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A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
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Alberto da Silva Gomes gostava tanto de palavras que inventava jogos com elas. Quando andava no liceu, pegava na quinta edição do Dicionário de Língua Portuguesa, da Porto Editora, abria-o ao calhas numa das suas 1556 páginas, e procurava nela a palavra mais comprida.
O rapaz, durante uns tempos, não conseguiu achar nenhuma com mais de vinte e uma letras. Quando encontrou “otorrinolaringologista”, com as suas portentosas vinte e duas letras, teve uma epifania.
Entendamo-nos, eram outros tempos, sem net, sem o sr. Google, sem “inteligência” artificial, sem formiguinhas amáveis a fazerem verbetes na Wikipédia sobre todos os assuntos, incluindo sobre palavras quilométricas. Agora, num segundo, acha-se facilmente a maior palavra em português — “pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico” — que se refere a uma pessoa com uma doença nos pulmões por ter respirado cinzas vulcânicas.
Esta palavra de quarenta e seis letras, que figura no monumental Dicionário Houaíss da Língua Portuguesa, desde 2001, é uma palavra técnica, “artificial”. A nossa palavra mais comprida que se pode considerar “natural” — quero eu dizer, de que se apanha logo o sentido e que se consegue escrever à primeira sem precisar de fazer “copy-paste” — tem vinte e nove letras: “anticonstitucionalissimamente”.
Além de compridona, é chata pelo que significa. “Anticonstitucionalissimamente” é o modo como Donald Trump, com elevada probabilidade, vai tentar actuar a partir da sua tomada de posse, em 20 de Janeiro. A propósito, como é sabido, a criatura cor-de-laranja que acaba de ser eleita presidente dos Estados Unidos tem um vocabulário muito limitado, intimida-se com palavras compridas, isto é, sofre de hipopotomonstrosesquipedaliofobia (trinta e três letras).
Já o Alberto não tinha essa fobia. Talvez seja a altura de o apresentar: Alberto da Silva Gomes é o personagem principal de O Leitor de Dicionários, o último romance de Acácio Pinto, que acabo de ler de um fôlego e que recomendo.
Recomendo não por, na sua página 177, falar de “uma crónica assinada pelo mais antigo colaborador do semanário O Centro”, que evidentemente não se sabe quem é, mas porque O Leitor de Dicionários é um bom livro.
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