Filipa Jesus

14 de 09 de 2021, 16:07

Autárquicas'21

No arranque da campanha, quase todos foram às compras à feira semanal

Seis dos oito candidatos à Câmara Municipal de Viseu foram à feira semanal no primeiro dia de campanha oficial. CDS e Chega ‘falharam’ devido ao mau tempo e optaram por outras iniciativas

 Campanha feira Semanal PS

Fotógrafo: Igor Ferreira

“Tenham atenção às águas aqui na feira. Quando chove isto fica tudo inundado”. A frase saiu a João Pereira tão espontaneamente que se perdeu nos suspiros que se seguiram. Em instantes, o feirante atirou uma série de queixas sobre as condições do pavimento do recinto da feira semanal, das instalações sanitárias, dificuldades de escoamento das águas e por aí adiante. Se havia dúvidas de que estávamos junto à campanha de uma das candidaturas à Câmara de Viseu, ficaram esclarecidas.

É certo que o mau tempo ameaçou ‘cancelar’ o arranque oficial da campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 26 de setembro, mas não chegou para travar as arruadas. É o primeiro dia de campanha, é terça-feira e dia de feira. Durante a manhã, o Jornal do Centro percorreu o recinto para perceber a resposta das pessoas aos candidatos a Viseu.

Já próximos da entrada junto à Escola da Ribeira, encontrámos Fernando Ruas, candidato pelo PSD à autarquia, e o grupo que o acompanhava, incluindo João Paulo Gouveia, atual vice-presidente e recandidato ao cargo. À sua frente, apenas bombos e concertinas a anunciar os sociais-democratas ao som da frase ao som da frase “Ruas vai em frente, tens aqui a tua gente”. Depois de 24 anos à frente da Câmara, recebeu abraços, ouviu as inquietações dos comerciantes e palavras de apoio.

Aos jornalistas, o cabeça de lista do PSD disse que a feira semanal deve manter-se no espaço atual, mas que “merece uma boa requalificação” para poder ter um “uso diferenciado”.

No seu entender, a feira realiza-se num “lugar ótimo”, mas que tem de ser “requalificado devidamente”.“Este espaço tem vindo a ser melhorado, mas, naturalmente, precisa de mais melhorias. Mas é um espaço num sítio ótimo, com uma acessibilidade impressionante, sobretudo a partir do momento em que fizemos a circular Norte”, acrescentou.

O candidato social-democrata, que foi presidente da autarquia entre 1989 e 2013, lembrou que o espaço recebe não apenas a feira semanal, mas também serve de parque de estacionamento, podendo vir a ter até outros usos.

Fernando Ruas disse ainda sentir-se entusiasmado por voltar a ter uma ação de campanha na feira, onde é sempre bem recebido. “Deixem passar a imodéstia, mas há aqui uma aproximação muito grande entre eleito e eleitor. Eu gosto das pessoas. Se não gostasse das pessoas, não me candidataria à Câmara”, garantiu, “se há momentos que gosto de fazer durante a campanha é exatamente vir à feira semanal”.

Na outra ponta do recinto, junto à entrada que faz ligação ao parque urbano de Santiago, encontrámos a comitiva de João Azevedo, candidato à Câmara de Viseu pelo PS. Logo nas primeiras palavras que soltou, garantiu-nos que irá ganhar as eleições do próximo dia 26 de setembro. “Estamos aqui para ganhar as eleições. A sondagem da rua dá-nos um resultado completamente diferente. As sondagens são importantes, devem ser valorizadas, mas há sondagens para todos os gostos e nós sabemos do que estamos a falar”, lançou, após o questionarmos sobre a sondagem que o Jornal do Centro divulgou que, por sinal, dá uma vitória folgada a Fernando Ruas.

O cabeça de lista do PS à Câmara de Viseu frisou que “o resultado que apareceu nas sondagens foi o que foi, mas neste momento estamos aqui com o povo e com as pessoas todas atrás de nós”. Ao olhar em redor, o candidato disse ainda que o recinto da feira semanal tem uma “infraestrutura desagradável para quem vende e para quem vem consumir nesta zona da cidade e do concelho” e que terá que ser requalificado.

