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Joaquim Alexandre Rodrigues

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O caso Allan Guedes Sharif: de um telemóvel de teclas a um negócio de família de burlas qualificadas e extorsão

Hoje são mais sofisticados, mas há quase 18 anos bastou um telemóvel de teclas para ser criado um dos maiores esquemas de extorsões e burlas qualificadas. Envolveu ameaças de bombas, agentes do FBI em colaboração com a PJ, milhares de escutas, horas e horas de vigilância e um jogo do gato e do rato para apanhar o luso-americano que fazia vida entre Chãs de Tavares (Mangualde) e Viseu e que mesmo dentro da prisão continuava a praticar crimes. Allan Guedes Sharif foi novamente condenado este ano. Esta na Cadeia de Monsanto, mas serão as paredes suficientes para travar o homem que se considera um “génio informático” mesmo que os tempos sejam outros? O relatório social duvida

 O caso Allan Guedes Sharif: de um telemóvel de teclas a um negócio de família de burlas qualificadas e extorsão
15.02.25
fotografia: Jornal do Centro
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 O caso Allan Guedes Sharif: de um telemóvel de teclas a um negócio de família de burlas qualificadas e extorsão
15.02.25
Fotografia: Jornal do Centro
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 O caso Allan Guedes Sharif: de um telemóvel de teclas a um negócio de família de burlas qualificadas e extorsão


Eram 6h00 da manhã e um segurança da empresa Walmart, nos Estados Unidos da América, recebeu uma chamada de um homem que se identificou como Robert e como sendo antigo empregado daquela firma. Ao telefone disse que tinha em seu poder 20 reféns, todos daquela empresa, e que tinha instalado uma bomba nos armazéns da companhia. Caso não fossem transferidos nove mil dólares para Portugal, ele faria detonar a bomba em questão. Aconteceu a 28 de agosto de 2007. Duas tranches foram transferidas. A terceira, o FBI conseguiu impedir.

Esta é uma das muitas histórias de ameaças que foram feitas a partir de Portugal e que tinham como destinatários agências financeiras e empresas e que colocou o FBI e as autoridades portuguesas num jogo do “gato e do rato” para conseguir apanhar Allan Guedes Sharif, o luso-americano que a partir de Chãs de Tavares, Mangualde, tinha um esquema de extorsão montado, uma espécie de “empresa familiar” em que todos tinham o seu cargo e funções. Foi há quase 18 anos, mas o nome de Allan não está esquecido.

A história pela qual ficou mais conhecido foi por ter instigado um assalto a um banco em Miami em que convenceu um empresário português em dificuldades, Paulo Almeida, a apresentar-se ao balcão e a passar o telefone ao funcionário para Sharif, em Portugal, o ameaçar com a explosão de uma bomba se não transferisse dinheiro.

A notícia foi dada em Portugal e foi o ponto de partida para a colaboração entre as autoridades portuguesas e o FBI, ainda antes de desfiar um novelo que estava só no início. 

Num relatório enviado por esta polícia à direção nacional da Polícia Judiciária lia-se que “entre 18 e 30 de agosto de 2007, um indivíduo que se supõe ter dupla nacionalidade identificado como Allan Guedes Sharif, através de ameaças de bomba e outras formas de intimidação – provavelmente contando com a colaboração de cúmplices e/ou co-autores nos EUA fisicamente colocados junto das vítimas – extorquiu, a várias entidades e em diferentes cidades americanas – agências bancárias, lojas da Walmart e outros estabelecimentos comerciais – montantes de valor global estimado em cerca de 500 mil dólares americanos”. Allan efetuou mais de 20 chamadas telefónicas para esses estabelecimentos.

A investigação montada envolveu muitas horas de vigilância e milhares de escutas telefónicas, uma vez que os intervenientes estavam sempre a mudar de número de telefone. Mais tarde, começaram a usar o serviço VOIP em que, por palavras simples, se faz chamadas por internet e que, na altura, ainda estava a dar os primeiros passos. Foi esta complexa investigação (ver esquema) e que resultou em centenas de páginas de conversas e trocas de correspondências entre as autoridades que constam do processo judicial de Allan Sharif que é constituído por dezenas de tombos e que ainda este ano (ver texto nestas páginas) voltou a incluir mais uma entrada na sua longa ficha biográfica que conta com mais de 30 páginas. 

