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Joaquim Alexandre Rodrigues
Os desafios das empresas no interior, as limitações e a atratividade do território foram algumas das temáticas de uma conferência que juntou esta quarta-feira (19 de março) alguns empresários da região. A iniciativa decorreu no Caramulo Experience Center e foi organizada pelo Museu do Caramulo e pela Associação Empresarial da Região de Viseu (AIRV).
A sessão teve como oradores o administrador do Grupo Visabeira, Fernando Daniel Nunes, o cofundador e CEO da Feedzai, Nuno Sebastião, e o fundador e CEO do Grupo BEL, Marco Galinha. A conversa foi moderada pelo presidente da AIRV, João Cotta, e a sessão teve o encerramento do ministro da Economia, Pedro Reis.
Durante a conferência, os empresários debateram aquilo que os leva a investir no interior, quais as limitações, dificuldades e vantagens ou de que forma os autarcas, associações empresariais ou agentes podem contribuir para o aumento da atratividade do interior.
Nuno Sebastião, da Feedzai, uma empresa que se dedica ao combate de fraudes nos pagamentos com recurso à inteligência artificial, destacou a “resiliência grande” que as empresas têm que ter, assim como “visão e ideias”.
“O setor da engenharia em Portugal é bom, trabalha bem e vale a pena ter empresas tecnológicas fortes em Portugal”, disse o empresário, destacando que cada vez mais há uma “valorização dos trabalhadores portugueses”.
Nuno Sebastião sublinhou ainda a necessidade de desbloquear e agilizar processos que potenciem os investimentos, nomeadamente por parte das autarquias ou outros decisores. Afirmando, contudo, não trabalhar diretamente com estas entidades.
“Quando se quer fazer um investimento há que desbloquear e agilizar. O tempo de um empresário são semanas, não são meses ou anos”, frisou.
O responsável sublinhou também a importância das instituições de ensino e de as empresas investirem nessa área de forma a “criar valor”.
Já Marco Galinha, do Grupo BEL que detém a Águas do Caramulo, sublinhou que o interior “é uma vantagem”. “Não vejo o interior como desvantagem. Tem uma fonte de trabalho estável, tem uma qualidade agrícola única”, disse, lembrando ainda que o interior “tem qualidade de vida” e até está mais perto da Europa.
Contudo, o responsável destacou a necessidade de melhores infraestruturas, lamentando a falta de vias rápidas, algo que entende “fundamental para as empresas”.
“Este país para evoluir precisa de vias de comunicação e os presidentes das autarquias têm que se unir e bater o pé e os empresários também”, frisou.
Outro dos oradores foi o administrador do Grupo Visabeira. Fernando Nunes recordou que há 45 anos que a empresa está em Viseu, onde foi criada. Atualmente, o grupo está presente em 18 países e exporta para mais de 130 nações.
“Desde a criação do grupo que houve uma vontade em permanecer na cidade onde nascemos. Mesmo iniciando a nossa estratégia de internacionalização e globalização, continuou a ser em Viseu que mantivemos os nossos centros de competência”, disse.
Segundo o empresário, quatro décadas depois, continua a ser em Viseu que estão serviços de todo o grupo como contabilidade, recursos humanos, tesouraria ou backoffice operacional.
Fernando Nunes recordou ainda a “primeira aventura na área da indústria cerâmica” com uma fábrica em Sátão ou os 50 milhões de euros de investimento nos últimos quatro anos em “aberturas de unidades no interior e centro do país e remodelações de hotéis”, que levaram ainda à criação de “80 postos de trabalho”.
O empresário destacou que Portugal é “um país desbalanceado e isso é um grande handicap para as empresas, sobretudo as que o maior ativo são as pessoas”.
“Sessenta por cento da população em Portugal vive entre os 0 e 25 km da costa, enquanto 45% vive nos grandes centros metropolitanos de Lisboa e Porto. Temos um país desbalanceado e num país assim é muito difícil captar e reter talento no Interior”, disse.
Fernando Nunes reiterou que “não se pode deixar de acreditar que a partir do interior do país é possível construir uma empresa global”, dando o exemplo do Grupo Visabeira que, a partir do interior, consegui “crescer e em 45 anos atingir um volume de negócios de 2,4 mil milhões de euros a partir de Viseu”.
O responsável desafiou ainda os empresários e outros intervenientes a unirem-se, à semelhança do Movimento pelo Interior que foi criado em 2018 e que era composto por empresários, políticos de vários partidos e outras figuras.
“Um movimento conseguiu ter algum impacto nas políticas públicas e na descentralização de centros de competências públicas”, disse.
Durante as intervenções, o presidente da AIRV sublinhou que “o interior está nas nossas cabeças” e destacou o papel de todos na construção e valorização do território.
A sessão começou com as intervenções do presidente do Museu do Caramulo, Salvador Patrício Gouveia, e da presidente da Câmara Municipal de Tondela, Carla Antunes Borges.
Na sua intervenção, Salvador Patrício Gouveia lembrou que há 30 anos as zonas do interior e o Caramulo eram vistos como uma “fragilidade por não estarem perto dos centros urbanos, das pessoas, do dinheiro e do interesse”.
“As coisas mudaram nos últimos e principalmente com a Covid-19. Aquilo que era uma fraqueza hoje é uma fortaleza, ou seja, depois da pandemia há cada vez mais as pessoas a querem viver e trabalhar em sítios com mais qualidade de vida”, afirmou.
Já a autarca de Tondela afirmou que “estar no interior não é uma fatalidade”, mas “uma oportunidade”.
“Se há matéria que nos une a nós, câmara, Museu do Caramulo, autarquias e empresários que se instalam aqui, é o facto de termos sempre subjacente este princípio nas nossas cabeças: estar no interior é uma oportunidade e essas oportunidades têm de ser procuradas. Temos de olhar para o território e perceber em que medida é que conseguimos ser diferenciadores”, disse Carla Antunes Borges.
A autarca defendeu ainda que o poder local tem de “criar um conjunto de políticas públicas que proporcionem condições para as empresas”, nomeadamente acessibilidades, transportes públicos e infraestruturas, reter recursos humanos entre outras áreas.
“Não nos vamos substituir às iniciativas privadas, temos de criar condições para que as empresas façam aquilo que fazem melhor e se assim o fizermos os privados vão ter condições para um trabalho de excelência que beneficiará todos”, frisou.
Ministro da Economia pede divulgação do Interior
A sessão foi encerrada pelo ministro da Economia, Pedro Reis, que lembrou que já existem instrumentos que majoram o investimento no interior e defendeu que a aposta deve passar por dar visibilidade aos seus ativos.
“A minha perceção é que os argumentos para a captação de investimento no interior estão lá todos. Se calhar, estamos numa fase que tem muito mais a ver com divulgação, com promoção externa dos ativos que o interior oferece”, afirmou.
Pedro Reis disse que “está a acontecer a mudança da morfologia da economia portuguesa: muito mais intensidade tecnológica, uma reindustrialização verde, assente na mobilidade, na economia circular e na combinação entre indústrias e serviços”.
“O desafio para quem vier é dar mais visibilidade, trabalhar em maior proximidade”, disse Pedro Reis, ainda a propósito dos investimentos no interior.
Portugal vai a eleições legislativas antecipadas em 18 de maio, na sequência da crise política que levou à demissão do Governo PSD/CDS-PP.
O ministro contou que estavam a ser preparadas umas jornadas da economia durante as quais iria, acompanhado de todos os secretários de Estado e responsáveis de organismos como o Banco Português de Fomento, o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e o Turismo de Portugal, ao território ouvir os empresários.