David Duarte
OPINIÃO
Fragmentos de um Diário
21 de novembro de 2020, 08:00
Folha”
Uma folha,
um farrapo
de velho pergaminho,
desdobra-se no ar,
esvai-se nas sinfonias dolentes
do vento de Outono.
Uma folha,
uma alma perdida
que se ajoelha e se eleva no templo azul,
azul e mole do espaço.
Uma folha,
um gesto de liberdade,
um poema amarelo,
uma ave desgarrada
que eu gravo
no quadro imaterial
da memória.
Mas como é louca esta ilusão
de querer imitar
o voo dos pássaros!
Voar! Só nos sonhos
e quimeras de poeta!
Se não fosse a poesia eu não seria o que sou! Não pelo valor literário do que escrevo, mas pelo sentido, pela alma, pela paixão das palavras.
A Fátima vai diluindo a memória da Laura. Está mal explicado. A memória permanece, intocável, sem manchas. Mas já não é uma pedrada ativa a revolutear dentro de mim. Sedimentou-se numa dobra da alma. Deixou de ser matéria explosiva. Aquietou-se. Não contagia o meu relacionamento com a Fátima. Permite-me disponibilidade. O sentimento de traição desapareceu. Sinto-me livre.

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