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Pessoas a sul do rio Douro mostraram-se disponíveis para viver com lobos-ibéricos, desde que sejam pagas indemnizações e implementadas medidas de prevenção de danos, anunciou hoje a associação Rewilding Portugal, no âmbito de um estudo de promoção de coexistência.
“Foi efetuada uma campanha aprofundada para promover a compreensão do papel ecológico do lobo e foram realizadas entrevistas com 117 pessoas das comunidades locais para avaliar as suas opiniões sobre o lobo. Os resultados destas entrevistas mostraram que muitas pessoas a sul do Douro estão dispostas a viver com lobos-ibéricos, desde que sejam pagas indemnizações rápidas e implementadas medidas de prevenção de danos”, lê-se em comunicado.
Ao longo dos últimos seis anos, o projeto LIFE WolFlux, em colaboração com parceiros locais e com o apoio da Comissão Europeia, forneceu uma base sólida para garantir um futuro melhor para o lobo-ibérico.
“A população de lobo-ibérico a sul do Douro é uma das mais ameaçadas da Europa”, explica a diretora de conservação da Rewilding Portugal, Sara Aliácar, citada no comunicado.
Para Sara Aliácar, melhorar a conectividade com outras populações em Portugal e Espanha “é vital” para a sobrevivência da espécie a longo prazo.
“É essencial que os lobos que chegam e vivem na área encontrem condições que os encorajem a instalar-se, formar alcateias e reproduzir-se”, sustenta.
A Rewilding Portugal indica que foram recolhidos dados genéticos, de distribuição e alimentares de todas as alcateias relevantes.
“Isto permitiu à equipa identificar os pontos críticos em termos de coexistência e cartografar as áreas com um potencial significativo de recolonização do lobo”, salienta, referindo que “foram também lançadas as bases para apoiar o desenvolvimento do turismo de natureza centrado no lobo na região, com planos de negócios elaborados e implementados por várias empresas locais”.
As ações para melhorar a conectividade entre as alcateias de lobo-ibérico a sul do Douro, que ainda se mantêm em funcionamento, têm-se centrado na promoção da coexistência entre humanos e lobos e na melhoria da saúde ecológica global da paisagem.
O projeto LIFE WolFlux – que foi liderado pela Rewilding Portugal, em parceria com a Rewilding Europe, a Universidade de Aveiro, a Zoo Logical e a ATNatureza/Faia Brava – concluiu ainda que “a falta de presas naturais significa que a predação do lobo sobre o gado é um dos principais desafios da coexistência”.
“Para resolver este problema, a equipa da Rewilding Portugal e os parceiros locais forneceram 108 cães de gado e 52 vedações à prova de lobo aos proprietários de gado locais, e também tomaram medidas para apoiar o regresso natural do corço – uma espécie de presa selvagem chave para os lobos-ibéricos”, observa.
A Rewilding Portugal esclarece que medidas como a criação de pastagens permanentes que facilitam a regeneração natural da floresta e a construção de lagoas permitiram o aumento das populações de corços em locais como Vale Carapito, Paúl de Toirões e Ermo das Águias.
“O LIFE WolFlux alcançou marcos importantes, aumentando a utilização de medidas de prevenção de danos, acrescentando valor aos produtos provenientes de agricultores que coexistem com lobos e apoiando o regresso das presas selvagens”, afirma Sara Aliácar.
E acrescenta: “Para continuar os progressos registados e melhorar significativamente a frágil situação do lobo-ibérico a sul do Douro, são necessários mais esforços e uma maior colaboração. Continuaremos a lutar por isso”.
Segundo a Rewilding Portugal, existem atualmente cerca de 300 lobos ibéricos em Portugal continental, sendo que a maioria se encontra a norte do rio Douro, numa “subpopulação relativamente estável”. Os restantes, cerca de 14%, vivem a sul do rio, numa situação mais precária, distribuídos por um punhado de alcateias dispersas e desconectadas.