Do outro lado do recinto, na entrada junto à Escola Secundária Emídio Navarro, a Iniciativa Liberal (IL) estacionou a sua sede itinerante e parou uns momentos para ouvir as pessoas e distribuir alguns flyers da candidatura. “A Iniciativa Liberal sendo um partido novo é, apesar de tudo, um partido que já começa a ser reconhecido, as pessoas abordam-nos, colocam-nos algumas questões, são muito recetivas e, portanto, o feedback tem sido positivo mesmo”, afirmou o candidato pela IL a Viseu, Fernando Figueireido, frisando que o importante é “dar a conhecer as ideias” do projeto aos cidadãos e dar a conhecer os rostos de quem quer “fazer diferente e ser a terceira força política”.

Quanto à feira semanal, o candidato quer deslocalizar os feirantes para junto do Fontelo e requalificar o atual espaço da feira semanal para o devolver ao Rio Pavia. “Temos uma proposta para melhorar estas condições, quem sabe deslocalizar este espaço e recuperar este espaço para o Pavia. Criar aqui um grande espelho de água para que a cidade também se possa virar para aqui e possa ter aquela vertente ribeirinha e com isso conquistar algum turismo, algum lazer, um espaço de restauração e esplanadas para a cidade ganhar uma outra dinâmica”, explicou, além de considerar “que é um momento também para olharmos para este espaço, olharmos para os feirantes e pensarmos que, de facto, ainda é uma solução que responde às suas necessidades”.

Mesmo no centro da feira semanal, a candidata bloquista à Câmara de Viseu, Manuela Antunes, acompanhada por Carolina Gomes, cabeça de lista à Assembleia Municipal, disse ao Jornal do Centro que o feedback das pessoas estava a ser “bom por um lado e mau por outro porque o mercado tem pouca gente a comprar, a circular e também tem poucos feirantes” que, além do mau tempo que se fez sentir durante a noite, “também terá relacionado com a questão da economia e se calhar da questão das pessoas não terem tantos meios para fazer as suas compras”.

O Bloco de Esquerda afirmou-se como a força de esquerda destas eleições autárquicas e no primeiro dia de campanha, Manuela Antunes garantiu ao Jornal do Centro que “a nossa esquerda é a esquerda útil, é a esquerda que as pessoas devem apostar para fazermos uma oposição forte na Câmara Municipal e em todos os órgãos a que concorremos”. A seu ver, resta esperar pela decisão dos viseenses, "se querem continuar com as mesmas pessoas de sempre com maiorias ou se querem uma alternativa seria que leva a voz das pessoas aos órgãos”.

Ainda ao longe, avistámos a candidatura da CDU a distribuir panfletos. Apressámos o passo e conseguimos conversar com Francisco Almeida, cabeça de lista do partido à autarquia viseense. Perguntámos-lhe pelo feedback que a comitiva estava a ter durante a manhã desta terça-feira (14 de setembro). Disse-nos que “o que ouvimos dos comerciantes são queixas atrás de queixas, problemas com o terreno da feira, com o escoamento de águas, das instalações sanitárias e queixam-se do negócio” e, por isso, na sua opinião “a Câmara Municipal precisava de olhar para este espaço”. O candidato defendeu ainda que a criação no concelho de um entreposto de recolha, transformação e escoamento de produtos, dotado de matadouro.

“Defendemos a criação no concelho de Viseu de um entreposto que sirva para recolher, eventualmente transformar e comercializar os produtos locais da agricultura, hortícolas, frutas e pecuária”, disse o cabeça de lista da CDU, além de considerar que “continua a ser incompreensível que Viseu não tenha um matadouro” e que “para matar um animal e o poder vender tenha de se ir a Aveiro”. “Isso acrescenta logo euros e euros em cima que depois se vão refletir no consumidor”, lamentou.

