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Patrícia Portela
Encontrámo-nos pela primeira vez num café e falámos por horas. Tu a contares-me sobre as tuas mulheres de Shakespeare e eu, muito inflamada, a perguntar-te qual era a tua urgência, que o teatro só se faz com vontades que não podemos deixar de satisfazer. Quero saber o que tu tens de urgente para fazer! – dizia eu.
E tu, com aquela calma de quem ri sempre entre deixas, disseste: Brecht.
Eu arregalei logo os olhos. Encontrei um parceiro que ainda se incomoda com a realidade e com as decisões que cada um toma, individual e colectivamente, pensei.
Percebi no primeiro encontro porque cheguei a Viseu e encontrei, entre tantos desafios e projectos memoráveis apenas duas verdades que para a cidade eram unânimes: todos os caminhos do teatro passam pelo Fraga e nenhum caminho em Viseu foi alguma vez percorrido pelos guerreiros de Viriato.
Só posso agradecer a sorte e o privilégio de ter sido durante a minha breve passagem pelo Teatro Viriato, o momento em que tu estreaste pela primeira vez uma peça tua naquele Teatro. Andamos de braço dado do princípio até ao fim, com o texto, com as palavras, com as personagens, com os conflitos éticos, com os actores, os cúmplices, a equipa.
Pegaste nas peças didácticas de Brecht, como só tu saberias pegar, e organizaste, em plena quarentena, um laboratório semanal que tinha uma multidão de participantes dos 14 aos 88 anos que te adoravam e que ainda hoje agradecem aqueles encontros semanais que nos salvaram do total isolamento.
Depois reuniste vários cúmplices, uns de longa data, outros recentes, outros que iniciaram o seu percurso contigo – e agradecer-te-ei para sempre ter conhecido o Guilherme Gomes, a Lucinda Loureiro, os Galo Cant’ as Duas, a Mariana, a Rita – e transformaste o Teatro no único farol aceso de Viseu na segunda quarentena.
Parece que foi há muito, mas naquela segunda leva muitos de nós se foram abaixo. Muitos de nós começavam a acreditar que agora os dias iam ser assim, de vez em quando livres, de vez em quando fechados em casa.
Quando não havia viv’alma na rua, lá estava o Teatro aberto à porta fechada, e uma equipa a ensaiar, a construir, a reler, a discutir e a criar, em conjunto, no palco, um espaço de utopia e conforto a um ritmo que deveriamos ter deixado ficar para os anos que agora seguem. Os fins de dia prolongavam-se à porta do Teatro, já tudo fechado e às escuras, e nós em gargalhadas e em confissões, a partilhar descobertas inusitadas e a revelar planos para um futuro próximo sem COVID-19.
Estreámos o SENSO online a 27 de março de 2021 na esperança de poder reabrir as portas ao público e tivemos espectadores dos 5 continentes. Muitos curiosos, muitos amantes de teatro, e muitos, mesmo muitos amigos teus, parceiros, comparsas, cúmplices e amigos próximos e distantes. Pessoas que tinham feito teatro contigo, espectadores que tinham visto a sua primeira peça de teatro contigo, que tinham estudado contigo, que tinham aprendido contigo, que tinham, como eu, rido, chorado e olhado para o mundo de outra maneira contigo, espectadores que não te conheciam mas admiravam a escolha, a ousadia, o tema e a energia transbordante com que te atiravas ao estudo e à reinterpretação de peças que parecem estar tão desactualizadas quanto presentes.
Foi uma estreia comovente.
Tu fazias tudo parecer possível.
Contigo aprendi que os sonhos se concretizam devagarinho e que nunca nos devemos deter ao primeiro não.
Contigo aprendi que não vale muito a pena ofendermo-nos ao primeiro insulto ou baixar os braços se amamos o desafio.
Contigo aprendi que a vida dá muitas voltas e que nem sempre vamos parar ao lugar que traçamos no mapa, mas por certo acabamos por cumprir um destino.
Foste o último a quem disse, de coração partido, que me ia embora de Viseu.
Tu respondeste, com um sorriso, que também se faz muito bom teatro em São Brás de Alportel.
A ti, só não te perdoo partires sem termos cumprido a promessa de nos atirarmos ao Ibsen.
Arranja aí um teatrinho lindo nessa tua nova morada e guarda um lugar para mim no teu calendário para quando nos reencontrarmos. Vamos rir tanto. Mas tanto!
Obrigada, Fraga!
Obrigada!
Patrícia Portela
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Jorge Marques