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Procuram-se voluntários para o primeiro censo da coruja-das-torres para quantificar a espécie, que está em vias de extinção. O projeto decorre entre esta sexta-feira e domingo (10 a 12 de março) e apela às pessoas para que fiquem pelo menos uns 10 minutos na rua, depois de escurecer, e reportem as corujas-das-torres que tenham visto ou ouvido.
“Precisamos de todos os olhos e ouvidos atentos no máximo de locais possíveis para conseguir ter o máximo de informação sobre a espécie”, afirmou Inês Roque, investigadora na Universidade de Évora e voluntária na Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves. Ambas estas entidades promovem o censo.
O objetivo é conhecer a distribuição e a abundância da coruja-das-torres, cuja população tem diminuído em Portugal. Segundo Inês Roque, as escolas também estão envolvidas na iniciativa, que conta com 1.621 alunos inscritos em todo o país. “Toda a gente, independentemente do nível de experiência, pode participar”, afirmou. Os primeiros resultados recolhidos neste censo deverão ser divulgados durante o mês de abril.
O projeto acontece na mesma altura em que será apresentada a colocação de caixas-ninho para estas corujas no Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, no concelho de Tarouca. A apresentação acontece este sábado (11 de março).
com o objetivo de estimular o regresso das corujas ao edifício e “repor o equilíbrio ambiental e ecológico”. Trata-se de uma iniciativa da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), em colaboração com a Junta de Freguesia de Salzedas.
Em comunicado, a DRCN disse que a presença das corujas-das-torres no Mosteiro de Salzedas “não é uma novidade”, mas realçou que a espécie parece ter “abandonado” o edifício histórico há alguns anos.
Agora, acrescentou a direção regional, a expetativa é repor a população de corujas neste habitat, já que a sua presença é dissuasora dos pombos, considerados uma das maiores ameaças para o património edificado.
Apesar de estar presente de Norte a Sul do país, a população da coruja-das-torres tem vindo a decrescer e são várias as ameaças que a espécie enfrenta: os atropelamentos, a alteração e destruição dos habitats, o aumento da agricultura extensiva, a bioacumulação de alguns pesticidas no seu tecido adiposo, a pilhagem aos ninhos e ainda a “imagem negativa” pela sua associação à morte.
A coruja-das-torres é uma ave de rapina noturna de tamanho médio (cerca de 35 centímetros de comprimento), com plumagem branca na face em forma de coração e plumagem dorsal de cor cinzenta e alaranjada. Quando vista em voo, à noite, pode assemelhar-se a um vulto branco e pode ser identificada pelo som que, nos adultos em voo, é estridente e “arranhado”, assemelhando-se ao de uma roldana perra.
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro está a estudar corujas
A investigar a coruja-das-torres desde 2006, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, já recolheu 6.500 regurgitações desta ave, de onde retirou cerca de 23.000 presas.
“Ao analisarmos em laboratório as regurgitações conseguimos perceber que espécie de ratos é que nos temos naquela região. É uma metodologia morosa no laboratório, mas em termos de resultados é bastante enriquecedora porque traz muita informação sobre a presença das espécies de pequenos mamíferos”, afirmou Hélia Gonçalves, investigadora do Laboratório de Ecologia Fluvial e Terrestre do Centro de Investigação e Tecnologias Agroambientais e Biológicas da UTAD.
A ave noturna é considerada parceira na investigação e foi também uma fonte de informação para a construção do novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, que deverá ser lançado em abril.
Hélia Gonçalves explicou que a coruja-das-torres se alimenta essencialmente de ratos, mas pode também apanhar pássaros ou morcegos. Engole a presa inteira, absorve os tecidos moles e as estruturas ósseas, penas ou pelo ficam numa cavidade do sistema digestivo do predador que depois é regurgitado.
“O máximo que eu identifiquei até agora numa regurgitação foram 10 ratos”, apontou a investigadora, que referiu que o número médio de presas encontrado é quatro. Mas os estudos à coruja-das-torres, nomeadamente às suas penas, ajudam também a monitorizar contaminantes ambientais (mercúrio e pesticidas).
“Esta coruja caça onde nós produzimos os nossos alimentos. É uma excelente candidata a bioindicador de contaminação de fonte agrícola”, afirmou, por sua vez, Inês Roque.
A investigadora da Universidade de Évora disse que anualmente é feita a monitorização de ninhos, que arranca em abril na Companhia das Lezírias, bem como o acompanhamento do desenvolvimento de juvenis e a anilhagem científica.