Foto Arquivo Jornal do Centro
Pedro Afonso Lopes deixou Portugal em julho em 2018. Abandonou Viseu e rumou à Holanda para frequentar uma licenciatura em Economia. O estudante diz que decidiu emigrar “por vários motivos”.
“Primeiro, reconheci as oportunidades que um diploma holandês me proporcionaria, a nível profissional e académico. Segundo, decidi muito cedo que o meu futuro passaria pelo estrangeiro, como tal, optei por fazer essa transição o mais cedo possível. Terceiro, sendo os meus pais emigrantes na Alemanha passei a viver mais perto deles, curiosamente”, explica.
Até novembro de 2020, o jovem, de 20 anos, viveu e estudou em Tilburg, no sul da Holanda. Inicialmente, ainda pensou em estudar em universidades de Amesterdão, Copenhaga e Edimburgo, “mas o prestígio do departamento de Economia da universidade de Tilburg” acabou por pesar na sua decisão.
“A cidade não é das mais bonitas, e certamente não das mais movimentadas, mas decidi priorizar os meus estudos. Além disso, a melhor parte de viver em Tilburg são os comboios para Amesterdão e Antuérpia”, salienta.
Devido à pandemia causada pelo novo coronavírus, as universidades dos países baixos encerraram e desde a primeira vaga que as aulas e exames são feitos via online. É por essa razão que se encontra atualmente a viver com os pais na Alemanha, e onde conta ficar até ao final do semestre.
“Não é uma situação agradável, e empatizo com os estudantes que não lidam bem com o isolamento, mas sinto um certo pudor em lamentar-me perante as dificuldades que muita gente enfrenta”, aponta.
Quando questionado sobre a sua vida na Holanda, onde residiu até há dois meses, Pedro revela que teve sempre a ideia de que no país havia “mais bicicletas do que pessoas, “mas mesmo assim não esperava as milhares de bicicletas com que” se deparou quando chegou “pela primeira vez à estação central de Amesterdão”. “Essa foi a minha primeira impressão da Holanda”, conta.
“Se tivesse que caracterizar os holandeses em geral pela amostra que conheci até hoje, diria que são frontais (excessivamente, por vezes), diligentes, trabalhadores e frugais. No fundo, encaixam bem nos estereótipos que temos em relação a eles”, frisa.
Até hoje, o estudante nunca se sentiu discriminado por ser estrangeiro. Garante que a universidade onde estuda é inclusiva e não faz distinção entre alunos. Ainda assim, nota que na Holanda existem “alguns preconceitos relativamente ao sul da Europa, tanto no espaço público, como no discurso político”.
“Enquanto estudante universitário, a minha experiência na Holanda tem sido muito positiva. Contrariamente a outras universidades, que usam alunos internacionais como uma arma promocional ou fonte de rendimento, as universidades holandesas adaptaram o seu currículo de forma a atrair e reter estudantes e professores de outros países, reconhecendo o valor que podem acrescentar à comunidade académica e ao país”, sublinha.
Desde que emigrou, Pedro só regressou a Portugal uma vez, no Natal de 2018. Ainda pensou em passar o último verão no nosso país, mas por causa da pandemia achou que era mais prudente não viajar.
É da nossa língua que mais sente falta. Confessa que sente “saudades de ouvir português nas ruas”.
“Lentamente o inglês tornou-se na minha língua padrão e não há nada mais frustrante do que ter que recorrer a um tradutor inglês-português a meio de uma frase. Para combater isso leio o mais possível em português, mas não tanto quanto gostaria”, adianta.
Apesar de entender que o futuro “é incerto”, o estudante não conta regressar ao nosso país.
“Sinto-me muito confortável no centro/norte da Europa, e só em circunstâncias muito diferentes consideraria regressar a Portugal. As políticas sociais e laborais no norte da Europa proporcionam à maioria da população uma qualidade de vida que em Portugal é inatingível, não é apenas uma questão salarial”, assegura.

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