Filipa Jesus

16 de 04 de 2021, 16:13

Diário

A nova luz que ilumina os altares da Igreja do Mosteiro das Chagas

A Misericórdia de Lamego quer abrir a Igreja das Chagas à comunidade, depois estar encerrada cerca de três anos para trabalhos de restauro

igreja do mosteiro das chagas lamego

Pouco passava das 10h00 quando chegámos a Lamego. De frente para o Jardim da República, a fazer esquina com o Liceu Nacional de Latino Coelho, está a imponente Igreja do Mosteiro das Chagas, um edifício que soma mais de 500 anos. Ali, começa a sentir-se alguma mudança. Daquelas que nos arrepiam e nos levam até ao passado. Estamos no século XXI e, de repente, já nos encontramos numa das principais artérias da cidade de Lamego, adornada com os mais belos traços do século XVI. Erguem-se três cruzes, a representar o Calvário, duas colunas jónicas e um arco a acompanhar. Na verdade, amparam o brasão do fundador do Convento das Chagas, D. António Teles de Menezes. Analisámos cada pormenor, mesmo que as memórias se escondem atrás do desgaste, impedindo que saibamos a história completa. Depois de cerca de três anos em fase restauro, a Igreja das Chagas da Santa Casa da Misericórdia de Lamego quer regressar à comunidade.

“Um altar é o São João Evangelista, outro é o São João Batista, outro é a Senhora da Piedade, outro é o altar das Almas e o outro é de Santo António, mais ao fundo”, começa por nos descrever Manuel da Silva, sacristão da igreja há cerca de 13 anos. Conversámos pouco, mas sabemos que as peças de que mais gosta são as imagens de Nossa Senhora e de Cristo Crucificado, a arejar toda a moldura do altar principal. “São mais belos, muitas pessoas dizem que é de um valor inestimável”, continua o sacristão, enquanto passeia o olhar pelos cinco altares que resguardam as paredes das Chagas.

Em instantes, perdemo-nos no centro das pinturas do teto. Em tons avermelhados, as figuras que o rodeiam chegam a confundir-se entre si. Sente-se a arte a pairar sobre toda a igreja e o altar a puxar-nos o olhar. Cravejado em talha de ouro, ampara também a pedra tumular do fundador. “O objetivo foi instalar aqui as freiras clarissas, que pertencem à mesma família dos franciscanos”, conta o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lamego, António Carreira, frisando que se trata de património privado da instituição.

“É uma jóia da coroa da Santa Casa da Misericórdia de Lamego”, lança. O orgulho invade-lhe o olhar e não hesita: “é das Igrejas mais bonitas da cidade e até da região”.

Foi confiscada no tempo da 1.ª República, doada à Câmara Municipal de Lamego e depois à Misericórdia de Lamego, “fruto de um incêndio que ocorreu numa igreja, na Rua de Almacave”. Para além de eventos de cariz cultural, nomeadamente, concertos de música clássica e erudita, está na altura dos lamecenses regressarem a uma das igrejas mais antigas da região.

"Queremos que a Igreja das Chagas se torne ainda mais próxima dos cidadãos e, nessa medida, queremos estender os eventos que eram apenas para os irmãos da Santa Casa - casamentos, batizados, funerais - para a comunidade”, revela o provedor.

A Igreja das Chagas está classificada como um Monumento de Interesse Público O trabalho de restauro terminou a 26 de julho de 2015 e “tudo foi recuperado em termos de talha dourada, os tetos recuperados em pintura, os azulejos retirados, trabalhados e novamente colocados”, esclarece o provedor, adiantando que a parte da espaço mais degradada era a zona que confina com o Liceu de Latino Coelho.

Neste momento, a Igreja do Mosteiro das Chagas apenas celebra a missa de Domingo e ocasiões especiais, entre elas a procissão do Senhor Morto e da Nossa Senhora dos Remédios. “É uma igreja emblemática da cidade e os lamecenses têm muita estima por ela”, remata.

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