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20 de 08 de 2022, 08:30

Diário

Coletores recolhem água do nevoeiro em Carregal do Sal e Vouzela

Água recolhida usada para regar zonas que foram reflorestadas após os incêndios de 2017. Projeto está a ser testado pela primeira vez em Portugal e se tiver resultados poderá ser replicado noutros pontos

coletor nevoeiro Vouzela

Nevoeiro a ajudar a regar a floresta. A ideia até pode parecer bizarra, mas está testada nos concelhos de Carregal do Sal e Vouzela. O projeto intitulado Life Nieblas teve início em 2020 na Gran Canária, em Espanha, e agora está a ser replicado no distrito de Viseu, graças a uma parceria estabelecida entre o Cabildo de Gran Canária, nas Canárias, e a Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões (CIMVDL).

No âmbito do programa, foram instalados três coletores de neblina em Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal, e dois no município de Vouzela. Em ambos os concelhos foram escolhidas zonas com maior altitude. Cada uma destas estruturas tem quatro metros de altura e dois de largura.

O coletor tem uma rede, tipo mosquiteira, onde a água existente na neblina fica agarrada, escorrendo depois para um tabuleiro, que por intermédio de tubos é canalizada para um depósito. Essa água será depois usada na rega das árvores que, entretanto, foram plantadas.

Quer em Carregal do Sal, quer em Vouzela, foram escolhidas zonas devastadas pelas chamas em outubro de 2017. No concelho carregalense foram plantados 2.200 carvalhos, em seis hectares, numa zona que está classificada como sendo Rede Natura. No município vouzelense vai ser reflorestada depois do verão uma área de quatro hectares do Parque Natural Local Vouga Caramulo, com 1.800 sobreiros e carvalhos.

Em Carregal do Sal, as plantações estão divididas em três áreas diferentes e o mesmo irá acontecer em Vouzela. Numa zona as árvores receberão apenas as águas da chuva. Noutro setor, cada planta terá um coletor de neblina próprio. Já na terceira parcela de terreno, cada árvore foi plantada com um cocoon, um reservatório individual de água, que é biodegradável, e que é regado com a água proveniente dos coletores de nevoeiro.

“Nós estamos a replicar o que eles estão a fazer nas Canárias, a uma escala mais pequena. É um projeto piloto, com efeito demonstrativo para ver se isto funciona ou não”, começa por explicar André Mota, chefe de equipa da Unidade do Ambiente e de Proteção Civil Intermunicipal da CIMVDL.

“O projeto vai decorrer até 2024, se tudo correr bem isto será replicado em outras zonas. O objetivo será replicar noutros locais, uma vez que o custo da instalação é relativamente reduzido para os ganhos que o obtemos”, defende o responsável.

Só neste projeto piloto em Carregal do Sal e Vouzela foram investidos 28 mil euros, dinheiro gasto na aquisição dos materiais. O Life Nieblas envolve um investimento global de cerca de 2,2 milhões de euros em ambos os países, financiado por fundos europeus.

André Mota diz que ainda é cedo para perceber se a ideia está a ter resultados ou não.

“Aqui o objetivo é verificar qual será a taxa de mortalidade das plantas, ver se a taxa de mortalidade é a mesma nos três setores. O objetivo será mostrar que com poucos métodos, com pouco investimento a taxa de sobrevivência das plantas é muito superior. Neste momento é muito cedo porque a plantação foi feita há pouco tempo, só em março”, salienta.

coletor nevoeiro carregal do sal

O projeto ainda agora arrancou e já está a ter constrangimentos. Parte da tubagem dos coletores de Carregal do Sal foi roubada, o que impede perceber qual o verdadeiro impacto do projeto.

André Mota lamenta a “falta de civismo das pessoas” e o transtorno que a situação poderá causar ao projeto, na medida em que não se poderá calcular com exatidão o volume de água recolhido pelos coletores de neblina.

A CIMVDL está nesta altura a fazer a reposição dos tubos, que desta vez serão enterrados “mais fundo” de modo a evitar novos furtos.

“O roubo foi reportado em finais de junho, fizemos as devidas participações às entidades competentes e, neste momento, estamos a fazer a reposição do material. É lamentável que isto aconteça porque quem mais tem a ganhar com este projeto é o território e a área protegida onde está implementado”, conclui.