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Familiares de Aristides Sousa Mendes e de refugiados da Segunda Guerra Mundial, a quem o cônsul de Bordéus passou vistos, emocionaram-se hoje com a nova “vida” dada à Casa do Passal, depois de anos em ruínas.
“É uma felicidade olhar para todos vós, aqui participantes, e ver uma multidão tão parecida como aquela que o nosso avô terá encontrado, repetidas vezes, em 1940, diante do seu consulado, em Bordéus: as pessoas que estavam à espera de um visto salvador. É como se esta multidão, 85 anos depois, estivesse aqui a dizer obrigado senhor cônsul”, destacou António Moncada, neto de Aristides de Sousa Mendes.
A Casa do Passal, onde há 139 anos nasceu Aristides de Sousa Mendes, o cônsul que ajudou a salvar milhares de refugiados na II Guerra Mundial, foi hoje inaugurada, com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
A cerimónia contou ainda com a ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, o secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, entre as centenas de convidados de todo o mundo, desde descendentes do diplomata a refugiados que salvou.
Também marcaram presença os embaixadores de França, Luxemburgo, Estados Unidos da América (EUA), Bélgica, Áustria, Alemanha e Israel, assim como representantes de câmaras onde Aristides de Sousa Mendes foi cônsul.
O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, enviou um vídeo com uma mensagem gravada e o Papa Francisco enviou uma carta lida pelo porta-voz João Crisóstomo.
Na missiva, o Papa Francisco diz que há quatro anos, numa audiência geral, recordou Aristides de Sousa Mendes e “o quanto ele fez em prol da vida de milhares de judeus e outras pessoas perseguidas”.
O neto do diplomata, António Moncada, recordou o esquecimento e a “morte lenta” a que ficou entregue “o cônsul desobediente”, durante 14 anos, depois de muito protesto e resistência.
“Ficou sozinho no esquecimento, lembro-me muito bem. Só os irmãos e os primos de Mangualde e da região falavam com ele”, lamentou.
Segundo António Moncada, Aristides Sousa Mendes deixou-lhes “a mais bela das heranças, que vale mais do que qualquer fortuna”, evidenciando que recusaram o esquecimento, que culmina com a abertura da Casa Museu com o nome do diplomata.
Outro dos netos, Gerald Sousa Mendes, recordou os anos em que a Casa do Passal esteve em ruínas até ganhar nova “vida”, aproveitando ainda a ocasião para ler a mensagem da sua tia Maria Rosa, a filha mais nova de Aristides de Sousa Mendes, a única dos 14 filhos ainda em vida.
“É para mim uma enorme felicidade partilhar este momento excecional, que constitui a inauguração do Museu de Aristides Sousa Mendes. Tornar a dar vida ao Passal, criando um lugar de memória e cultura, permite imortalizar o ato de coragem do meu pai”, referiu a filha do diplomata, que reside no sul de França.
Também Silvério Sousa Mendes, deixou emocionado a sua gratidão para com os seus avós, Aristides e Angelina, pelo legado que deixam ao mundo e pelo exemplo de abnegação, “sacrificando interesses pessoais, familiares e profissionais”.
“Que este museu sirva de exemplo para a humanidade, permanecendo como pedaço de história viva que engrandece Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, Portugal, o mundo e também a humanidade”, afirmou.
O presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Paulo Catalino, frisou que a inauguração da Casa Museu de Aristides Sousa Mendes é “o justo momento de reposição da dignidade e da memória de um homem que teve a lucidez, arrojo e coragem de salvar vidas”.
“Com esse gesto, teve a plena noção que, da sua decisão a vida dos seus mais diretos muito sofreria, deixando-nos seguramente um dos mais belos exemplos de altruísmo e humanidade do século XX”, acrescentou.
No seu entender o dia de hoje é, muito provavelmente, um dos dias mais importantes e marcantes da história do seu concelho, do país e da história do século XXI.