Geral

13 de 01 de 2022, 10:39

Diário

Incêndio em Vila Nova da Rainha foi há quatro anos. Julgamento em março

Ministério Público já avançou com novo inquérito para apurar mais responsabilidades criminais. Entre os visados, está o presidente da Câmara de Tondela e o ex-vice da autarquia

incêndio vila nova de rainha 2018

Fotógrafo: Foto de arquivo

Faz esta quinta-feira (13 de janeiro) quatro anos que um incêndio na Associação de Vila Nova da Rainha, no concelho de Tondela, matou 11 pessoas e feriu mais de 30 pessoas.

O caso esteve em investigação e foi deduzida acusação pelo Ministério Público. O processo tem apenas um arguido: o presidente da coletividade, Jorge Dias, que vai começar a ser julgado a 28 de março.

Os advogados das vítimas e das famílias dos mortos, que não concordam com o facto de o processo ter apenas um arguido, já avançaram com um pedido para que o ainda presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus, o ex-vice-presidente Pedro Adão e os serviços municipais de Proteção Civil e urbanismo sejam também constituídos arguidos.

Deste processo foi extraída então uma certidão que está agora em investigação para serem apuradas mais responsabilidades criminais.

Uma das vítimas do incêndio que começou aquando de um torneio de sueca a 13 de janeiro de 2018 foi José Luís Lopes, que esteve internado dois meses e ficou queimado na cabeça e no corpo.

Acabou por perder vários dedos nas mãos e esteve de baixa durante três anos até janeiro do ano passado, tendo passado a ser-lhe atribuído uma pensão de pouco mais de 200 euros que só lhe foi paga um mês. Agora, queixa-se de que a Segurança Social não o ajuda há um ano.

Nessa altura, conta ao Jornal do Centro, foi-lhe enviada uma carta “no dia 12 de janeiro a dizer que a minha baixa estava terminada e que me iriam atribuir uma pensão de invalidez provisória de 211,19 euros e solicitaram-me toda a documentação médica para a reforma”.

“Juntei toda a documentação e entreguei-a em Viseu a 26 de fevereiro. Aquilo seguiu para Lisboa a 3 de março e, no dia 5, recebi uma carta a dizer que estava apto para trabalhar”, acrescenta.

Uma decisão que José Luís Lopes, que só recebeu o apoio por um mês, teve de recorrer indo a uma nova junta médica onde os médicos “viram que eu não tinha capacidade”. “Isso foi para Lisboa e está no Centro de Pensões, mas acabaram por cortar a pensão provisória que me atribuíram e só me pagaram o valor em fevereiro. Até agora, estou nestas condições sem receber um único tostão”, lamenta.

José Luís Lopes sente que foi abandonado pelo Estado. “Uma pessoa tem de ter subsistência e, agora, sinto-me um chulo à custa da mulher, das filhas e da sogra. Quando trabalhava, sempre descontei e, agora, estou nesta situação”, diz.

O homem também não poupa nas críticas à Justiça e considera injusto que apenas o presidente da Associação de Vila Nova da Rainha tenha sido constituído arguido no processo.

“Não é justo. Para não arranjar um cadafalso muito grande, quiseram fazer só um cadafalso pequeninho. Penso que o Ministério Público e a Polícia Judiciária desvirtuaram a Justiça e tiraram a venda do símbolo, tapando os ouvidos. Desvirtuaram tudo”, afirma.

José Luís Lopes sente que “há vários culpados” neste caso e diz que foi pela falta de mais arguidos que as vítimas avançaram com o pedido de acusação.


Entretanto, vai nascer uma nova associação

Ainda em Vila Nova da Rainha, junto à associação que ardeu, está a nascer uma nova. O edifício já está a ser construído com um investimento superior a 200 mil euros suportado pela Câmara Municipal e pela União de Freguesias de Mouraz e Vila Nova da Rainha.

Em declarações ao Jornal do Centro, o presidente da Junta local, Vítor Mota, diz que o espaço faz falta na terra.

“Já está em andamento desde o ano passado e esperávamos que ficasse concluído até ao final do ano, o que, em princípio, não irá acontecer por causa da pandemia e da falta de mão de obra”, explica.

O autarca garante um edifício mais seguro para que a população da localidade volte a encontrar-se. “As pessoas estavam ali (no antigo edifício) e era a única coisa onde se encontravam. Era um ponto de encontro onde se faziam marchas, joguinhos aos domingos, bailaricos e jogos de futebol. Era uma sala de convívio”, recorda.