companhia Chévere, de Espanha, em parceira com a Universidade de Santiago de Compostela, e explora além das alterações climáticas, temas como o empoderamento feminino, numa mistura entre o teatro clássico grego e a música tradicional galega.

Do Brasil, chega o espetáculo “Caio do Céu”, da Companhia de Solos & Bem Acompanhados. Esta peça é inspirada no trabalho do jornalista, dramaturgo e escritor Caio Fernando Abreu e explora as questões da alma humana, da vida e da própria morte. Esta peça foi recomendada à ACERT por um artista brasileiro que tinha já atuado uma outra edição do FINTA. Ao entrar em contacto com a companhia e após ver uma apresentação da peça, Sandra achou que seria interessante para o público do FINTA dar a conhecer este autor. Além disso, explicou, o próprio espetáculo enquadra-se naquilo que são as linhas do festival.

“Temos uma oferta de espetáculos diferentes e que sejam multidisciplinares, nos quais o teatro se cruza com outras áreas artísticas. Neste caso, o espetáculo tem várias camadas”, disse a responsável do FINTA. “Por um lado, é um espetáculo de teatro, mas por outro lado tem música, tem vídeo, fala de um escritor brasileiro muito conhecido e que tem uma poética bastante vasta. Achámos que era um espetáculo muito rico em termos das várias camadas que tem e que seria interessante para o público português ter a oportunidade de conhecer não só o autor, como também de ver o espetáculo.”

Esta 29ª edição do FINTA não contará apenas com sessões mais tradicionais de artes cénicas. A companhia Tosta Mista regressa ao festival para a realização de performances de artes circenses como o clown e a manipulação de objetos. Durante a tarde, as demonstrações serão realizadas nos centros de dia do concelho de Tondela. O artista responsável pelos espetáculos é de origem alemã, embora “esteja em Portugal há alguns anos, sendo que continua a fazer também espetáculos na Alemanha”. O Tosta Mista é ao mesmo tempo uma personagem que tem a capacidade de interagir muito facilmente como público “através do improviso, do humor, trabalhando a sua linguagem principal que tem que ver com o circo e com o malabarismo”. À noite, a companhia realiza ainda pequenos excertos de apresentações, designadas de “Aperitivos Teatrais”.

“Nada melhor do que ter estes momentos, os aperitivos teatrais, e também os cafés-teatro. De alguma forma ajudam a que quem ainda tem algum receio de ver um espetáculo poder de uma forma mais leve e não tão comprometida assistir. Acabam até por perceber que se calhar até gostavam de ver espetáculos e quem sabe, talvez assim consigam passar a ter essa vontade de vir assistir com frequência a espetáculos de teatro”, concluiu Sandra Santos.