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“O futebol ganha autenticidade quando os clubes têm jogadores da terra”

Arrepiou-se a ouvir o hino português na estreia enquanto jogador principal da ‘equipa das Quinas’ e emociona-se quando fala da ida para o Sporting, depois de representar o clube da terra e que, confessa, é uma das duas maiores paixões. José Leal não marcou mil golos, nem era essa a função maior que tinha dentro de campo, mas deixa a garantia de que viveu o futebol a mil.

Carlos Eduardo Esteves
 “O futebol ganha autenticidade quando os clubes têm jogadores da terra”
26.10.24
fotografia: Jornal do Centro
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 “O futebol ganha autenticidade quando os clubes têm jogadores da terra”
26.10.24
Fotografia: Jornal do Centro
 “O futebol ganha autenticidade quando os clubes têm jogadores da terra”

Mais de 500 jogos e mais de meia centena de golos marcados. A carreira de José Leal pode descrever-se em números, mas os episódios que ficam de um percurso de 26 épocas desportivas continuam vivos. Bem vivos. À hora marcada, lembrou o edifício onde, em tempos, ficava localizada a Associação de Futebol de Viseu. “Há tanto tempo que não vinha aqui. Esta vista…”, confessou-nos enquanto entrava no edifício onde hoje está o nosso jornal. O estúdio de rádio aguardava-o. Puxou da cadeira e sentou-se. Raramente o fez no banco quando jogava futebol. “Fui quase sempre titular”, diz, com orgulho.
E tudo começou no Dínamo Clube da Estação, quando jogava futebol com amigos. “Se naquela altura os campeonatos fossem como hoje, o Dínamo tinha sido considerado campeão nacional de infantis. Tínhamos, sobretudo, espaço para jogar e assim o fazíamos. Hoje temos de pagar, na altura, não”, conta. Do clube que ficava junto à Estação de comboios de Viseu, seguiu-se a ida para o Repesenses onde se federou como futebolista. Não nasceu numa família abastada, conta. No entanto, em casa havia paixão pelo futebol. “O meu pai era um grande sportinguista”, confessa. Por isso, anos mais tarde viria a concretizar-lhe um sonho: vestir a camisola do clube de Alvalade. “O meu pai esteve sempre ao meu lado nos momentos difíceis. Acreditou sempre. E esteve nos melhores momentos. Partiu quando eu jogava no Estrela da Amadora. Sei que morreu feliz”, afirma, emocionado.

Sporting e seleção marcaram-lhe a carreira
E como numa canção de Roberto Carlos, Leal chorou e sorriu e o importante é que emoções viveu. Os momentos mais marcantes, revela, foram vividos a jogar no Sporting e, sobretudo, a vestir pela primeira vez a camisola da equipa principal de Portugal. Esses momentos, sublinha, foram vividos com intensidade mil. “Recordo-me da estreia na equipa principal de Portugal. Chovia muito. Foi contra a Holanda, que tinha sido campeã da Europa na altura. O jogo foi no dia 17 de outubro de 1990, no Estádio das Antas, no Porto”, conta, de forma encadeada, como se estivesse a relatar o jogo. Portugal havia de coroar a estreia de Leal com uma vitória por uma bola a zero: marcou Rui Águas, aos 53 minutos.

“Tinha a família toda a ver-me. Ouvir o hino português… É de arrepiar. Só quem passa por isso, sabe. É muito difícil descrever. Dei por mim a chorar. Fiquei em pele de galinha. É o acumular de várias etapas da minha vida. Ao ouvir o hino lembrei-me de tudo. Desde o começo, no Dínamo da Estação, com oito anos até ao Viseu e Benfica, Repesenses, Académico de Viseu. Lembrei-me de tudo. O sacrifício dos meus pais…”, diz, emocionado. Leal, o defesa goleador, como lhe chamaram em tempos, vinca que atingiu esse patamar à custa do esforço e com a ajuda de colegas e treinadores.

O selecionador da altura era Artur Jorge, o ‘rei Artur’, como lhe chama Leal. “Guardo muito boas memórias dele. Era alguém que se dava muito ao respeito. Os jogadores tinham-lhe muito respeito. Um senhor que recordarei para toda a vida. Foi alguém marcante porque acreditou em mim e não devemos ser ingratos para quem acreditou e deu tudo por nós. Julgo que não defraudei as expetativas”, diz.

Académico ‘deu-lhe’ a seleção e trouxe uma nova versão dentro de campo
Viria a ser em Viseu, ainda antes da ida para o Sporting, que José Leal iria viver aquele que iria viver um dos momentos mais marcantes da carreira: ser internacional B de esperança quando jogava no Académico. A estreia aconteceu há 35 anos. “Fui internacional sénior a jogar no clube da terra. Para mim é um marco muito importante. Hoje as pessoas podem não ter a noção do quão difícil era isso”, destaca.
Um dos maiores clubes da cidade e da região, o Académico de Viseu, era na altura treinado por Carlos Alhinho. “Também o guardo no meu coração. Um dia o Carlos Alhinho disse-me que estava a precisar de um central e que seria eu. Estranhei, claro. De ponta de lança para central… Agarrei-me ao lugar e encarei isso de forma positiva”, assinala. Começou nessa fase a desempenhar outra missão dentro do campo. Mais tarde, por continuar a marcar golos apesar de jogar para impedir os sucessos dos adversários, ficou com o tal nome de ‘defesa goleador’.