Além de ouvir as preocupações dos feirantes, a candidatura foi alertada para “a necessidade da Câmara olhar para as freguesias rurais, disseram-nos que as estradas e os caminhos estão muito maus e que era preciso, além da cidade, cuidar também das freguesias e essa é uma preocupação que temos também na CDU”. Já a terminar, confessou-nos também que houve pessoas a garantir o voto.

Por último, encontrámos o candidato à Câmara pelo Pessoas - Animais - Natureza (PAN), Diogo Chiquelho, que contou com a cabeça de lista à Assembleia Municipal, Carolina Almeida. Juntos, percorreram os corredores da feira e distribuíram informação sobre as suas ideias para a autarquia. A feira é um local que o cabeça de lista do PAN quer manter e requalificar para dar melhores condições aos comerciantes e a quem por lá passa.

“É um local icónico na cidade, um local onde podemos encontrar todo o comércio. E nesta fase pós-pandémica, estamos aqui para motivarmos o comércio e este é sempre um bom ponto de partida também para preservarmos aquilo que é a identidade da feira semanal de Viseu”, assinalou.

Aos jornalistas, Diogo Chiquelho defendeu que “a identidade (da feira semanal) é para se manter, mas requalificada”, uma vez que os comerciantes precisam de “melhores condições”, porque é a eles que se deve “muito daquilo que é a dinamização de Viseu”.

“Há pessoas que vêm para Viseu uma vez por semana, precisamente para vir aqui. Portanto, é um local que reúne e atrai muita gente que vem de fora e temos de saber respeitar os nossos comerciantes”, defendeu.

O CDS foi um dos partidos que, devido ao mau tempo, ‘falhou’ a típica ida à feira semanal, mas o candidato à Câmara pelo partido, Nuno Correia da Silva, garantiu que ao final da tarde irá passar pelas lojas do centro da cidade. Ao Jornal do Centro, o cabeça de lista do CDS disse que “umas das nossas grandes preocupações são os pequenos empresários, as pessoas que não têm ordenado certo, que foram afetadas com severidade pela pandemia e que, neste momento, querem retomar, mas estão sem disponibilidade financeira”.

Segundo o candidato, vai ser criado “um fundo que permitirá injetar liquidez e essa liquidez permitirá revitalizar o comércio local”.

“[Queremos] dizer que não estão sozinhos, não podem estar sozinhos, porque foram solidários com todos os outros quando fecharam as portas, que foram solidários no combate à pandemia, foram solidários no esforço para ultrapassarmos isto e agora os poderes públicos e, nomeadamente, a Câmara Municipal, tem de dizer que também está presente, também está junto deles, não os vai abandonar”, declarou.

A chuva também afastou as ações de campanha do Chega. O candidato à Câmara, Pedro Calheiros, assegurou ao Jornal do Centro que o partido vai tentar estar próximo das populações. “O Chega pretende uma maior proximidade com as pessoas. Temos um plano mais ou menos desenhado, mas este plano foi por água abaixo com as tempestades que estão anunciadas, portanto, vamos ter que fazer um ajustamento”, adiantou, garantindo as “idas a várias freguesias e aldeias, mas não há nenhumas certezas, a não ser a Ribafeita no domingo (19 de setembro)”.

À presidência da Câmara Municipal de Viseu concorrem nestas eleições, João Azevedo (PS), Fernando Ruas (PSD), Nuno Correia e Silva (CDS-PP), Diogo Chiquelho (PAN), Francisco Almeida (CDU), Manuela Antunes (BE), Fernando Figueiredo (IL) e Pedro Calheiros (Chega).

Neste momento, o município é liderado por Conceição Azevedo(PSD), que assumiu a presidência em abril de 2021, após a morte, devido a complicações de saúde provocadas pela covid-19, de António Almeida Henriques, que liderava a Câmara desde 2013, tendo, em 2017, conquistado 51,74% dos votos (seis mandatos), e o PS 26,46% (três mandatos).