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14 de 01 de 2022, 13:05

Diário

Legislativas: a ferrovia, a regionalização, o lítio e a cultura. O que dizem os candidatos?

Jornal do Centro organizou debate com os cabeças de lista dos partidos com assento parlamentar. Eleições legislativas estão marcadas para 30 de janeiro

Debate JC legislativas 2022

Fotógrafo: Igor Ferreira

O Jornal do Centro organizou um debate com os nove cabeças de lista por Viseu dos partidos com assento parlamentar para as legislativas. As eleições estão marcadas para 30 de janeiro.

Neste debate, não faltaram alguns grandes temas que afetam a região e que motivaram a discussão entre os candidatos.

A ferrovia foi um dos principais assuntos em destaque, isto num distrito onde a capital não tem comboio, mas existem duas linhas ferroviárias. O tema uniu os candidatos na sua defesa, mas com objetivos diferentes.

Por exemplo, o candidato da CDU, Alexandre Hoffmann, propôs começar a desenhar a ideia de uma ligação entre Viseu e Lamego no âmbito do plano ferroviário para a região.

O comunista vê a ferrovia como “absolutamente estrutural para os passageiros, para o direito de viajar entre municípios e entre distritos e para beneficiar o tecido empresarial e o tecido produtivo e agrícola”. “O distrito não começa nem acaba em Viseu. Por isso, a CDU propõe a ligação de Viseu à Linha da Beira Alta e Lamego à Linha do Douro e estudar a ligação entre as duas cidades”, afirmou.

Já Sérgio Figueiredo, cabeça de lista do Iniciativa Liberal, também diz sim à ferrovia e uma “que não seja uma nova TAP”.

“Nunca nos manifestámos contra a ferrovia. Somos contra é desenhar um traçado no Google Maps, num ministério qualquer em Lisboa, e depois chegam aqui as máquinas e despejam numa linha férrea em cima do território sem ouvir as comunidades locais e as empresas”, afirmou o liberal.


Candidatos do Bloco e Livre garantem que vão de comboio

Já os candidatos do Bloco de Esquerda, Manuela Antunes, e do Livre, Miguel Won, garantiram que serão utilizadores deste meio de transporte quando chegar a Viseu. Manuela Antunes assegurou que irá de comboio se for eleita e tiver de ir para Lisboa.

“Para mim, é um drama ir de autocarro da Rede Expressos não porque não sejam bons, mas porque preciso de ir à casa de banho, preciso disto e preciso daquilo… É claro que iria de comboio, mas custa-me sempre ter de ir a Mangualde porque tinha de sair de madrugada para apanhar um autocarro. A ferrovia é, para nós, uma questão fundamental”, disse a bloquista.

Já Miguel Won garantiu que usará o comboio para se deslocar para Viseu, uma vez que vive em Lisboa. “Eu vim de Lisboa de autocarro. Se eu viesse de carro, ia gastar à volta de 100 euros na ida e volta”, afirmou.

O candidato do Livre defendeu a ligação ferroviária entre Aveiro e Viseu e lembrou que o comboio Alfa Pendular já chega à cidade aveirense, permitindo reduzir o tempo de viagem de comboio.

“Eu, de autocarro, demorei aproximadamente quatro horas. Num trajeto de comboio, a viagem iria reduzir provavelmente em uma hora. Não só é mais rápido e confortável, como é mais amigo do ambiente e revitaliza a economia nacional”, sustentou.


PSD diz que Espanha não precisa de autorizar bitola. Candidato do PS diz que ferrovia pode ser uma realidade em dez anos

Já o cabeça de lista do PSD, Hugo Carvalho, lembrou que não é preciso ter a autorização de Espanha para se avançar com a bitola europeia e com a ligação a Viseu e à região.

“Nós temos de ter comboio e não podemos estar dependentes de Espanha, porque o ministro Pedro Nuno Santos disse que estamos dependentes do investimento espanhol. Não temos de estar a pedir a autorização a Espanha para fazer uma ligação que passe por Viseu, mas Viseu é um distrito inteiro e é preciso equacionar mais”, afirmou.

O social-democrata considerou ainda que a ferrovia deve avançar “com racionalidade e alguma estratégia”. “Dizer-se só por dizer, meter o Plano Ferroviário Nacional, meter o Plano Nacional de Investimento e avançar com investimentos de 600, 700 ou 800 milhões de euros que seriam muito úteis para a região, mas que depois são gastos na TAP é que não bate certo”, disse Hugo Carvalho.

Já do lado do PS, o candidato João Azevedo garantiu que não há fantasias e comprometeu-se mesmo com prazos, dizendo que o regresso da ferrovia à cidade de Viseu poderá ser concretizado em dez anos.

“Assumi publicamente um combate muito forte em relação à capacidade de trazermos para cá, num esforço coletivo, a possibilidade de termos um interface ferroviário em Viseu. É importante que o Governo traga novamente o comboio para Viseu com novas linhas”, disse o socialista.

Linhas essas que, segundo o deputado, passariam pela ligação com Lisboa e Porto e também por “um entroncamento com a Linha da Beira Alta”. “Nós temos de arranjar uma solução através dos fundos comunitários porque é uma obra muito difícil de ser concretizada e temos dez anos para tentar consolidar, solucionar e executar”, afirmou João Azevedo.


PAN quer apostar em ferrovia amiga do ambiente. Chega diz que não há comboio se não há pessoas

No debate do Jornal do Centro, também Carolina Almeida, candidata do PAN, falou da ferrovia. A cabeça de lista defendeu uma revisão do Plano Ferroviário Nacional com mais prioridade para os “investimentos com maior potencial de redução de impacte ambiental”.

O objetivo do PAN passa, acrescentou Carolina Almeida, por “garantir até 2030 a aposta em ligações rápidas entre capitais de distrito e na capacidade de transportar passageiros a nível nacional e internacional, em detrimento da aposta no tráfego aéreo”.

Já João Tilly, do Chega, disse que não é preciso comboio se não houver pessoas. “Nós, primeiro, temos de meter gente no interior e, se não há, o comboio não vai ter clientes”, resumiu.


Candidato do CDS promete defender a região, mesmo não seguindo a doutrina do partido

Outro assunto em debate foi a regionalização. O candidato do CDS por Viseu, Manuel Marques, deixou um aviso sobre um tema onde se falaram de linhas vermelhas.

Questionado sobre o recente voto do CDS contra a regionalização, Manuel Marques garantiu que, caso seja eleito para o Parlamento, irá assumir como principal missão a defesa do distrito, mesmo que isso implique desrespeitar a disciplina de voto do partido.

O cabeça de lista disse que não é “seguidista” da doutrina do CDS, mas sim “seguidista da defesa das populações, do interior e do distrito”.

“Não permito que não me rotulem com aquilo que algumas entidades do CDS possam opinar. Não estou em nome de ninguém do CDS e eu tenho a minha opinião, vontade e decisões próprias. Vou para o Parlamento para defender o distrito e as populações. Podem tirar-me a confiança política, mas a mim não me preocupa. Eu estou preocupado com os interesses da população e do interior”, disse.

O debate pode ser ouvido a partir desta sexta-feira em www.jornaldocentro.pt e também aqui.