Há mais de meio ano que Dona Amélia Figueiredo não sai de…
Dois Carnavais, folia a dobrar. Tradição secular em Canas de Senhorim e…
Há sabores que contam histórias! No Carnaval de Quintela de Azurara, em…
por
Mariana Mouraz
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Pedro Baila Antunes
Tem 25 anos, é natural do Irão e nas últimas horas é a estudante de Viseu mais falada no país e não só. A jovem, que está há menos de um ano na cidade, JMJ: Aluna iraniana da Católia de Viseu discursou para o Papa Francisco para o Papa durante a Jornada Mundial da Juventude. Um momento que, garante, vai recordar para sempre.
Mahoor Kaffashian saiu do país onde cresceu para poder estudar na esperança de uma vida diferente. Mudou-se para a Ucrânia em 2018, mas estava longe de imaginar que a vida a colocaria, mais uma vez, à prova. Em fevereiro de 2022 rebentou a guerra no país e Mahoor Kaffashian ficou sem nada.
“Estava na Ucrânia, tinha apartamento, trabalhava, tinha universidade e perdi tudo num par de horas. Foi muito difícil recuperar do zero, aliás, estava em negativos. Tive que lutar por tudo o que podem imaginar, não tinha roupa, não tinha nada”, conta ao Jornal do Centro.
Quando a vida lhe passou esta rasteira, a jovem tinha chegado do Irão, depois de dois anos sem ver a família. Além do coração cheio, trazia recordações do país e dos seus, detalha entre recordações de momentos difíceis onde tudo ficou para trás, até o piano. Mahoor Kaffashian toca piano.
Portugal, a Universidade Católica, foi a “casa” que a acolheu e lhe permitiu lutar pelos sonhos. A estudante é uma das contempladas pelo Fundo de Apoio Social Papa Francisco.
“No dia 26 de fevereiro de 2022, já estava há três dias na fronteira com a Polónia, mandei e-mails para todos os lados e ninguém me respondeu. Não tive resposta de nenhuma universidade onde me sentisse segura e onde pudesse estudar. A Universidade Católica foi a única que respondeu e muito educadamente pediram para esperar para ver de que forma poderia vir para o país”, recorda.
Prestes a começar o quarto ano de Medicina Dentária, Mahoor Kaffashian conta que o momento com Francisco vai muito para além da religião e que a presença perante o líder da Igreja Católica a inspirou a querer ser parte da mudança. Mudança num mundo que em pouco mais de duas décadas de vida lhe trocou várias vezes as voltas.
Questionada como se preparou para discursar perante o Papa Francisco, um convite que lhe foi feito pela escola, a jovem é rápida na resposta: “Achei que não precisava de me preparar muito, porque, na realidade, nos últimos dois anos tenho-me preparado muito, ando a lutar pelos meus direitos”, afirma.
Quanto ao momento em que discursou, Mahoor Kaffashian assegura que não há palavras para explicar o que sentiu. “Nos meus 25 anos nunca tive uma experiência destas, a sensação que tive quando ele sorriu para mim foi algo completamente diferente e não consigo descrever”, começa por dizer, reforçando que não é “uma pessoa religiosa”.
“Não sou uma pessoa religiosa, mas acredito que a mensagem do Papa vai além da religião. O que mais me impactou, e que me fez chorar um pouco, foi quando vi aquela gente toda e percebi que não é sobre Jesus nem religião, é sobre como uma pessoa, uma única alma, pode impactar tanta gente. Foi espetacular para mim. Se ele mudar o pensamento de uma pessoa já cumpriu a missão. As minhas lágrimas não foram motivadas pela religião ou porque sou religiosa, mas porque o Papa personifica a bondade e o humanismo”, disse.
Voltando ao início, Mahoor Kaffashian é nos últimos dias a aluna de Viseu mais conhecida porque discursou perante Francisco e porque foi entrevistada por órgãos de comunicação social de vários países. A razão porque tem contado a sua história é para que possa ganhar “visibilidade” para mudar ideias, conceitos e pensamentos sobre uma palavra que lhe é tão próxima e ao mesmo tempo tão distante: refugiado.
“Todas estas entrevistas e pensamentos foi para mudar a ideia do que é ser um refugiado. A palavra refugiado não é suficiente para descrever o sentimento de quando se perde tudo. Desde aquele encontro sou uma refugiado orgulhosa, porque espero que possa fazer com que haja mudanças na vida dos refugiados e mudar esse conceito”, desabafa.
O que mais lhe custa desde que saiu do Irão para estudar é não ver a família de quem diz ter muita saudade. Mahoor Kaffashian é filha única.
“Somos refugiados porque mais nenhum país nos ajudou. Saí do Irão porque não podia estudar, mas isso não quer dizer que não tenha o direito de ver a minha família. Queria que a minha família pudesse um dia ver o meu sucesso. Gostava que eles estivessem aqui e pudessem ter orgulho de mim. Já fiz um longo caminho e preciso deles ao meu lado. Gostava de os poder ver e que isso fosse um direito para qualquer pessoa”, desabafa.
Sobre projetos para o futuro, Mahoor Kaffashian admite que são muitos. Acabar o curso é o mais imediato e depois há a vontade da mudança. “Tenho muitos planos, mas não é só para mim… O meu principal plano é perceber como fazer a mudança para todas as pessoas como eu. Quero ter e conquistar o direito de poder estar aqui, em Portugal”, pede.
E, depois, há a enorme vontade em ajudar os outros e não só enquanto dentista. “Gostava de colaborar ou participar com alguma ONG ou associação para ajudar pessoas como eu. O que eu quero é ser útil, não só uma dentista. Quero fazer a diferença, porque com todos os altos e baixos eu vi a melhor e a pior versão de mim e quero ficar só com a melhor. Mas, no imediato quero terminar o curso, para poder ajudar a mudar a vida das outras pessoas”, finaliza.