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18 de 03 de 2023, 09:00

Diário

Duarte é autista e Maria vai fazer a N2 a pé para ajudar a pagar tratamentos

Maria Coelho vai vender os quilómetros que fizer e o valor angariado reverte para ajudar com os tratamentos do Duarte. Pais da criança, com quatro anos, admitem que sem ajuda “seria muito difícil”. Mensalmente, gastos rondam os 1300 euros

Duarte criança autista

São 21 dias consecutivos, mais de 700 quilómetros e muito amor à mistura. Maria Coelho tem 55 anos, é praticante de trail e está prestes a fazer uma “prova” muito diferente de tantas outras que já fez. A assistente operacional no Hospital de Lamego vai percorrer a Estrada Nacional 2 a pé e o objetivo é só um: ajudar a pagar os tratamentos de Duarte, uma criança de quatro anos, autista, natural de Lamego.

“Serão 21 dias a caminhar a pé de mochila às costas e isto surgiu para ajudar o Duarte, filho de uma amiga minha. Decidi fazê-lo porque vejo o sufoco destes pais mensalmente e sabendo que os posso ajudar desta forma, foi só planear e seguir”, contou ao Jornal do Centro Maria Coelho.

A ideia é simples: “Pretendo vender cada quilómetro feito por mim, e por quem me quiser acompanhar em algumas etapas, a dois euros. Os quilómetros serão colocados na página do Facebook diariamente e quem quiser ajudar pode ir à página e, por mensagem, pedir os quilómetros que quer comprar. Depois, envio o NIB, fazem transferência e após isso retiro do total os quilómetros vendidos com o primeiro e último nome de cada pessoa. No final e em direto é passado um cheque com a totalidade angariada, que reverterá a favor do Duarte para pagamento de terapias”.

Mensalmente, os pais de Duarte, Sofia Mendonça e Vítor Hugo Silva, têm um gasto de 1300 euros, entre terapia, combustível e portagens. A criança é acompanhada numa clínica e numa escola terapêutica em Penafiel. O esforço financeiro do casal tem sido grande e se não fosse a onda de solidariedade de conhecidos e, sobretudo, de desconhecidos “seria muito complicado”.

“A pessoas têm sido incríveis connosco, pessoas que não nos conhecem, que não conhecem o Duarte e são incansáveis. Se não fosse a ajuda de todos seria muito complicado”, confessa Sofia Mendonça, de 39 anos.

Maria Coelho é um dos exemplos solidários, mas são muitos os que têm ajudado esta família. “Já se fizeram rifas, caminhadas e outras iniciativas”, conta Sofia, que é natural de Avões, no concelho de Lamego.

O pai, Vítor Hugo, de 39 anos e natural do Porto, é quem garante os rendimentos para a família, estando Sofia dedicada a cuidar do filho. Quanto a apoios do Estado, “são poucos e não permitiriam que o nosso filho estivesse a fazer os tratamentos que faz”, contam.

Duarte foi diagnosticado com autismo aos dois anos. A mãe, Sofia Mendonça, percebeu mais cedo que algo não estava bem, mas a pandemia atrasou as consultas e o diagnóstico. Quando a certeza do autismo chegou, Duarte passou a ser seguido em Penafiel.

“O nosso filho não falava, não tinha reações, não interagia, hoje em dia é uma criança com algum autonomismo, que ri, conversa, interage e é por vermos a evolução dele e com o objetivo de o tornar o mais autónomo e feliz possível que todos os dias o levamos a Penafiel”, conta Sofia Mendonça.

Tratamentos que ficam dispendiosos, mas que são determinantes para a evolução do pequeno Duarte. “Já não consigo imaginar a vida do Duarte sem estes tratamentos, se ficássemos sem o poder levar seria uma frustração enorme”, desabafa Vítor Hugo Silva.

Sofia Mendonça conta que tem um sonho: criar em Lamego um espaço dedicado e de apoio a crianças autistas. “Era um sonho, porque não existem muitos locais especializados em autismo e estamos a falar de muitas crianças nesta região que precisam de ajuda e de ter tratamentos que os ajudem a evoluir e a serem crianças felizes e capazes”, conta Sofia.

Para já, as forças desta família estão concentradas no Duarte, assim como as de Maria Coelho. Isto porque, garante, “o grande objetivo é conseguir um ano de tratamentos”.

“Nunca fiz a Nacional 2 a pé, mas se mais para a frente me prometerem que compram novamente os quilómetros volto a fazer pelo Duarte. Não consigo voltar às costas aos meus. Sim o Duarte é meu de coração”, assegura.

Maria Coelho parte do quilómetros “zero” em Chaves a 31 de março e chega a 21 de abril a Faro, pela frente dias que não serão fáceis, mas há uma certeza: “O Amor pode tudo. Vou com fé, foco e força, vai ser difícil, mas nos dias difíceis é só pensar no sorriso e abraço do Duarte e logo recupero forças”.

Ao longo dos mais de 700 quilómetros, Maria Coelho vai ainda alertar e sensibilizar para o autismo. “Nas terras onde pernoitar e as câmaras me cederem um espaço irei ainda fazer um sessão de sensibilização sobre o autismo”.

Maria N2 ajudar Duarte