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16 de 11 de 2023, 09:30

Cultura

Universo de Aquilino Ribeiro reúne especialistas em Sernancelhe

Auditório Municipal de Sernancelhe recebe esta sexta-feira e sábado o Congresso Aquiliniano. Vida e obra do escritor mais célebre da região de Viseu vai estar em destaque no ano em que se comemora o 60.º aniversário da sua morte

Fotógrafo: D.R./Arquivo

O Auditório Municipal de Sernancelhe recebe esta sexta-feira e sábado (17 e 18 de novembro) o Congresso Aquiliniano, que vai reunir vários especialistas a debater sobre a vida e a obra de Aquilino Ribeiro.

O evento, organizado pela Câmara de Sernancelhe e pela Universidade de Aveiro, tem como mote “Académicos, Escritores, Pintores, Políticos e Santos no Universo Aquiliniano” e integra o programa de comemorações dos 60 anos da morte do escritor.

A autarquia de Sernancelhe destacou que o congresso promete ser “um importante fórum de reflexão em torno de Aquilino Ribeiro”, contando com académicos que abordarão a vida e obra do escritor nos painéis “Arte, História e Literatura na Obra de Aquilino Ribeiro” e “O Direito, a Matemática e a Religião na Obra de Aquilino Ribeiro”.

Após a abertura, marcada para as 18h00 de sexta-feira, os jornalistas António Valdemar e Henrique Monteiro falarão sobre “Camões visto por Aquilino” e sobre a vida do autor de “Terras do Demo”, respetivamente.

O Conservatório Regional de Música de Ferreirim ficará responsável por dois momentos musicais e, no final, haverá um magusto aquiliniano dinamizado pelos alunos da Escola Profissional de Sernancelhe.

Já no sábado de manhã, a docente da Universidade de Aveiro, Maria Eugénia Pereira, é a primeira especialista a intervir com uma intervenção centrada em Aquilino Ribeiro e no escritor francês Anatole France, seguida da palestra “Aquilino Ribeiro e Leal da Câmara: a inquietude dos olhares” de Anabela Oliveira, professora da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Representando o Instituto Politécnico de Viseu, o professor Fernando Alexandre fará uma análise aos “gradientes sensoriais e franciscanismo peculiar em Humildade Gloriosa”, um dos vários livros de Aquilino.

Paulo Neto, diretor da revista Aquilino, encerra os trabalhos da manhã de sábado com a reflexão “Um livre-pensador num universo de fósseis: Anastácio da Cunha. O Lente Penitenciado, de Aquilino Ribeiro”.

À tarde, falam Maria de Fátima Marinho, da Universidade de Porto, com o tema “Aquilino e o “génio da desgraça” e José Cândido de Oliveira Martins, da Universidade Católica, com “Aquilino Ribeiro e o método da crítica histórico-literária em Camões, Camilo, Eça e Alguns Mais”.

Segue-se Celina Arroz, da Universidade Nova de Lisboa, com “Leal da Câmara: O artista plástico e caricaturista na escrita e vida de Aquilino Ribeiro”. O encerramento às 17h30 caberá a Maria Eugénia Pereira, em representação da Universidade de Aveiro.

O congresso é gratuito, aberto a professores e também a toda a comunidade. Aquilino Ribeiro foi um dos mais reconhecidos do seu tempo em Portugal e um dos mais sonantes oriundos da região de Viseu. Figura opositora da monarquia e do Estado Novo, o autor protagonizou uma vasta carreira literária e é considerado um dos grandes autores da língua e literatura portuguesa com honras de Panteão Nacional.

Um escritor que podia ter sido padre
Aquilino Ribeiro é autor de obras como “O Malhadinhas”, “Terras do Demo”, “Quando os Lobos Uivam”, “O Homem da Nave”, “Cinco Réis de Gente” e “Romance da Raposa”.

Ao todo, foram 69 os livros publicados em vida, além de um espólio ainda inédito. As obras de Aquilino Ribeiro abrangem a ficção, o jornalismo, a crónica, as memórias, o ensaio, estudos de etnologia e história, biografias, crítica literária, teatro, literatura infantil, polémicas e traduções-recriações do latim, grego, espanhol, francês e italiano.

Foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura e chegou a ser professor do ensino secundário. A mãe queria que Aquilino fosse padre, mas este acabou por se enveredar no mundo dos livros.

Frequentou o Seminário de Beja, de onde acabaria por ser expulso em 1904, por incompatibilidade com o padre Manuel Ançã, um dos diretores da instituição. Em 1906, já a residir em Lisboa, inicia uma colaboração com o jornal republicano A Vanguarda.

No ano seguinte escreve, em parceria com José Ferreira da Silva, o conto “A Filha do Jardineiro”, obra onde enaltece o republicanismo, criticando figuras do regime. Entra para a Maçonaria através do Grande Oriente Lusitano e é acusado de anarquista. Foge da prisão em 1908, mantendo, em Lisboa, contactos com os regicidas.

Em 1910, está em Paris, estudando na Faculdade de Letras da Sorbonne. Aquando da implantação da República, a 5 de outubro, Aquilino visita Lisboa, mas regressa a Paris, onde se havia enamorado pela alemã Grete Tiedemann, com quem casaria mais tarde, após uma breve passagem pela Alemanha.

De regresso a Paris, nasce, nesta cidade, em 1914, o seu primeiro filho, Aníbal Aquilino Ribeiro. Nesse mesmo ano escreve “Jardim das Tormentas”. O surgimento da Primeira Guerra Mundial obriga Aquilino e a sua família a mudar-se para Portugal.

Apesar de não ter concluído a licenciatura em Sorbonne, é colocado como professor no Liceu Camões, onde permanecerá três anos. Em 1918, publica “A Via Sinuosa”, entrando no ano seguinte para a Biblioteca Nacional de Portugal.

Após a sua primeira esposa ter falecido, casa-se em 1929 na cidade de Paris com Jerónima Dantas Machado. O filho de ambos, Aquilino Ribeiro Machado, foi presidente da Câmara de Lisboa de 1977 a 1979.

Aquilino Ribeiro foi considerado “persona non grata” pelo regime do Estado Novo. Quando morreu, a 27 de maio de 1963, a censura proíbe os jornais de publicar notícias sobre as inúmeras homenagens que lhe eram prestadas. A 14 de abril de 1982, foi agraciado a título póstumo com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.

Em 2007, a Assembleia da República decidiu passar os seus restos mortais para o Panteão Nacional. Em Viseu, existe na Rua Formosa um monumento dedicado em homenagem ao escritor e o Parque da Cidade é também dedicado ao autor.