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Para falar da relação e impacto que a religiosidade e a espiritualidade têm na saúde, é essencial entender a diferença entre estes conceitos. A religião refere-se a um conjunto de crenças, que estabelece as relações dos grupos sociais com um ser transcendente. As religiões são compostas por narrativas históricas, símbolos e tradições que se destinam a dar sentido à vida, a explicar a sua origem e a do universo. Cada religião expressa uma visão particular do mundo e da vida do ser humano em relação com o seu criador através de uma série de rituais, filiações e normas éticas num marco de acontecimentos de referência. Religiosidade e crença não são fórmulas mágicas para solucionar os nossos problemas, mas podem ajudar-nos a gerir as causas, sintomas e consequências de uma doença.
Quanto à espiritualidade entende-se como uma experiência muito mais pessoal e íntima que pode ou não ser expressa dentro de uma religiosidade. O conceito de espiritualidade é complexo, subjetivo e multidimensional não sendo por isso fácil de encontrar uma definição consensual. A espiritualidade é entendida como uma dimensão mais ampla do que as crenças ou filiação religiosa. A Organização Mundial de Saúde (OMS) inclui a dimensão espiritual no seu conceito de saúde, apresentando-a como “o estado dinâmico de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. Reconhece a importância da espiritualidade para a qualidade de vida das pessoas, aceitando-a como uma contribuição a ser considerada, tendo em vista que os resultados observados parecem favorecer a saúde psíquica, social e biológica e o bem-estar individual.
A referência à espiritualidade e à religiosidade como estratégias que utilizamos para fazer face à doença (estratégias de coping) não é algo que possamos considerar como novidade. Segundo o neurocientista Miguel Castelo-Branco, da Universidade de Coimbra, a medicina baseada na evidência tem sugerido que a religiosidade e a espiritualidade influenciam de forma efetiva o desenrolar de muitas condições clínicas. Profissionais da saúde altamente qualificados/as, tanto na área da medicina, como noutras profissões reconhecem os benefícios da fé, crença, religiosidade e espiritualidade para o bem-estar físico/mental das pessoas doentes. Hoje sabe-se que a prática de princípios religiosos como o perdão, a compaixão, a fé, a esperança, entre outros, libertam hormonas como a acetilcolina, endorfina, serotonina, produzindo um relaxamento muscular, serenidade, melhorando a digestão e absorção de nutrientes, facilitando o sono reparador, aliviando dores físicas, corrigindo a hipertensão arterial e diminuindo a ansiedade. A ciência, em geral e a medicina, em particular não são inimigas da fé e, ao levar em consideração os sentimentos e as crenças de cada pessoa, num clima de respeito e compreensão, podem construir bons resultados para a Saúde.
Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica, UCC Viseense
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