No terceiro episódio do programa “Bem-Vindo a”, tivemos o prazer de conversar…
São mais de 100 presépios, de diferentes tamanhos e construídos ao longo…
por
Teresa Machado
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Isalita Pereira
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Esta semana tive o privilégio de me cruzar novamente com um dos meus grandes professores de seu nome Jean Braudillard… É deliciosamente interessante e risível afirmá-lo assim, uma vez que ele nunca foi meu professor, de facto. Mais interessante ainda é o pormenor de eu nunca sequer ter estado na sua presença. Tudo o que tenho dele são palavras impressas. Aparentemente essas palavras são mais poderosas do que qualquer aula que eu tivesse tido. Posso revisitá-las a cada instante, deixando-as crescer e desenvolverem novos sentidos dentro de mim.
Durante anos ouvi, estudei e ensinei o valor das palavras e das imagens, dos cheiros e dos sabores. Durante anos aprendi esse grande tesouro da humanidade, aquele que dá sentido ao mundo e nos permite comunicar. Aprendi a força das palavras que permitem compreender tudo o que nos rodeia e transmiti-lo aos outros, criando comunidades. No entanto, esse tesouro temse revelado bem mais poderoso do que o seu criador.
No caso, Baudrillard refere em dada altura um fenómeno a que chama “mito do cargueiro” e que passo a tentar resumir. Algures nas ilhas da Melanésia, lá para as bandas da Oceânia, os habitantes da zona viam passar os grandes cargueiros atulhados de riquezas inimagináveis, cruzando rotas transatlânticas destinadas àqueles que referirei como os Outros. Na visão do mundo dos Melanésios, se os Outros viviam na opulência de todos aqueles bens transportados, isso devia-se ao facto de terem sido capazes de captar ou desviar os cargueiros para os seus portos através de uma magia que os Melanésios desconheciam. No seu mito, eles acreditavam que um dia a magia dos Outros acabaria por fracassar e que a sua magia conseguiria finalmente captar os cargueiros para a Melanésia. Isto é, no mínimo, muito interessante, seja pelo entendimento de que as riquezas do mundo são pertença de todos, seja pelo facto de se atribuir a riqueza e a felicidade a uma entidade externa que nos serve e que providencia. No caso, o meu professor reflete sobre o facto de vivermos atualmente sob o mesmo mito. Nas sociedades ocidentais estabeleceu-se também como assumido o direito à opulência e à abundância enquanto legítimos herdeiros da Técnica, do Progresso e do Crescimento, figuras mitológicas que ultrapassam a nossa ação. A ideia é sempre a mesma, colocando o ser humano no centro do universo, um universo que serve apenas para o servir, para garantir a sua riqueza. Se não estamos ricos, é apenas porque ainda não dominámos a magia que atrairá a riqueza até às nossas vidas…
Na sua perspetiva, este fenómeno decorrerá do facto de estes pilares da sociedade ocidental estarem de tal forma assentes num universo de imagens e palavras (os tais signos, tesouro maior da humanidade) que excederam a sua materialidade existencial. Por outras palavras, o universo de imagens da publicidade, dos discursos políticos e economicistas é de tal forma poderoso que constitui uma realidade em si mesma, diferente daquilo que o mundo será em si mesmo. As palavras que usamos diariamente são de tal forma poderosas que a realidade criada por elas ultrapassa a própria realidade.
Sei que este pensamento roça apenas a superficialidade das ideias do meu professor, mas creio ser suficiente para expor o que aqui trago. Se atentarmos bem na força destes conceitos, veremos que poucos de nós se questionam sobre a lógica interna de ideias como consumidor ou crescimento económico. Esses conceitos são tão poderosos que são inquestionáveis mesmo quando o planeta implode. O nosso consumo do real é tão desfasado do presente que nem percebemos a dimensão do desequilíbrio.
Pensemos novamente. A economia pode ser definida alargadamente como o conjunto das atividades exercidas pelos humanos para poder subsistir ou viver. Vivemos num planeta cujos recursos estão esgotados. Obviamente que precisaríamos de rever as nossas atividades económicas, adaptando-nos… Imaginemos um charco de lama onde outrora houve um lago onde se pescava. Agora há lama e pedras. Os pescadores continuam a sair para pescar e o chefe da aldeia continua a apresentar tabelas com previsões económicas reforçando a necessidade de aumentar as pescas para garantir os lucros de tempos anteriores… A subsistência não está garantida e ele continua a falar de lucros e da necessidade de continuar a ter carros de luxo entre outras obscenidades. Absurdo? Talvez não, se pensarmos que a ideia de opulência é mais poderosa do que a própria visão junto ao charco de lama. Talvez não, se pensarmos que a ideia de opulência resulta da nossa imagem do mundo como garantidor de riqueza. Se não estamos ricos, é porque ainda não temos a magia necessária para a atrair essa prosperidade. A publicidade continua a projetar a ideia de consumo associada à felicidade e a garantir que não vemos verdadeiramente o mundo. Aliás, a imagem no ecrã acaba por ser a única que entendemos, numa espécie de fenómeno de alheamento do real.
É uma espécie de crença numa magia que nos excederá. Uma crença que é perpetuada pelos discursos e imagens do consumo. Talvez seja por este motivo que as empresas mais poderosas do mundo já não são as agriculturas, as indústrias ou mesmo as explorações de matéria-prima, mas antes as empresas de comunicação, sobretudo as que criam redes sociais online… E toda esta visão do mundo resulta do consumo de signos que nunca são o real no seu tempo. São palavras do que aconteceu ou acontecerá; são imagens do mundo de um sítio onde efetivamente não estamos. Enquanto isso, o pântano já secou.
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Teresa Machado
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Isalita Pereira
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Jorge Marques
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Vitor Santos