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Virado de frente para a Câmara Municipal de Viseu, do outro lado da estrada que separa o Rossio da Rua Formosa, encontra-se um dos edifícios mais imponentes da cidade de Viseu, que remonta para um tempo anterior ao século XX. Não se trata do edifício do Banco de Portugal, mas sim do Clube de Viseu, fundado em 1881.
Na altura, contudo, o seu nome era outro: Grémio de Viseu. O “Grémio” resultou da fusão de dois clubes existentes na cidade, estes a Assembleia Viseense e o Clube de Viseu. Os primeiros estatutos do clube privado foram aprovados a 24 de fevereiro de 1881. Este edifício, escolhido pelos fundadores do clube, pertencia a D. Rui Lopes de Sousa, proprietário abastado da povoação de Santar. Um incêndio no edifício pouco tempo após a conclusão de obas levaram o nobre desgostoso a vender a casa aos fundadores do “Grémio de Viseu” pelo valor de quatro contos de reis. As eleições para os órgãos da direção deste clube foram anunciadas nos jornais “Viriato”, “Jornal de Viseu” e “Distrito de Viseu”.
A “Assembleia Viseense” localizava–se, antes da fusão, no Solar dos Albuquerque, onde hoje funciona a biblioteca da Escola Secundária Emídio Navarro. Já o “Clube de Viseu” ocupara o antigo Quartel, na Rua Direita. À data da sua fundação, o “Grémio de Viseu” tinha acesso pelo Mercado 2 de Maio.
Apenas em 1939 é o que o clube de cavalheiros da cidade se passou a designar “Clube de Viseu”. Isto porque a direção do clube recebeu um ofício da polícia a informa que o nome “Grémio” apenas podia ser utilizado para designar organismos constituídos de acordo com o Estatuto Nacional do Trabalho. O nome Grémio, contudo, manteve-se entre quem frequentava este clube, que o diga João Oliveira, o atual presidente do Clube de Viseu. “Os meus pais sempre se referiram a este clube como ‘o grémio’”, começou por explicar. João Oliveira, agora com 62 anos, frequenta o clube “desde os 13 ou 14 anos”.
“Houve uma altura em que fui para fora estudar, mas depois voltei e durante muitos anos era raríssimo o dia em que eu aqui não vinha”, disse-me o presidente, sentado numa das muitas salas do clube. “Namorei aqui e esta casa significa muito para mim. Vinha com amigos meus, quase todos mais velhos que eu, que era o caçula do grupo, e todas as noites estávamos aqui. Divertíamo-nos, fazíamos asneiras, fazíamos boas coisas e sempre tivemos compreensão do pessoal mais velho, que nos dava umas reprimendas de vez em quando, mas não mais do que isso”, contou ainda João Oliveira.
O presidente do clube privado foi mais longe, e pintou um quadro do Clube de Viseu no seu auge: “há 20 anos esta sala estava cheia de pessoas já de uma certa idade a ler o jornal, a jogar cartas, a jogar xadrez, e à noite lembro-me de haver muita gente a jogar a canastra, bridge, com a realização de torneios”. Atualmente, a prioridade do presidente é construir um acesso para pessoas com deficiência motora, através de um pequeno elevador, assim como uma casa de banho no rés do chão para os convidados com problemas motores.
Ao entrar no clube, o acesso ao primeiro andar faz-se por uma escadaria de mármore. No primeiro andar, o acesso por uma porta de vidro transporta qualquer visitante para um livro de Júlio Verne ou sir Arthur Conan Doyle, altura em que Londres ou Paris estavam repletas de clubes privados para os cavalheiros da alta burguesia. Sofás, mesas de sala e vários cadeirões dispostos na sala principal, convidando qualquer gentleman para um drink e um charuto.
À esquerda, o bar/café com várias mesas que costuma ficar cheio às sextas-feiras e sábados à noite. Da sala principal, é possível aceder a três salas. Uma com a mesa de bilhar e acesso às casas e banho, outra com várias mesas com um tampo de tecido verde para jogar às cartas. Na terceira sala, um sofá virado para uma lareira, duas mesas e várias estantes cheias de livros, de ficção, de história, de economia, de qualquer tópico que o gentleman queira ler.
No lado direito da sala principal, um salão nobre com uma mesa comprida e um piano pode ser utilizada para reuniões ou jantares. Mais à frente, a sala do anfiteatro. Um palco, cortinas e uma galeria superior mostram uma sala que pode ser utilizada tanto para bailes – retiradas as cadeiras – como para peças de teatro.
No clube podem apenas entrar sócios ou familiares/amigos de sócios, quando acompanhados por um membro do clube. Para ser sócio, é preciso ser-se proposto por um membro do Clube de Viseu, cabendo depois à direção a decisão de aceitar ou não essa pessoa. Antigamente, contudo, era um pouco diferente. “Havia bolas brancas e pretas e um saco, e cada membro da direção tinha uma bola branca e uma preta, desde que aparecesse uma bola preta no saco, a pessoa já não entrava para o clube”, contou João Oliveira.