Numa carreira feita de jogos, cortes de lances perigosos e até de golos, Leal é um contador de histórias. E há uma que une Benfica, Sporting e… serviço militar. “Já na altura em que jogava no Viseu e Benfica, o Benfica me quis contratar. Chegou-lhes a Lisboa a informação de que havia uns miúdos em Viseu que davam nas vistas. Acabei, mais tarde, por não ir para o Benfica por causa da tropa. O Benfica fez tudo, tudo, tudo, para me conseguir tirar da tropa. E não era possível”, começa por narrar.

Até Futre teve de ser ajudado na altura por uma alta instância. “Lembro-me que com o Futre, teve de ser o presidente da República a fazer pedidos para ele não ir preso por estar a fugir à tropa. Eram outros tempos. Imagino quantos talentos o futebol português terá perdido”, lamenta.

Inglaterra não foi opção por um triz
Mas e o Sporting? Os leões acabariam por, numa segunda investida, antecipar-se às águias e o sonho do pai do craque de Viseu acabaria por cumprir-se. O filho vestiu a camisola do Sporting e em Alvalade jogou e foi titular indiscutível, num clube liderado por treinadores como Manuel José, Marinho Peres, Bobby Robson e Carlos Queiroz. E foi com o português ao leme do Sporting que Leal deixaria Alvalade para rumar ao Restelo. Esse Sporting era o clube de Figo, Paulo Sousa, Pacheco, Cadete e tantos, tantos outros. Esteve um ano no Belenenses e foi com a ‘cruz de Cristo ao peito’ que viveu outro episódio que o haveria de marcar para sempre.

Estávamos em 1995. “Hoje sabemos tudo. Na altura era difícil termos acesso ao conhecimento. E eu não sabia que em Inglaterra se pagava à semana. Não fui para o futebol inglês por não saber dessa forma de pagamento. Ia receber quatro vezes mais do que aquilo que achava que ia receber. Havia quatro clubes interessados em mim. Um deles, o City”, justifica. Do Belenenses seguiu para o Felgueiras, clube já extinto e, depois renascido, Estrela da Amadora, Santa Clara e faz ainda um ano no clube pelo qual se diz um eterno apaixonado: o Académico de Viseu.

Académico subiu sempre que teve talentos da região de Viseu no plantel, lembra Leal
E é em Viseu, mais concretamente em Farminhão, que vive hoje. Nesta conversa, que durou o tempo suficiente para atravessar vários momentos da carreira, Leal confessa uma mágoa: perceber que há talentos de futebol da região de Viseu que estão a perder-se. E aponta motivos. “Na altura perdiam-se por causa da tropa, hoje, como o futebol virou uma indústria, os jogadores começam a estudar e as universidades retiram-nos do futebol. Há muita gente a jogar, haverá sempre quem, na dúvida prefira um futuro mais certo”, sustenta o antigo jogador. Leal diz ter duas certezas: “um jovem mesmo que tenha qualidade, se não treinar todos os dias vai perdendo em relação a quem treina diariamente” e “o futebol fica mais autêntico com clubes a terem jogadores locais nos plantéis”.

Por isso, há um tema, no meio dos tantos que abordámos, que deixa Leal mais preocupado: o futuro do clube que acabaria por dar-lhe uma carreira além-fronteiras do distrito. “O Académico na minha altura era modesto, mas dava-nos o suficiente. E fomos capazes de subir de divisão com um orçamento de 20 mil contos. Hoje são de 15 milhões de euros e é o que é. O meu Académico era organizado. E feito de jogadores da região. E isso faz a diferença. O futuro vai ser esse. Os dinheiros andam a rodar aí. É tudo legal, é. Mas um dia chegará um governo a decretar que os clubes tenham a mesma percentagem das SAD’s. E aí os dinheiros desaparecem”, antecipa. José Leal diz que é procurado por pais de jovens da formação do Académico que lamentam não verem os filhos ter oportunidade de brilhar no clube viseense.

O antigo craque lembra que as subidas do Académico à Primeira Divisão foram conseguidas com “jogadores da região nos plantéis e a jogar”. Sobre o seu Académico, Leal não tem dúvidas de que o projeto tem de mudar se houver vontade de outros voos, até porque, recorda-se de um dia dizer que “Viseu é igual a Guimarães quanto à paixão pelo futebol”. Falta motivação, ressalva. Por enquanto lembra a tal subida à Primeira na época 1987/88 em que jogou, agarrou o lugar e, no fim do campeonato, rumou ao Sporting. Esta semana a Associação de Futebol de Viseu reconheceu-lhe os méritos de uma carreira ligada ao futebol. Leal foi agraciado com o Prémio Carreira na Gala dos 98 anos da Associação.

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