Ricardo Ferreira

28 de 05 de 2021, 10:40

Diário

Professora de inglês deixa o país e a carreira docente

Sandra Ribeiro espera regressar a Portugal no máximo dentro três anos

Sandra Ribeiro no mundo 1

Sandra Ribeiro abandonou Portugal há três anos e meio, altura em que se mudou para Inglaterra. A viver na Vila de Vouzela, esta professora de Inglês e Espanhol deixou não só o nosso país como a carreira docente.

“Escolhi a Inglaterra pela proximidade geográfica e pela língua que domino”, começa por explicar, acrescentando que quando aterrou em terras de sua majestade, de 2018, começou a trabalhar numa empresa que recruta profissionais para outras companhias.

“Atualmente trabalho na empresa Eville & Jones e recruto veterinários de todo o mundo para trabalhar no Reino Unido. Em Portugal era professora contratada e, embora sempre com avaliações de Bom e Muito Bom, chegava ao fim de agosto sempre com o coração nas mãos, pois nunca sabia onde iria parar no ano seguinte e sempre longe de casa”, conta.

Em Inglaterra, diz, funciona tudo de forma diferente. A contratação e ascensão na profissão assenta num “sistema meritocrático”, que reconhece “quem trabalha, ao contrário de Portugal que, no caso dos professores e outros funcionários públicos, reconhece o tempo de serviço, quando deveria reconhecer a qualidade” do trabalho desenvolvido. “Enfim, um sistema completamente obsoleto, hilariante mesmo”, desabafa.

Sandra já trabalhou noutras empresas do ramo, mas sempre na zona de Leeds, em Yorkshire, onde vive desde que deixou Portugal.

A emigrante não esconde que “não foi fácil” tomar a decisão de emigrar, tendo esta questão sido “amadurecida durante muitos meses”. Já “a mudança em si foi simples, em termos de logística, embora difícil devido às saudades da família”, sobretudo dos filhos.

“Adaptei-me facilmente ao novo trabalho e à região de Yorkshire que é muito bonita, tal qual eu sempre imaginei: pastos verdes, rebanhos de ovelhas e monumentos fantásticos. Os ingleses nesta zona são afáveis e tratam toda a gente de Luv, isto é Love”, salienta.

Na adaptação à nova realidade a antiga professora só teve um problema: o clima, marcado por “um sol sempre tímido, pouca luz e chuva, muita chuva”. “Tenho mesmo que tomar suplemento de vitamina D, pois um organismo português ressente-se. Sentia muito cansaço e pouca energia”, refere.

Sandra Ribeiro gosta “muito” do que faz, realçando que no seu trabalho tem “contacto diário com gente dos mais diferentes cantos do mundo” o que a obriga a falar diferentes línguas: português, espanhol, inglês e francês.

“A Inglaterra, embora tenha os seus problemas e desvantagens, é um país mais organizado, politicamente mais transparente e socialmente mais justo que Portugal”, defende.

Sandra Ribeiro no mundo 2

No Reino Unido nunca se sentiu discriminada e reforça que “os ingleses reconhecem quem trabalha e a grande maioria” sabe que “os imigrantes contribuem em larga escala para a economia do país, nomeadamente os trabalhadores qualificados que eles não têm, como os enfermeiros, médicos, veterinários, engenheiros, etc.”.

A “diversidade étnica e cultural” é o que mais a fascina no país que a acolheu há mais de três anos e destaca o facto de poder contactar com pessoas dos quatro cantos do mundo.

“A Inglaterra é um país pequeno que contém o mundo inteiro. Adoro ver um grande número de pessoas a ler nos transportes públicos, a abundância de espaços verdes, mesmo nas cidades. Também o respeito pelos animais, pela natureza e pelos direitos humanos e direitos dos trabalhadores”, evidencia.

Também lhe enche o coração a arte e ressalva que basta sair à rua para ver artistas a trabalhar e a mostrar o melhor de si.

“Não gosto do clima, nem da comida inglesa e também não aprecio o facto de os ingleses serem pouco espontâneos. Às vezes parecem programados, colados às regras e aos procedimentos, mas reconheço que são imensamente tolerantes e amáveis no geral”, vinca.

Por norma Sandra vem a Portugal de dois em dois meses. Vem ver os filhos e o resto da família. Do nosso país sente falta do “sol, da luz, do caldo verde, do bacalhau, do vinho, da sardinha, dos pastéis de nata”, que já começam a estar à venda em alguns supermercados, mas também “dos cheiros da aldeia” onde cresceu, “da fruta, das flores e das árvores.”

Para matar saudades de tudo o que deixou para trás compra vinho português, ouve música lusitana e até tem uma oliveira plantada no jardim de casa.

O regresso em definitivo também já está pensado, devendo acontecer dentro de dois a três anos “se tudo correr bem”. A emigrante admite terá sempre que voltar à zona de Yorkshire para rever os “bons amigos” que fez e de quem vai ter “imensa saudade”.

A pandemia não antecipou esse regresso “até porque o suporte financeiro que o governo inglês deu e dá aos trabalhadores que ficaram impedidos de trabalhar”, como foi o seu caso caso, “é bem diferente” das medidas de apoio lançadas pelo executivo liderado por António Costa.

Sandra Ribeiro esteve impedida de viajar durante seis meses para Portugal devido ao fecho do espaço aéreo. Quando conseguiu voo, não perdeu a oportunidade, todavia, por precaução, sempre que vem fica numa casa isolada nos primeiros dias até fazer o teste de despiste à Covid-19, doença para a qual já foi vacinada.