Filipa Jesus

14 de 05 de 2021, 11:55

Autárquicas'21

Cabrita Grade: “vacinar é prioritário e estamos a canalizar os esforços necessários”

Percorremos o que já foi feito, em termos de vacinação contra à Covid-19 (e não só), pelas palavras de António Cabrita Grade, diretor Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões. Disse-nos que a imunidade de grupo está próxima de se alcançar, em fins do mês de agosto

Cabrita Grade

Como foi o início do processo de vacinação no Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões?

Isto começou de uma forma quase inesperada porque estávamos a contar só iniciar em janeiro. Portanto, na última semana de dezembro fomos confrontados com a situação de que teríamos de proceder à vacinação de profissionais de um dia para o outro. Tivemos que montar todo um esquema, toda uma máquina para vacinar os profissionais do ACES, naquela primeira semana. Depois, a partir do mês de janeiro, o processo foi alargado, não só aos profissionais de do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas também aos lares de forma gradual. Inicialmente num só concelho que, curiosamente, havia indicação de que iríamos começar por um determinado concelho do norte do distrito, mas a prioridade era decorrente do grau epidemiológico e da intensidade de situações que estavam a decorrer em determinados concelhos. Portanto, de um dia para o outro, passou-se a prioridade para um outro concelho. A partir da segunda semana, já se vacinava em dois concelhos e rapidamente a meio dessa semana passou-se a vacinar praticamente todo o ACES Dão Lafões, nos 14 concelhos. Era trabalhar em cima do momento, era preciso montar respostas imediatas.


Concordou com a forma como foi iniciada a vacinação?

Tem que haver sempre prioridades e isso cabe aos técnicos. Houve critérios que foram definidos pelos peritos a nível nacional, mas que estavam em alinhamento com as decisões a nível internacional. Numa primeira fase, o que se tinha definido era a vacinação das respostas para que os serviços continuassem a estar presentes e disponíveis, depois em termos dos lares, atendendo a que as pessoas idosas seriam aquelas que estariam mais expostas a situações de complicações da Covid-19. Passou-se para outras fases em que se começaram a vacinar as pessoas com um determinado tipo de patologias. Foram evoluções que respeitámos e agora estamos numa fase em que praticamente o que conta é mais a idade para escalonar a participação da população no esquema de vacinação. Estamos numa fase que é de massiva, neste momento, vamos tentar vacinar rapidamente o maior número possível de população para que possamos chegar ao fim do mês de agosto em que a imunidade de grupo esteja adquirida.


Que dificuldades surgiram no processo de vacinação no ACES Dão Lafões?

Acho que fomos postos à prova de uma forma efetiva. Quer dizer, nós fomos a exame e as coisas, a nível nacional e a nível do ACES Dão Lafões genericamente têm corrido bem, de acordo com aquilo que são as características da nossa população, com o número de vacinas que vão chegando ao nosso país. Portanto, temos sabido criar as condições para a administração destas inoculações sejam feitas com segurança para os utentes e também para os nossos profissionais. Os incidentes têm sido gostas de água porque o fundamental é aquilo que se tem feito. É muita hora de trabalho, com uma carga muito grande sobre os nossos profissionais e outras entidades que têm colaborado connosco. Pontualmente o que que aconteceu? Aconteceu logo no primeiro com aquele ajuntamento que se verificou à porta. Depois, tivemos um outro contratempo que foi em São Pedro do Sul, em que houve uma falha na cadeia de frio e estiveram à espera que o Infarmed, através das suas equipas de validação, dissessem aquilo que se tinha de fazer. De acordo com essas indicações, procedeu-se à vacinação de parte da população, outra já não foi vacinada. Houve um conjunto de vacinas que não reuniam as características de segurança e não foram administradas, tiveram que ser recolhidas.


Neste momento, qual é o ponto de situação?

Em termos do concelho de Viseu e do centro de vacinação de Viseu, a população elegível serão volta de 98 mil pessoas. Já com a primeira inoculação temos cerca de 32.200 pessoas. Com a segunda dose, temos já administradas cerca de 11,6 por cento da população inoculada, portanto, com o esquema vacinal completo. Isto no concelho de Viseu. No ACES, os números até são ainda mais significativos, temos cerca de 35 por cento com a primeira dose e cerca de 19 por cento com a segunda dose administrada na área toda do ACES. Estes são valores tendo em conta o dia de ontem (terça-feira, 11 de maio). São cerca de 251.500 pessoas elegíveis para ser vacinadas.


Há muitas recusas?