Arruaceiro e provocador, diz-se em Chãs de Tavares

Chãs de Tavares é um aldeia com pouco mais de 1000 habitantes. Todos conheciam a família Guedes e alguns até as “zaragatas” em que Allan se metia. Na localidade, fala-se dos trabalhos “à revelia” que eram feitos, o uso de explosivos de forma ilegal e o estilo “arruaceiro e provocador” do luso-americano, o jovem que vinha de Nova Iorque, onde nasceu, filho de emigrantes – o pai cidadão da indonésia e a mãe cidadã portuguesa. Ficou nos EUA até aos 13 anos, altura em que veio para Portugal e ficou a viver com um tio materno até ter concluído o ensino secundário. 

Ao longo da vida registou períodos de vivência entre Portugal e os EUA. Em 2003 regressou definitivamente a Mangualde por “questões penais” na América. Allan Sharif disse que era detentor de duas licenciaturas (engenharia civil e informática) e que trabalhou no Citibank na América. 

De acordo com a avaliação social feita, dá-se conta que no período em que esteve em prisão preventiva – 2008 até 2013 – “não percepcionou essa experiência com o oportunidade de mudança, não alterando a forma de pensar e agir pelo que continuou a atividade criminosa. A 31 de março de 2010 foi condenado a uma pena de prisão de 17 anos que, com outros crimes que entretanto praticou, passou a cumprir, em cúmulo jurídico, 21 anos.

O criminoso – atualmente está na Cadeia de Monsanto (desde 2020) e ficou conhecido como génio informático – é responsável por quase uma centena de crimes que vão desde a extorsão, burlas qualificadas e branqueamento de capitais. 

Ainda não se ouvia falar das burlas como o “Olá Pai, Olá Mãe”, mas já Allan Sharif conhecia as “vantagens de um telemóvel e da internet”. Mesmo preso continuou a praticar crimes. Como algumas testemunhas contaram: “só precisava de um telemóvel porque lábia sempre teve”. 

“Pelo que é dado a observar e atendendo ao longo percurso de desviança, apesar da intervenção da justiça a que está sujeito, mantém, na atualidade, a tendência para isentar-se de responsabilidades não obstante reconhecendo satisfação pessoal (pela adrenalina provocada) na prática dos actos pelos quais tem vindo a ser condenado”, lê.se no relatório social de Sharif que verbalizou algum desgaste pelos vários anos de prisão, considerando que a tipologia dos crimes pelos quais cumpre pena não se enquadram num nível de gravidade que justifique a dimensão de pena. 

“Sobre condutas criminais idênticas as que está acusado, não reflecte sobre prováveis danos causados a terceiros, nem no impacto das mesmas em termos sociais”, aponta ainda o relatório social.

Em 2022, os serviços sociais e prisionais informavam que “por vezes tem existido a necessidade de proceder à sua transferência para outros estabelecimentos prisionais e, temporariamente, tem sido mantido em regime de segurança atendendo a suspeitas de envolvimento em actividade criminosa com outros reclusos e a relatar, por vezes, ser vítima de extorsão e agressão por parte de outros companheiros de reclusão”.

Um ano de prisão por esquema na Prisão da Guarda e agências funerárias lesadas

Um enfermeiro do estabelecimento prisional da Guarda entregou um telemóvel Nókia 5200 a Allan Sherif para uso deste e de mais presos. Foi o princípio para uma história que envolveu uma imobiliária em Portimão e a promessa de compra de dois apartamentos. Sharif falou com a agente imobiliária e dias depois esta estava a fazer transferências para contas que eram indicadas pelo luso-americano, entre elas a de um restaurante na Guarda onde o detido tinha uma dívida pelo envio de refeições para o estabelecimento. No total, foram extorquido mais de cinco mil euros. O caso veio-se a descobrir porque os colegas de celas, entretanto, chatearam-se.

Outra história envolve as agências funerárias de Ílhavo e Murtosa (distrito de Aveiro), Mêda (Guarda) e Peso da Régua (Vila Real).

