Geral

29 de 01 de 2023, 14:05

Diário

Lenços brancos e justiça em luta no dia em que António Costa esteve em Viseu

Não foram só os muitos socialistas que quiserem ver o secretário-geral do PS e também primeiro-ministro, António Costa. Oficiais de justiça, professores e polícia municipal não perderam a oportunidade para comparecer e deixar alguns recados

MANIFESTAÇÃO OFICIAIS DE JUSTIÇA 28JAN23

Fotógrafo: Jornal do Centro

António Costa, secretário-geral do Partido Socialista (PS), esteve este sábado em Viseu a “Prestar Contas” perante mais de mil militantes. Mas, não foram só os muitos socialistas que quiserem ver o também primeiro-ministro. Oficiais de justiça, professores e polícia municipal não perderam a oportunidade para comparecer e deixar alguns recados.

“Costa escuta a justiça está em luta!” foi um dos cânticos que cerca de meia centena de oficiais de justiça entoaram junto à entrada do Pavilhão Multiusos, onde decorreu a sessão. Com cartazes mostravam o descontentamento que, disseram, se arrasta há vários anos.

Nas camisolas pedia-se “Justiça para quem nela trabalhada” e nos cartazes lia-se: “Promoções já”, “Exigimos respeito”, “Integração do suplemento x14 meses. Já” e “Média de idades da comarca de Viseu 58 anos!”.

A ideia, explicaram aos jornalistas, era entregar a António Costa um caderno reivindicativo, que sirva de “proposta para início de discussão do estatuto e de todas outras questões”.

“Vimos de uma luta que já se prolonga há anos e não conseguimos que as nossas reivindicações sejam resolvidas, para melhorias. Viemos entregar o nosso caderno reivindicativo, com uma série de propostas como o estatuto socioprofissional que já foi incluído em duas leis do Orçamento do Estado (2020 e 2021) e não compreendemos como nunca foi cumprido. Além disso, falamos do regime de pré-aposentação, da falta de trabalhadores, estima-se que faltam mais de mil profissionais e que os tribunais estão a entrar em rotura”, explicou Luís Barros, coordenador do Sindicato dos Funcionários Judiciais (SFJ).

O sindicalista lembrou que são estes trabalhadores que dão “o corpo às balas nos tribunais” e que precisam de ser ouvidos. Luís Barros anunciou ainda uma greve que decorrerá de 15 de fevereiro a 15 de março e que pode parar alguns serviços.

“Não vamos dar entrada de pagamento a nada, o dinheiro vai ficar parado nos processos e não vamos passar registos criminais. Se entretanto o Governo não nos ouvir, porque o que queremos é que nos ouça”, assegurou.

Eduardo Nogueira é oficial de justiça há 39 anos e já não é a primeira vez que sai à rua para mostrar o seu descontentamento, ao Jornal do Centro afirmou que só querem ser ouvidos, porque “sem eles a justiça não funciona”.

“Queríamos que o senhor primeiro-ministro, pelo menos, nos ouvisse e recebesse o nosso caderno reivindicativo. E soubesse que os oficiais de justiça são pessoas importantes nos tribunais, sem eles a justiça não funciona”, disse.

Já Dora João, oficial de justiça há 33 anos, admitiu que a profissão é cada vez mais desgastante, sobretudo pela falta de profissionais.

“A engrenagem dos tribunais não funcionam sem nós, tem funcionado graças às nossas horas extraordinárias. A minha secção tinha cinco funcionários, depois passou a seis, depois a quatro, no espaço de dois anos. Estamos a cobrir processos de outros tribunais eletronicamente, porque outro tribunal não tem funcionários. É muito desgastante, tenho computador em casa e muitas vezes trabalho ao fim de semana. Queremos justiça e diálogo. Não estamos aqui para arranjar problemas a ninguém”, disse.
O caderno com as reivindicações acabou por ser entregue, mas antes da chegada de António Costa e a José Rui Cruz, presidente da Federação Distrital de Viseu do PS, que garantiu que o fará chegar “a quem de direito”.

“Estamos aqui a representar o Partido Socialista. Faremos chegar as vossas preocupações em mãos ao nosso secretário-geral, que certamente também conhece as vossas reivindicações”, disse José Rui Cruz.

O socialista esclareceu ainda que não estava em substituição de António Costa. “Conhecemos estas reivindicações, não me compete falar sobre esse assunto, farei chegar a quem de direito”, disse, acrescentando que as pessoas “podem confiar nos deputados”.

“Representamos as populações do nosso distrito e faremos chegar a preocupações, como temos feito ao longo dos tempos. Nós não somos governantes e não podemos dar garantias”, finalizou.

A acompanhar o socialista estavam ainda Pedro do Carmo, secretário-nacional adjunto da organização do PS e os deputados por Viseu no Parlamento Lúcia Silva e João Paulo Rebelo.

Professores e os lenços brancos
Muito perto aos oficiais de justiça, juntou-se de forma espontânea um grupo com mais de 30 professores. Apesar da vontade em também gritarem algumas palavras de ordem, não pudera fazê-lo por não se tratar de uma manifestação legal (não foi comunicada a diversas autoridades como é imposto).

Os professores acabaram por acatar as explicações das autoridades e, em silêncio, acenaram com lenços brancos.

“Os lenços representam tristeza, não é um adeus. Não achamos que possa vir outro ministro que venha resolver tudo, mas é um apelo para que nos vejam, que nos ouçam, porque a escola precisa de nós e tanto precisa que foram decretados os serviços mínimos”, atirou Carla Moita, professora há 26 anos.

Os profissionais acabaram por se concentrar de forma espontânea, enquanto em Lisboa milhares de professores também se manifestavam.

“Num ato espontâneo, acabámos por vir ver se conseguíamos falar com o senhor primeiro-ministro, porque continuamos a sentir que não somos ouvidos. Temos colegas em Lisboa a lutar por nós, houve quem não pudesse ir, mas estamos aqui para dizer que estamos com eles, que continuamos a não ver vontade em negociar. E é um negociar estranho porque se decretam serviços mínimos para a escola, pensado que isto se vai arrastar por muito tempo”, frisou.

A docente explicou que não querem arrastar esta luta, mas sim “negociar”. “Não queremos que isto se arraste, queremos negociar, ver os nossos direitos repostos, queremos que nos ouçam, porque a escola merece, as crianças merecem e é por isso que estamos aqui, é por elas. O socialismo tem que ser em prol da sociedade e a educação é um dos pilares da sociedade”, disse.

Mas, o descontentamento que o secretário-geral do PS e primeiro-ministro António Costa terá visto foi da Polícia Municipal. Num gradeamento, por onde o secretário-geral do PS teve que passar de carro para entrar no recinto estava uma tarja onde podia ler-se: “Polícia Municipal. A única Polícia a ganhar ordenado mínimo. 761.58€. Miséria!!!”.

TARJA POLÍCIA MUNICIPAL SALÁRIOS

Fotógrafo: Jornal do Centro


PROFESSORES LENÇOS BRANCOS 28JAN23

Fotógrafo: Jornal do Centro