Autor

António Vilarigues

13 de 03 de 2023, 11:07

Colunistas

A actual degradação da rede de cuidados primários do distrito tem responsáveis

Faltam médicos, enfermeiros, pessoal administrativo e pessoal auxiliar

Em Outubro de 2006, o distrito era servido por uma rede de cuidados primários constituída por 26 centros de saúde, com 70 extensões ou postos de saúde. Hoje a situação é substancialmente diferente para pior.

Faltam médicos, enfermeiros, pessoal administrativo e pessoal auxiliar. Encerraram valências hospitalares, blocos de partos, urgências nocturnas, SAP’s, extensões de saúde, postos médicos. Continua por implementar a instalação no Hospital de S. Teotónio do Centro Oncológico e a rápida conclusão da nova zona de Urgências. Mantém-se inalterável a situação do Hospital de Lamego sem a maternidade, a urgência cirúrgica, as camas de internamento, o laboratório de análises e o licenciamento do heliporto, valências perdidas ao longo de anos, que em muito prejudicaram as populações do norte do distrito.

No sector da saúde pública há carência de médicos, enfermeiros e técnicos de saúde, obrigando a acumulação de mais de um concelho por médico, havendo mesmo concelhos sem atribuição de médicos.
Os Centros de Saúde estão subaproveitados e a perspectiva anunciada é do encerramento de todas as extensões de saúde. Milhares de pessoas estão sem médico de família e há consultas com listas de espera que demoram meses. Prosseguem os ataques às carreiras profissionais e aos próprios profissionais.
Este era o retrato feito em Maio 2022.
Como chegámos aqui? Factos: no ano lectivo iniciado em 1979, data da criação do SNS, o numerus clausus global em Medicina era de 805 vagas. Este número foi reduzido de forma significativa nos anos seguintes, até um mínimo de 190(!!!) em 1986. Registou-se depois, um crescimento muito lento, mas sem repor os valores iniciais.
Sublinhe-se que se o número de vagas de acesso se tivesse mantido ao nível do praticado em 1979/80, entre este ano letivo e o de 2000/01 se teriam formado mais cerca de 7 000 médicos. O que teria evitado as dificuldades que resultaram do excesso de redução do número de alunos de Medicina.

Estamos perante uma falta clara de planeamento dos sucessivos governos de direita de PS e PSD, com ou sem o CDS. A que acresce o papel tutelar das orientações emanadas todos estes anos da Ordem dos Médicos. Com consequências graves para os utentes, em particular os que vivem no interior como é o caso do nosso distrito.
Existe, não se pode negar, demasiada incompetência para ser verdadeira. Trata-se, isso sim, de opções deliberadas de destruição do Serviço Nacional de Saúde, transferindo para os grandes grupos monopolistas da saúde a prestação de cuidados com o respectivo financiamento público.
No distrito de Viseu, face há realidade descrita acima, as populações têm-se levantado em particular em defesa dos seus Centros e Extensões de Saúde. Criando comissões de utentes. Promovendo abaixa-assinados com centenas e milhares de assinaturas. Organizando plenários e manifestações. Deslocando-se em massa à sede da ARS Centro, em Coimbra.
Foi assim em Cinfães, Lamego, Mangualde, Nelas, Oliveira de Frades, Penalva do Castelo, Resende , Santa Comba Dão, São João da Pesqueira, São Pedro do Sul, Sátão, Tondela, Viseu.
Com significativas e importantes vitórias desde a construção de um novo Centro de Saúde, ao não encerramento de Extensões. Desde a manutenção dos horários de atendimento, até há reposição do número de médicos e de enfermeiros.

Hoje vivem-se de novo gravíssimos problemas nos Cuidados de Saúde Primários. E de novo as populações se organizam. Como foi noticiado pelo «Jornal do Centro», reduziu-se, ou liquidou-se(!!!), o horário de atendimento aos fins-de-semana e feriados em Mangualde, Penalva do Castelo, Sátão e Vila Nova de Paiva. Ao contrário do que foi prometido, não se implementou em Mangualde o chamado Serviço de Atendimento Complementar (SAC). Faltam médicos nos quatro Centros. Sobrecarregam-se quer as urgências do Hospital de Viseu, quer o Serviço de Urgência Básica (SUB) de Moimenta da Beira.

A indignação das populações destes concelhos está bem expressa no acolhimento do comunicado conjunto e no facto de em apenas 5 dias se ter ultrapassado as mil assinaturas do abaixo-assinado promovido pelas respectivas comissões de utentes. De salientar o apoio expresso de vários autarcas.
Nas próximas semanas o processo de recolha de assinaturas vai continuar.