Os crimes ocorreram entre julho a novembro de 2014, quando o luso-americano continuava detido no Estabelecimento Prisional da Guarda. A partir da cadeia, Sharif ou alguém da sua confiança terá contactado as agências funerárias e pedido que as mesmas custeassem o processo de trasladação de um cadáver para Portugal – sendo que o valor lhes seria devolvido posteriormente. No entanto, as transferências foram realizadas para contas bancárias de familiares de indivíduos que estavam ou tinham estado na prisão da Guarda com Sharif e que lhe faziam chegar as quantias monetárias. Um dos coniventes afirmou às autoridades que recebeu dinheiro por ter lavado “a roupa à mão” a Sharif. 

Novamente condenado em 2025

Allan Guedes Sharif foi condenado a 10 de janeiro deste ano pelo Tribunal de Viseu a cinco anos e seis meses de prisão. O arguido, foi punido pela prática de três crimes de burla qualificada.

Além deste, o coletivo de juízes condenou outros quatro arguidos também por burla qualificada. O tio de Allan Sharif foi condenado a dois anos e quatro meses de prisão efetiva e a um amigo da família foi-lhe aplicada a pena de prisão suspensa de oito meses.

Já duas mulheres, familiares de Allan Sharif, foram condenadas a pena de prisão suspensa de um ano para uma arguida e de 10 meses para a outra. Os arguidos terão ainda que entregar ao Estado mais de 40 mil euros.

Estas condenações dizem respeito ao caso que remonta a 2007, quando Allan Sharif tentou assaltar um banco por telefone nos Estados Unidos e, na sequência dessa investigação, foi possível apurar que também lesou diversas pessoas em bancos de vários países.

O luso-americano chegou a ser julgado e em 2010 foi condenado pelo Tribunal de Mangualde a 17 anos de prisão pelos crimes de burla qualificada, extorsão e branqueamento de capital que lesaram instituições financeiras em vários países.

Outros Factos: 

Allan Sharif voltou agora a ser condenado, depois de o tribunal ter conseguido localizar mais pessoas envolvidas no caso de países como Inglaterra. O arguido ouviu esta nova condenação por videoconferência e a partir da cadeia de Monsanto.

As autoridades portuguesas montaram vigilância a um apartamento usado por Sharif e namorada na Quinta do Bosque, onde a polícia pensava que era a sua base de operações 

O dinheiro que era transferido via Money Gran ou Western Union era normalmente levantado na dependência dos CTT da Loja do Cidadão de Viseu, no aeroporto do Porto, em vários postos dos CTT desde Viseu, passando por Mangualde ou Figueira da Foz, além de dependência sbancárias como Montepio Geral ou Millennium 

Uma funcionária da Loja do Cidadão de Viseu alertou os superiores para aquilo que considerava ser suspeito na atitude de quem estava a levantar o dinheiro da transferência (quase nunca era Sherif, mas sim alguém da sua confiança)

Das interceções telefónicas efetuadas, a polícia constatou que, ao contrário do que apontavam os seus rendimentos lícitos declarados, este praticava uma vida bastante “faustosa e dispendiosa” desde a aquisição de TV plasmas, telemóveis de última geração (tinha acabado de sair o Iphone) a carros de alta gama

“Aproximadamente 15 minutos após as 23 horas, atendi o telefone na Star Market no balcão de atendimento. Do outro lado da linha estava um indivíduo que me disse para eu fazer o que ele me dizia: para ir ao computador do WU (Western Union) e fazer o login e para eu não dizer ou fazer nada ou então seria atingido por uma bomba colocada na cave. Um dos caixas tinha justamente acabado de chegar ao trabalho e entrou no balcão. Dirigiu-se a mim. Tentei chamar a atenção dela. O tipo que estava ao telefone perguntou quem é que estava ali e o que é que eu lhes estava a dizer. Disse-lhe que ao meu lado uma caixa mas que não estava a falar com ela. Ao mesmo tempo escrevi a palavra bomba num pedaço de papel. Quando ela percebeu o que eu estava a tentar dizer-lhe informou o gerente de serviço e chamaram a polícia. Durante este tempo todo ele manteve-me ao telefone para terminar a transação na WU e dizia-me para fazer o que ele mandava e para ter calma. Ameaçou-me muitas vezes durante esta conversa, dizendo-me que seria atingido pela bomba. Quando a polícia chegou, um dos funcionários tirou-me o auscultador do telefone, E foi nesse momento que saí do computador da WU”Testemunho de um funcionário num dos casos da extorsão em 2007

