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O jornalismo, o fascismo e o inelutável chamamento do abismo

 O jornalismo, o fascismo e o inelutável chamamento do abismo
22.03.24
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A crise do jornalismo é a crise da democracia e a crise da democracia é a crise do jornalismo. Digo-o sem recorrer a mais evidências, dado o carácter óbvio da relação. O jornalismo existe porque existe democracia; só há democracia, porque há jornalistas que vigiam os nossos representantes políticos. Uns não podem existir sem os outros. No entanto, vigiar a democracia não é o mesmo que arrasá-la. Contar o que se passa, não é falar exclusivamente do que está mal. Isso gera um problema de perceção. Arrasar a democracia é um jogo perigoso que gera resultados pouco simpáticos.
No dia 10 de março, houve um partido que escarneceu dos jornalistas. No dia 10 de março, houve um partido que pisou os cravos da liberdade… No dia 10 de março, houve mesmo líderes democratas que apelaram ao acarinhamento daqueles que votaram no fim da liberdade…
No dia 10 de março concretizou-se aquilo de que fui falando por aqui nos últimos meses. O espaço público foi fortemente condicionado pelo discurso mediático. Um discurso mediático que foi optando por dar voz às narrativas xenófobas, racistas, homofóbicas e misóginas. De cada vez que os canais de televisão optaram por dar tempo de emissão àqueles que professam o ódio, colocaram raiva, frustração e desilusão nas vidas de quem os vê. Falo dos noticiários televisivos exclusivamente debruçados sobre os horrores do mundo, dos programas dos canais sanguinolentos e sensacionalistas e das crónicas criminais em programas de entretenimento matinal, entre outras misérias e clickbaits diversos.
O mundo não são esses programas; aliás, Portugal é, estatisticamente, um dos países do primeiro mundo e não o lamaçal que é pintado nesses quadros de tristeza. Obviamente que tem problemas, mas eles só se resolvem trabalhando em conjunto e não apelando ao ódio e à divisão. Se o discurso fosse pacificador, trariam paz, mas optaram por esgadanhar pelas audiências a todo o custo, dando força e mediatismo aos seus piores inimigos. Lembro novamente: os inimigos da democracia e da liberdade serão sempre os inimigos do jornalismo.
Falta contar o número de horas em que foi dado tempo de antena em horário nobre aos inimigos da democracia. Falta contar o número de horas despendido pelos principais canais para arrasar com o sistema democrático, vilipendiando toda a classe política e o valor do Estado Social. É nessa contagem que será encontrada uma das principais razões para os resultados de dia 10 de março. Tornou-se legítimo o ilegitimável, dandose luz ao discurso podre contra políticos, estrangeiros, homossexuais, mulheres e todos os que não sejam do mesmo clube de ódio. Obviamente que se permitiu assim que um décimo dos portugueses pudesse achar que é normal ser-se mau e que é normal acharse que há cidadãos de primeira e de segunda. “Até ouvi na televisão”, terão pensado eles…
Tudo isto se resolveria com mais educação e conhecimento, mas para já, temos de lidar com esta nova realidade.
Sobrará aqui um argumento usado pelos populistas nas infinitas discussões em redes sociais: ao adjetivar negativamente os adeptos do ódio, estarei aparentemente a acentuar o fosso entre cidadãos, o que não será muito respeitador; os racistas dirão que não os estou a respeitar e que os estou a separar dos restantes cidadãos e que a opinião deles deve ser respeitada, pois é tão legítima como outra qualquer… Não é, senhores. Essa “opinião” é ilegal e querer mudar isso, obrigaria a mudar a Constituição, o que, felizmente, não acontece de forma fácil. O racismo e a xenofobia não são opiniões. São crime.
Já tive essa infeliz discussão em 1995 com um neo-nazi que dizia que Portugal é um país livre e que ele tinha o direito a professar as ideologias de Hitler… Não tem. Em Portugal, não. O ódio, a sua apologia e as ideologias fascistas são crime em Portugal. Repita-se: o racismo é crime; a xenofobia é crime. Um “português de bem” não é racista nem misógino. Eu não aumento o fosso entre cidadãos, até porque não os odeio nem apelo ao ódio, da mesma forma que não sou criminoso por afirmar que há pessoas que cometem crimes.
No entanto, muita da imprensa nacional tem vindo a pactuar com o horror e com o ódio, dilacerando e destruindo a credibilidade de todos os políticos e do Estado Social conquistado pelas lutas de Abril. Dá-se voz aumentada ao populismo como se fosse uma novidade. Senhores jornalistas, o populismo é trabalhado nas cadeiras dos cursos de Comunicação Social, bem como as teorias dos efeitos dos media. Não foi só para fazerem o curso e obter a licenciatura que aprenderam isso. Se falam exclusivamente do ódio, normalizam-no e introduzemno no tecido social…
O jornalismo mundial depara-se hoje com este grande dilema. Tem de garantir audiências e usa o escândalo e o horror para o fazer. Essa construção do mundo gera medo na população. Uma população amedrontada recorre aos heróis salvíficos como Hitler, Mussolini e Salazar. Já aprendemos com os nossos avós o que isso significa. Vamos voltar a fazê-lo?
Foi divulgada a 15 de março uma caracterização estatística dos eleitores das últimas legislativas. Sabemos que o partido que quadruplicou os votos conseguiu-o através dos abstencionistas e de descontentes do PS, sobretudo homens adultos sem ensino superior. São eles o alvo mais fácil dos discursos mediáticos distorcidos. Cidadãos de emoções fortes que confundem movimentos sociais, gentrificação e pressão urbanística com decisões governamentais, que confundem economia a crescer com recuos económicos, que confundem Estado com Governo e, sobretudo, que confundem a Direita ultraconservadora que favorecerá sempre os direitos das grandes empresas com a Esquerda que busca melhorar as condições das classes de base.
As dificuldades de gestão e de governo de um mundo em mudança não precisam de habilidosos matreiros, mas de gente experiente e esforçada. Não precisam de meninos a gritar que vem o lobo, mas de gente que se une e que se prepara para os desafios e ameaças de um mundo em mudança.
Cabe também aos media letrados serem um bocadinho melhores que a tábua rasa e garantirem que a democracia não se apaga. Cabe sobretudo aos media letrados lembrar que Abril não foi um dia e que “o fascismo é uma minhoca que se entranha na maçã (…), ou vem com botas cardadas ou com pezinhos de lã”. Também em nome do jornalismo livre, lutem pela democracia. Em nome da democracia, lutem pelo jornalismo livre.
Ainda assim, obviamente que há coisas maravilhosas a acontecer e inúmeros exemplos de bom jornalismo e de incansável luta pela democracia. Parabéns, Jornal do Centro por mais um ano a fazer diferente e a zelar por um espaço mediático mais saudável e esclarecido. Continua a ser um privilégio ler estas páginas!

 O jornalismo, o fascismo e o inelutável chamamento do abismo

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