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A comemoração dos 75 anos do Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão veio confirmar aquilo que já se esperava para o futuro: estudar, explorar novas hipóteses e conhecer outras castas que ainda permanecem ‘secretas’. Como “prenda de aniversário”, o centro irá receber um investimento de 850 mil euros no próximo ano para se criarem condições para se desenvolver a investigação e difusão de conhecimentos relacionados com o setor, anunciou o secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, em visita ao CEVDão.
Se em todos estes anos já muito se fez para abastecer toda a fileira vitivinícola regional e nacional de novas ideias, os próximos tempos vão (certamente) apostar na inovação.
Criado a 21 de novembro de 1946, o CEVDão teve, desde logo, a missão de responder aos constrangimentos e desafios que assolavam o setor da vitivinicultura na época. Na verdade, pouco mudou. Hoje em dia, a sua atividade baseia-se na experimentação e conhecimento que desenvolve. O objetivo é também valorizar o setor e trabalhar de ‘mãos dadas’ com a comunidade científica e a fileira do vinho do Dão. Tudo para prever possíveis dificuldades que se possam ‘entrelaçar’ nas videiras da região e melhorar as castas regionais e autóctones.
“Qual é a missão do centro de estudos para o futuro? Pensamos que é precisamente a mesma que foi definida há 75 anos que é apoiar vitivinicultura do Dão. E como? fazendo ensaios, colaborando na definição de outros trabalhos”, começou por dizer Vanda Pedroso, responsável pelo centro, enquanto falava na cerimónia da comemoração dos 75 anos do CEVDão, em Nelas.
A seu ver, a prioridade é a chamada inovação. É também analisar e estudar outras castas que, até ao momento, pouco ou nada se conhece sobre elas.
Em 2017, instalaram-se todas as castas previstas da legislação do Dão e “acabamos por instalar mais quatro brancas e três tintas porque havia espaço livre no ensaio”, recordou. “Neste momento, temos 92 castas em três repetições. Cada unidade experimental está representada por 24 plantas, ou seja, nós de cada casta, neste momento, temos 72 plantas instaladas”, adiantou a responsável.
O objetivo? “É conhecer as castas nas suas vertentes, como a fenologia, os seus hábitos de frutificação, características morfológicas, a compacidade, o tamanho do bago, o número das grainhas, o nível produtivo das castas, suscetibilidades a doenças e pragas, que vinho vai produzir aquela casta”. E a lista continua.
“Esse conhecimento vai-nos permitir escolher, a curto prazo, castas com algum interesse para nós diversificarmos o encepamento que temos na região que está reduzido a quatro ou cinco castas. A longo prazo, permite-nos uma defesa e uma mitigação das alterações climáticas e uma expressão do seu potencial”, explicou.
Além disso, o CEVDão vai continuar com o habitual trabalho de seleção e prospeção. “Este ano, começámos com a prospeção do Fernão Pires para uma nova etapa de seleção. É preciso continuar a prospetar na região para encontrar um número de plantas suficiente para o caso destas castas mostrarem interesse ou algum problema para resolver, se possa fazer seleção”, sublinhou, além de frisar que “estamos abertos à execução de outros ensaios que possam resolver problemas da região”.
Para este próximo ano, as metas a cumprir, nas palavras de Vanda Pedroso, são várias: “falar sobre as castas, tentar fazer o curso de identificação e caracterização das castas, portanto, o objetivo é que outras pessoas comecem a identificar as castas da região”, lançando o conhecimento para a geração seguinte.
E continuou: “tentar fazer uma prova sensorial dos bagos, fazer os encontros com as castas do dão, tentar falar sobre o que conhecemos de cada casta para transmitir aquilo que sabemos, fazer a monitorização do estado hídrico da vinha, ou seja, ensinar a regar a vinha e também continuar com as boas práticas sanitárias, reconhecer as doenças, saber como as tratar”.
Termina-se com aquilo que se quer (também fazer): as jornadas técnicas para partilha de informação entre viticultores, enólogos e técnicos da região. O CEVDão é uma estrutura experimental da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, integrada na Rede de Inovação do Ministério da Agricultura.
E o investimento?
O presidente da Câmara de Nelas, Joaquim Amaral, defendeu, durante a sessão comemorativa (que o secretário de Estado encerrou), que “urge que o centro de estudos tenha melhores condições e que continue a ter um papel principal na investigação e na transferência de conhecimento para os produtores”.
“Para alcançar este objetivo, é indispensável que se concretize o anunciado reforço do número de técnicos, de recursos humanos, bem como de recursos tecnológicos, que se proceda à requalificação dos edifícios, criando desta forma condições para vir a ser transformado num polo de investigação e inovação de referência”, apontou Joaquim Amaral.
O secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural disse à agência Lusa que o Ministério da Agricultura “em articulação com a Câmara Municipal” está a “preparar os projetos de arquitetura que é preciso e isso está a ser feito e é a primeira fase que vai avançar”.
Rui Martinho assumiu que o seu Ministério não quer fazer uma intervenção no centro de Nelas para melhorar as infraestruturas, mas sim “fazer uma intervenção que garante, de facto, que aqui vão ser feitas atividades que sirvam o setor do vinho, a região do Dão e a agricultura do país”.
O governante deixou ainda a garantia de que “quem quer que venha a seguir” às eleições legislativas de 30 de janeiro “seguramente continuará a dar sequência a este projeto, porque é muito importante para o país” e, por isso, conta com um investimento de “cerca de 850 mil euros”.