Como era o esquema de extorsão

1 – Allan Guedes Sharif (AGS) escolhe uma qualquer entidade (Instituições Bancárias

– Commercial Bank of Florida, Grupos Comerciais – Wal-Mart, Lojas de Câmbios – Western Union e MoneyGram, etc.) que lhe dá garantias de poder pagar o valor que vier a exigir;

2. A entidade escolhida por AGS tem instalações em território americano – EUA;

3. AGS efectua um contacto telefónico, utilizando o telemóvel e um cartão telefónico português, para a entidade escolhida e profere uma ameaça de bomba;

4. Para que a bomba não seja acionada, AGS exige o pagamento de uma avultada quantia monetária (habitualmente diversas tranches de 2.000,00€), a será efectuada através da transferência do dinheiro exigido utilizando a Western Union ou a MoneyGram;

5. Com receio a entidade ameaçada efectua as transferências monetárias exigidas, para os beneficiários indicados AGS,

6. À transferência monetária efectuada pela entidade extorsionada é atribuído um código de transferência, denominado de forma geral por MTCN, código que é transmitido a AGS para que o dinheiro extorquido possa ser levantado;

7. O indivíduo cujo nome foi indicado por AGS como beneficiário da transferência monetária extorquida, já devidamente informado e instruído, encontra-se junto do local de levantamento do dinheiro (CTT, Bancos, Lojas de Câmbios);

8. AGS informa o seu cúmplice (familiar ou indivíduo de grande confiança) que a transferência foi efectuada;

9. O indivíduo indicado por AGS procede ao levantamento da quantia monetária extorquída;

10. O dinheiro extorquido é entregue a outro indivíduo familiar ou indivíduo de grande confiança), que o deposita numa conta bancária (própria ou criada para o efeito) e posteriormente efectua diversas transferências bancárias para a conta final;

11. Repete-se o esquema com sucessivas exigências e ameaças, até a entidade extorquida constatar que está a ser enganada.

A escolha dos EUA não é uma escolha ocasional, prende-se com o facto de AGS dominar de forma perfeita o inglês, bem como o facto de os EUA ser um constante alvo de acções terroristas, tornando os seus alvos mais susceptíveis de acreditar na ameaça e aceitar as exigências de quem ameaça.

 O caso Allan Guedes Sharif: de um telemóvel de teclas a um negócio de família de burlas qualificadas e extorsão

Burlas informáticas com novos métodos estão a multiplicar-se

A operação anual da Interpol de luta contra fraudes informáticas teve em 2024 um resultado recorde, com mais de 5.500 detenções e 380 milhões de euros apreendidos em todo o mundo, segundo este organismo.

Em Portugal, o número de crimes de burla informática continua a crescer de forma preocupante. Os números de 2023 indicam que a a Polícia Judiciária (PJ) recebeu 18.815 queixas deste tipo, representando uma média superior a 50 participações diárias. 

De acordo com Carlos Cabreiro, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da PJ, a expansão dos meios digitais e o uso crescente de métodos de pagamento não bancários são fatores determinantes neste fenómeno. A proliferação de cartões de pontos e a virtualização dos cartões têm facilitado a atuação dos cibercriminosos.

Em 2024, por exemplo, a PSP e GNR receberam 4467 queixas de lesados por esquemas fraudulentos através da aplicação MB Way.

Um dos casos recentes envolveu dois suspeitos que se faziam passar por responsáveis de uma empresa para ordenar transferências e modificar contas bancárias para pagamento. 

Desde 2022, a legislação para crimes cibernéticos tornou-se mais rigorosa, com a classificação das burlas informáticas como “abuso de cartão de garantia ou de cartão, dispositivo ou dados de pagamento”, permitindo uma moldura penal mais severa. Segundo Cabreiro, esta mudança fortaleceu o enquadramento legal, beneficiando tanto as entidades bancárias como as vítimas.

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