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Márcia Passos
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Marco Ramos
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Pedro Escada
É a 9 de outubro que, em Viseu, volta a sair à rua uma nova marcha pelos direitos da comunidade LGBTQI+. Será a quinta manifestação por direitos iguais por parte de lésbicas, gays, bisexuais, transgéneros, queer, intersexo, assexuais e demais possibilidades de orientação sexual e identificação de género.
Tiago Resende é um dos ativistas que está na plataforma Já Marchavas desde início. As iniciativas pela igualdade começaram em Viseu, há cinco anos. Ao Jornal do Centro, garante confiar que o caminho se faz caminhando e que houve passos importantes, mas pede que se aplique com urgência um Plano municipal LGBTQIA+. Nesse documento, estaria definida uma política local que, diz Tiago Resende, “permita aumentar a visibilidade, a participação e a igualdade de todas as pessoas”, nos mais variados lugares ou circunstâncias como “no espaço público, no acesso à saúde, no trabalho, no ensino, na cultura, na habitação, no desporto”. Defende o ativista que “essa prática tem de partir do serviço público como exemplo”.
Um documento que, diz a plataforma Já Marchavas, iria trazer proteção e igualdade a quem nem sempre é bem acolhido em serviços públicos. “As autarquias têm de prestar serviços onde não exista essa discriminação e preconceito. Em Viseu há pessoas que, quando se deslocam a serviços municipais, muitas vezes não sabem se esse apoio existe e não são bem recebidas”, exemplifica. Esta reivindicação vai estar no documento assinado por todas as entidades que apoiam a marcha.
Nesta quinta edição, a organização escolheu a ilustradora Maria Margarida para desenhar o cartaz do evento. No desenho, que retrata a fachada do Banco de Portugal e do Clube de Viseu, pode ver-se a marcha a chegar ao Rossio. Ali surgem pessoas a erguer cartazes, bandeiras arco-íris, balões em forma de coração e pessoas, muitas pessoas: idosos, jovens, crianças e adultos.
A artista viseense diz ter recebido por parte da Já Marchavas apenas um pedido: desenhar a diversidade. “Deram-me completa liberdade para fazer o que quisesse. A questão que ficou definida desde início era garantir a representatividade. De resto, a ilustração foi feita à medida que desenhava. Fiz muita pesquisa de outros cartazes e filmes LGBT para estar dentro do tema. A ilustração foi surgindo também através do diálogo com o Tiago [Resende] que me foi dando algumas ideias. Por exemplo, um dos detalhes de que eu gosto bastante, surgiu dele: os cravos vermelhos, relativos ao 25 de Abril. Deu um toque mesmo fixe e muito português à ilustração”, assinala.
Os cravos, lançados por alguém numa das janelas do Banco de Portugal foi um dos pormenores que mais agradou a Tiago Resende. Simbolizam os valores da Liberdade. Nada disto seria possível sem 25 de Abril. Esta alegria e cores estão bem representados pela Maria”, refere.
Numa altura em que se discute a nível internacional a ligação da arte ao protesto e à cidadania, Maria Margarida diz que um artista fará arte “pelo puro prazer” que lhe dá. Ainda assim, diz, “como indivíduos criativos, capazes de facilitar a transmissão de uma ideia, é importante que usemos a nossa capacidade de comunicação para passar estas mensagens”.
O cartaz, confessa, demorou duas semanas a ser pensado, desenhado e pintado. “Procurei ao máximo criar uma marcha com diversas etnias, sexualidades, género e idades. É muito importante que várias pessoas consigam olhar para uma ilustração que faça e rever-se nela. É fundamental e bastante bonito”, afirma a artista. A juntar ao desenho, Miguel Cardoso ficou responsável pelo design gráfico.
Em 2022 passam quarenta anos desde a eliminação da homossexualidade enquanto crime praticado em Portugal. Só em 1982 é que o Código Penal português riscou da lista de crimes ser-se homossexual. “Foi um momento histórico e a plataforma quer evocar essa data. Assim como passam 32 anos desde a eliminação da homossexualidade da lista de doenças mentais”, recorda Tiago Resende, que diz ser importante reforçar que “é da memória que se faz o caminho das lutas”.
Nascida em Viseu, Maria Margarida avança que a cidade está a “caminhar, ou melhor, a marchar para a inclusão”. Esse sentimento, diz a artista, “só haverá verdadeira inclusão quanto todos se sentirem seguros para serem quem são” e que isso ainda está por cumprir. Dia 9 de outubro sairá à rua mais uma marcha “pela igualdade e inclusão”.