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De fora, no bairro da Balsa, a sede da Associação Mover Viseu é reconhecida, numa loja térrea, graças a duas “bandeiras lágrima” e uma tricicleta estacionada à entrada. Sem pedais, com um selim mais elevado, uma base de apoio para o peito e três rodas, este é um meio de transporte, de competição e proporcionador de momentos de alegria que destoa das bicicletas comuns. No hall de entrada da associação, duas mesas munidas de computadores servem de local de trabalho para toda a parte administrativa da associação. Carlos, secretário da Mover Viseu, trabalha numa das mesas, e só quando é requerido um aperto de mãos como forma de cumprimento é possível notar que o secretário é portador de uma deficiência motora.
A mascote e anfitriã da casa, uma cadela beagle de três anos chamada Zoey, controla quem chega à associação ao mesmo tempo que vai exigindo festas às crianças e jovens da Mover Viseu. Além de uma funcionária a tempo inteiro, são Ana Paula Braga, professora de educação especial e diretora da associação, e Filinto Carvalho, antigo atleta paralímpico e vice-diretor da Mover Viseu, os encarregues pelo espaço. A eles juntam-se vários voluntários que vão entretendo os jovens por entre workshops de culinária ou peças de teatro.
“Temos cerca de sete anos, somos jovens, mas estamos a passar por algumas fases, por um lado de crescimento, felizmente, mas por outro lado com dificuldades”, contou Ana Paula Braga. “Estou a dizer por um lado de crescimento porque temos tido diversas solicitações por parte dos pais, principalmente de crianças com deficiência e que têm de trabalhar, mas que não têm onde deixar os filhos porque os ATLs que existem não os aceitam.”
Embora a associação não seja oficialmente um ATL, desenvolveu um projeto designado “Ser Mais a Brincar”, em que recebe crianças portadoras e não portadoras de deficiência. A Mover Viseu, ao abrigo deste projeto, recebe cerca de 16 crianças, “a maior parte delas portadora de deficiência, o que implica um apoio individualizado”.
Este apoio a crianças e jovens portadores ou não de deficiência é dado através de diversos espaços dentro da sede da Mover Viseu, destinados a desenvolver áreas específicas dos jovens. Perto da entrada, uma sala completamente forrada com colchões abriga uma piscina de bolas, dois baloiços e uma parede branca para a projeção de filmes. Num canto, pequenos adereços ajudam à caracterização dos jovens aquando das sessões de teatro. Noutro canto, três marcadores e um cartaz afixado na parede são a última paragem do dia para qualquer criança que tenha frequentado a Mover Viseu nesse dia. As escolhas para avaliar o dia são três: verde, amarelo e vermelho.
No corredor que liga a entrada ao resto dos espaços, são várias as zonas improvisadas de acordo com a necessidade. Um armário decorado pelos jovens guardava os seus pertences, como chapéus ou calçado – tudo em gavetas específicas com os nomes das crianças a marcar o lugar. Em frente do armário, um aparador exibe os vários troféus ganhos pela Mover Viseu nas atividades desportivas em que participou, principalmente nas modalidades de boccia e tricicleta.
A associação, como explicou Filinto Carvalho, tem atualmente dois atletas. O vice-diretor da Mover Viseu participou pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos de Barcelona em 1992, e esteve presente pela última vez nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, sempre no boccia. “Um é de Moimenta da Beira, que é o André Pinto, que vive em Armamar, mas que está na Artenave em Moimenta da Beira”, começou por dizer. “Temos ainda um atleta de etnia cigana, que é o Cristiano Pinto”. O jovem atleta de boccia conta com o apoio da câmara municipal de Viseu, mas, como esclareceu o treinador e ex-atleta paralímpico, não é o suficiente. “Nós temos imensas despesas, entre deslocação, alimentação, alojamento e equipamento, porque são extremamente caros e temos de estar sempre a comprar material para poder acompanhar a evolução da modalidade.”
Descendo umas escadas depois do expositor de troféus, uma antiga garagem convertida em sala de jogos e oficina de artes plásticas abrigava um torneio de ténis de mesa. No exterior, um trampolim permite aos jovens um misto de diversão e ar puro. “Neste momento estamos a crescer, porque temos tido solicitações, e mesmo durante o ano nós fazemos este apoio às crianças”, continuou Ana Paula Braga. “Vamos levar as crianças às escolas e trazemo-los para aqui, para os pais poderem trabalhar. No princípio nós tínhamos mais terapias, mas neste momento estamos mais virados para este tipo de resposta porque efetivamente os pais não a têm noutro sítio.”
No fundo do corredor, dois voluntários faziam “bolos de caneca” com alguns dos jovens. Numa cadeira de rodas, uma rapariga comunicava de forma não verbal com a voluntária, através de gestos e sons. A sua deslocação é feita na cadeira de rodas, e tem de ser constantemente colocada numa posição correta. Mais tarde, em cima da tricicleta, realizou o seu exercício diário, ao atravessar o corredor pelo seu próprio pé. “Durante o ano, fazemos muito um trabalho de apoio de desenvolvimento de atividades de recriação e lazer junto de lares de terceira idade e de escolas de primeiro, segundo e terceiro ciclo. Além disso, emprestamos material para desenvolverem atividades.”
Até agora, a associação não tinha cobrado qualquer tipo de preço pelas atividades fora da sede. Agora, Ana Paula Braga equaciona a hipótese de “cobrar pelo menos o valor do combustível”, numa altura em que a Mover Viseu aguarda ansiosamente por ser reconhecida como Entidade de Utilidade Pública. “Se fossemos uma Entidade de Utilidade Pública, poderíamos candidatar-nos a outros organismos, mesmo a nível europeu.”
Numa das duas salas traseiras do andar superior da Mover Viseu, uma marquesa ocupava o centro do espaço destinado, como explicou a diretora da associação, a “ajudar os jovens e crianças a relaxar através de massagens, ou ainda a ser utilizado para sessões de fisioterapia”. A outra sala, repleta de estantes com livros, várias caixas de puzzles, jogos de tabuleiro e dois pufes, destinava-se a atividades de lazer. “Depois de almoço é a única altura em que deixamos que estejam nos telemóveis e tablets para que fiquem quietos e entretidos, para não perturbar a digestão”, explicou Ana Paula Braga. “Além disso, durante o dia podem sempre vir para aqui e ocuparem-se de atividades mais calmas”, concluiu.
Pedro, uma das crianças mais novas, com cerca de oito anos, disse, mal viu alguém estranho ao seu dia a dia e estranho à associação na sala de jogos, o que a Associação Mover representava para si (e que deve representar para mais crianças): “Este ATL é muito fixe, já estive noutros ATLs, mas este é o mais fixe de todos.”