Não. Às vezes, os profissionais de saúde podem ter aqui um papel importante. Estive este fim de semana num centro de vacinação a trabalhar. Curiosamente, apareceram duas ou três pessoas que perante a situação de que se estava a vacinar com aquela vacina da AstraZeneca, mostraram-se indecisas se deveriam ou não tomar. A questão é muito simples: o médico pode dar a informação técnica, mas a decisão é da própria pessoa. O ato de administrar um medicamento tem sempre riscos, seja ele qual for, até um simples comprimido. O aparecimento de uma reação alérgica pode acontecer com qualquer tipo de medicação. A pessoa é que tem que fazer a sua opção. Dos 60 aos 65 anos é que se notou mais recusas. O número de reações adversas é mais com a Pfizer, mas são situações perfeitamente normais. Há uma coisa que é interessante e é preciso desmistificar que é quanto mais reação se obtém, portanto, com uma vacina da Covid-19 é sinal que o grau de resposta e de instalação da imunidade é mais eficaz porque o organismo reagiu à administração da vacina e isso vai criar um grau de imunidade ainda mais forte e possivelmente mais duradoura. Se não tiver reação nenhuma, a imunidade se calhar não é tão pronunciada.


O autoagendamento tem facilitado o processo de vacinação?

O autoagendamento é para facilitar a vida dos utilizadores e da população em geral. A nós, neste momento, havendo um sistema híbrido, cria-nos alguma dificuldade compatibilizar isto. Estamos a trabalhar no sentido de tentar que este agilizar das duas situações seja o mais efetivo possível porque mais cedo ou mais tarde isso vai cair praticamente tudo no autoagendamento ou no agendamento centralizado. Vai retirar os nossos profissionais de uma tarefa que é absorvente, complicada e que lhes retira aquilo que é a sua atividade normal que é prestar cuidados de saúde. Quando isso deixar de ser necessário é para nós o ideal. Neste momento, há algumas dificuldades mas que cada vez vão sendo menos porque os sistemas vão sendo afinados, no dia a dia.


A imunidade de grupo será alcançada no verão?

A meta será essa e acredito que sim. A imunidade de grupo não se adquire só com o processo de vacinação, adquire-se também com a doença ativa que nós ainda temos e com aqueles que já tiveram. Havendo a conjugação destes dois valores julgo que, por volta de fins de agosto, essa tal imunidade de grupo esteja adquirida. É evidente que estas são as metas e temos que ser realistas. Isto depende do volume de vacinas que vamos tendo disponíveis a nível do país.


Na sua opinião, a administração da vacina terá que ser feita com que frequência?

A comunidade cientifica está a estudar e julgo que para o ano até vamos ter vacinas da gripe já com alguma associação da Covid-19. Os coronas vírus já são conhecidos, todos os anos temos infeções respiratórias e que eram provocadas pelo coronavírus. A vacina da gripe deste ano já tinha incorporado a Gripe A. O SARS-CoV-2 é mais uma situação que está na comunidade e que vamos saber reagir com as nossas defesas naturais para essas situações.


Com que regularidade chegam vacinas ao ACES Dão Lafões?

Todas as semanas e mais que uma vez. Pelo menos duas vezes por semana.


O levantamento das patentes será uma solução para haver um maior número de vacinas a chegar?

Não tenho uma ideia formada porque as duas situações podem ser defensáveis. Agora, o que acho é que as questões técnicas e garantia da segurança daquilo que é administrado em cada país, temos que ter a garantia que é mesmo isso. Havendo uma liberalização sem um controle de regras de segurança por entidades que fizessem isso. Temos entidades reguladoras muito fortes cá em Portugal e na Europa e há a certeza de que não seriamos alvo desse tipo de situação. Mas, continuo com muitas duvidas acerca da bondade e do conteúdo final do que se pretende.


Quantas pessoas ao todo estão envolvidas nesta operação de vacinação contra a Covid-19 do ACES Dão Lafões, entre profissionais de saúde e também voluntários?

Os números não sei. Mas, posso dizer que são todos os enfermeiros, são todos os médicos, são todos os administrativos do ACES Dão Lafões. Depois, temos a nível dos diferentes concelhos situações muito particulares: desde apoios de funcionários camarários que estão a dar apoio. Depois, também temos situações como é o caso de Viseu, em que temos a Liga de Amigos e Voluntariado do Centro Hospitalar Tondela-Viseu e o Banco de Voluntariado de Viseu que nos têm dado um apoio que é inexcedível porque, de facto, sem a presença deles seria muito difícil estarmos a fazer aquele trabalho.


Haveria recursos se os voluntários não existissem?

Tínhamos que arranjar recursos. Mas, a questão não é o número de recursos, no caso concreto de Viseu a experiência que têm de gestão da porta das consultas externas, deu-lhes uma vontade para estarem ali a fazer aquele tampão, aquela gestão de porta como tão bem estão a fazer. Os que estão lá dentro fazem outras tarefas, que não são menos importantes e que nos dão uma ajuda preciosa. A essência do voluntário é mesmo essa e estarem disponíveis para fazer o voluntariado.


Os centros de saúde têm ficado ‘desfalcados’ durante o processo de vacinação?

Há sempre algum reflexo sobre a atividade nas unidades, se bem que maioritariamente estas atividades têm sido feitas em horas extraordinárias. Há sempre algum rebate que tentamos que seja minimizado, mas é impossível. Neste momento, vacinar é prioritário e estamos a canalizar os esforços necessários.