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Isilda Monteiro e professora de Português e História e Geografia de Portugal no segundo ciclo, em Viseu. Ao Jornal do Centro, a professora de 65 anos falou sobre a sua paixão por livros, o ‘estado’ da educação e a sua relação com a escola e a tecnologia, além do seu mais recente projeto literário, que lançou com o colega Carlos Nabais: Sai fora da Caixa.
“Este livro foi feito a quatro mãos”, explicou. “Eu trabalho com outro colega, que é o Carlos Nabais. Isto surgiu por necessidade, porque como professora via os meninos muito amarrados, sempre só ao telemóvel.” A ideia para o livro nasceu ainda antes da mais recente vaga de debates em torno da proibição dos telemóveis nas escolas. “Este livro já está na editora há um ano e tal. Queríamos que saísse no início do ano, para sensibilizarmos os alunos”, disse.
A obra — pensada para o público infantojuvenil — conta a história de quatro amigos inseparáveis, conhecidos por todos como os “telemanias”. Sempre ligados, sempre nas redes sociais, com os olhos postos no ecrã do telemóvel do primeiro ao último minuto do dia. Até que, por magia, entram numa inesperada aventura intergaláctica.
“Eles entram numa viagem onde conhecem o verdadeiro mundo digital, o que está por trás daquela maquinazinha que utilizam”, contou a escritora. Aí, descobrem os perigos e os “malfeitores” que habitam esse universo e, ao regressarem à escola, voltam mudados — e empenhados em sensibilizar outros alunos.
“Nós não somos contra o uso do telemóvel, somos contra o uso abusivo do telemóvel”, afirmou Isilda. A ideia, disse ainda, não é afastar os mais novos da tecnologia, mas sim levá-los a questionar os hábitos e os excessos — através de uma história que mistura ficção, humor e uma linguagem próxima do seu quotidiano.
Isilda garantiu que a receção nas escolas tem sido positiva. “Na semana da leitura fui convidada para ir falar aos alunos do oitavo ano. Fiquei receosa, porque o meu mundo é mais quinto, sexto ano. Mas qual foi o meu espanto ao verificar que estiveram agarrados à apresentação do início ao fim”, confidenciou. E contou que, no fim da sessão, os alunos correram à biblioteca para requisitar os livros disponíveis. “Durante as férias foram requisitar livros para casa. Ganhámos o dia”, detalhou.
Autora de sete livros publicados, entre poesia e aventura, Isilda defende que os livros têm de tocar na realidade dos mais novos para os conquistar: “se calhar hoje os livros são mais atuais, mais ligados ao que eles vivem. E talvez por isso voltem a ler.” As suas obras procuram manter a linguagem simples, mas emotiva. “Tem de ser uma escrita divertida. Com peripécias, com aventura, com algum dramatismo ou cómico. Se for só uma narrativa, sem esse envolvimento, eles perdem o encanto.”
A escrita sempre foi uma paixão, mesmo que, no seu caso, algo adiada. “Nunca tive acesso a livros quando era criança”, contou. “Escrevia no chão, na terra, em papéis, cartões.” O gosto ficou adormecido durante anos, até voltar à tona já na idade adulta, quando sentiu que tinha algo a dizer. “Agora, já na fase da maturação, como costumo dizer — já na fase dos cabelos grisalhos, só que pintados de castanho — dei à estampa os primeiros livros.”
A escrita, para Isilda, é hoje uma necessidade. “É uma forma de me encontrar. O dia em que não escrevo qualquer coisinha, já não estou bem.” E mais do que isso: é uma forma de deixar marca. “Tento lançar sementes. Na esperança de que um dia germinem.”
A propósito do Dia Mundial do Livro, celebrado na quarta-feira passada, Isilda deixou uma mensagem clara aos leitores mais jovens:
“Leiam, leiam, leiam. Viajem através dos livros, deem asas à vossa imaginação, leiam de forma livre, porque o ler enriquece-nos, tranquiliza-nos e emociona-nos. Por isso, leiam muito e, se puderem, também escrevam muito”, pediu. “As palavras são aquilo que fica, tudo o resto vai embora um dia, menos o que foi escrito. A leitura e a escrita são uma forma pura de nos encontrarmos, de aprendermos e de sermos melhores.”