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27 de 12 de 2021, 15:37

Diário

Faz hoje 111 anos e é uma das mulheres mais velhas de Portugal

Isabel Sarmento já passou por pandemias, guerras, mudanças de regime e catástrofes climáticas durante a sua vida

Isabel Gomes Sarmento idosa centenária moimenta

Fotógrafo: D.R.

É de Moimenta da Beira uma das mulheres mais idosas do país. Isabel Gomes Sarmento faz 111 anos esta segunda-feira (27 de dezembro). Nasceu em 1910.

A mulher vive hoje na localidade de Vila da Rua, na casa da filha mais nova e do genro, e é descrita como uma pessoa “de olhar meigo” que já não teme nada. “Parece ficar surpreendida com a chegada de desconhecidos a fazerem-lhe perguntas. Mas depressa o sorriso lhe ilumina o rosto sem idade”, pode ler-se numa nota que foi publicada pela autarquia.

Isabel Sarmento já passou por pandemias, guerras, mudanças de regime e catástrofes climáticas durante a sua vida e, hoje, assume uma postura mais calma revelando gracejos e, de vez em quando, um sorriso. A centenária ouve mal, mas continua atenta.

Tem hoje uma filha que vive em Amarante, na região Norte, enquanto a mais velha está no Brasil. Possui ainda 16 netos e bisnetos e ainda uma tetraneta e foi apenas duas vezes ao médico, a última foi por ter caído recentemente. Uma queda que resultou numa anca partida.

Uma idosa devota de Nossa Senhora de Fátima, até há pouco tempo adorava comer pizzas, lasanhas e comidas com natas. Detesta peixe e não resiste a um café ou mesmo um vinho do Porto se não for muito forte, mas nunca gostou de andar de carro.

Isabel nasceu filha de Ayres Gomes Sarmento e de Maria Cândida Gomes, emigrados no Acre (Brasil), onde nasceu o irmão Francisco. A família chegou a prosperar. O pai era natural de Prados, também em Moimenta da Beira, e fez-se carpinteiro no Brasil, onde trabalhava no Cruzeiro do Sul. Segundo os relatos dos filhos, chegou a ter uma grande casa com um padeiro e um pescador por sua conta.

O pai morreu com problemas pulmonares quando Isabel tinha sete anos. Mais tarde, a mãe Cândida regressou com Isabel e Francisco a Vide, uma povoação de Moimenta, onde estavam mais três filhos que nunca chegaram a emigrar: Manuel, Carlos e Luís, que permaneceram sempre em casa de uma tia.

Isabel aprendeu suficiente para aprender a ler e escrever, mas não prosseguiu nos estudos. De resto, também aprendeu a costurar e a fazer croché e as lides domésticas. Gostava de dançar e de conversar e tornou-se costureira.

Com o seu marido António, que foi alfaiate, teve cinco filhos: quatro raparigas e um rapaz. Juntos, vendiam roupas de feira em feira numa carroça. Também trabalhavam por encomenda para outras ocasiões mais solenes. Já mais tarde, António foi pedreiro juntamente com um tio e depois com um sobrinho.

Dois dos filhos do casal morreram precocemente: Ayres faleceu com apenas quatro anos e Ester morreu aos 18, vítima de uma paralisia que se supôs ser causada por um acidente vascular cerebral num acontecimento que, segundo Otília Loureiro – a filha mais nova –, abalou a mãe.

“A minha mãe sofreu muito com a morte da Ester, a minha irmã parecia que tinha um dom, pois ela soube o que lhe ia acontecer. Previu a sua morte”, recordou Otília.

Já o marido morreu aos 73 anos. As filhas Otília e Gorete optaram por levar a mãe à Suíça, mas esta não se adapta e volta à sua terra, onde recebe visitas da prima, da comadre, da sobrinha e de amigas, faz paninhos e vê televisão.

Quando a família a visitava, Isabel chegava a interromper as refeições para ver os seus programas favoritos, para espanto dos que ficavam na mesa. Só quando Otília e, mais tarde, Gorete e o marido regressam da Suíça é que Isabel sai da sua casa.

“A minha mãe começou a ter medo e, às vezes, até ligava à noite a dizer que ouvia barulhos”, disse a filha mais nova. A partir daí, as filhas passaram a recebê-la de vez.

Agora, Otília vai tirando de vez em quando dúvidas com a mãe, que responde quando lhe apetece. Noutras vezes, franze o sobrolho e diz que já não se lembra. Mesmo vendo televisão, observa tudo o que está à sua volta, sabe que conversam sobre ela e está lúcida mesmo estando de cadeira de rodas, onde passa hoje a maior parte do tempo.