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Estes locais, além de pontos de peregrinação e devoção, são também destinos turísticos de grande valor paisagístico e cultural, proporcionando aos visitantes uma experiência única onde se cruzam história, fé e natureza.
Junto às margens da ribeira da Fraga, as ruínas da Nossa Senhora do Carmo da Marmeleira são um testemunho silencioso de um santuário mariano que outrora desempenhou um papel fundamental na religiosidade e história da região. Mandada construir pelo padre Sebastião do Monte Calvário, prior da Igreja de São Miguel da Marmeleira, por volta de 1600, a capela foi idealizada para acolher um convento de Carmelitas Descalços, projeto que acabou por não se concretizar devido a dificuldades financeiras e falta de apoios.
A capela possuía uma estrutura notável, como descrito por Guilhermina Mota, que analisou as suas ruínas e referiu que, pelo seu tamanho e composição, o templo não era pequeno. A capela-mor era separada do corpo principal por um grande arco, complementado por dois arcos menores nas capelas laterais. Contava ainda com um púlpito de pedra, uma sacristia e vários quartos anexos, além de uma loja no piso inferior. A fachada incluía uma curta escadaria e elementos arquitetónicos raros em construções religiosas similares, como colunas de pedra finamente trabalhadas, decoradas com folhas de acanto.
O projeto do convento acabou por não avançar devido à recusa do Conde de Odemira em permitir que as rendas da igreja fossem destinadas ao seu sustento. Perante este entrave, o prior fundou uma Irmandade sob a proteção da Senhora do Carmo, que agregava membros não só da freguesia, mas também de Mortágua e aldeias vizinhas. Com fins caritativos e religiosos, a Irmandade recebeu diversas doações, incluindo terrenos de oliveiras, que garantiam o seu funcionamento.
A Vila da Irmânia estava sob domínio dos Condes de Odemira, donatários que exerciam soberania administrativa, judicial, eclesiástica e militar sobre a Marmeleira desde 1415. O seu brasão, esculpido na porta principal da capela, reforçava esse domínio. O escudo representava uma torre heráldica rodeada por ramos de videira, simbolizando não apenas o poder senhorial, mas também o direito de cobrar tributos sobre a produção vinícola da região. Este brasão é considerado um dos mais antigos brasões senhoriais do concelho.
As festividades em honra da Senhora do Carmo realizavam-se anualmente a 16 de julho e, posteriormente, no terceiro fim de semana de julho e a 5 de novembro. Relatos históricos indicam que, além das celebrações litúrgicas, era realizada uma cerimónia simbólica em memória dos membros falecidos da Irmandade.
Atualmente, a capela encontra-se em ruínas, mas continua visitável.
Alguns dos elementos da capela foram preservados e encontram-se distribuídos por outras igrejas da região. As colunas dos altares podem ser vistas na sacristia da igreja paroquial, enquanto a imagem de São Miguel em terracota e o brasão dos donatários que adornava a entrada da capela foram também transferidos para este espaço. A imagem da Senhora do Carmo, em madeira e representando a Virgem com o Menino ao colo, está agora na Capela da Senhora da Ribeira, juntamente com o sino e fragmentos do retábulo original.
Santuário do Cabeço do Sr. do Mundo
Localizado num ponto elevado com vista privilegiada para a vila de Mortágua e a sua vasta várzea, o Santuário do Cabeço do Sr. do Mundo é um local de culto e de memória histórica. A sua posição estratégica sobre os alicerces de antigas fortificações castrejas, das quais já não restam vestígios arqueológicos, mantém viva a tradição oral que denomina esta área como “Crasto”.
O santuário é constituído por três capelas de grande importância histórica e religiosa: a Capela do Sr. do Mundo, que dá nome ao local; a Capela de São Pedro; e a Capela de Nossa Senhora do Desterro. É um ponto de referência para a comunidade, especialmente durante a Quinta-feira de Ascensão, feriado municipal, altura em que fiéis de todo o concelho aqui acorrem em romaria.
Uma das capelas abriga também a imagem de São Francisco, que outrora pertencia à capela da aldeia de Gontinho, uma localidade do concelho que foi extinta.
Outro local de romaria na região é o Santuário da Nossa Senhora do Chão de Calvos, composto igualmente por três capelas: a Capela de Nossa Senhora do Chão de Calvos, a Capela do Senhor dos Aflitos e a Capela do Senhor da Agonia. O recinto do santuário conta com uma fonte de chafurdo em granito, cuja nascente, segundo a crença popular, se estende até ao altar da Nossa Senhora do Chão de Calvos.
A capela principal guarda uma pia de pedra oferecida pelos mordomos no ano de 1764. A origem deste santuário remonta a uma lenda popular do século XV ou XVI, segundo a qual um habitante da freguesia do Sobral, calvo, encontrou uma imagem da Virgem escondida dentro de uma cavidade num castanheiro. A disputa sobre a posse da imagem entre os moradores de Sobral e de Pala acabou por levar à construção da capela no local onde a imagem insistia em reaparecer, recusando-se a permanecer na igreja de Sobral.
A Capela de Nossa Senhora da Ribeira, edificada por volta de 1645 e ampliada em 1747, apresenta uma mistura harmoniosa de estilos, com destaque para as influências barrocas no altar-mor e rococó nos altares laterais. O interior é adornado por talha dourada e uma elegante abóbada que divide a capela.
A santa é venerada como protetora dos homens contra doenças e dificuldades, bem como guardiã do bom nome e da unidade das famílias. O santuário não é apenas um espaço de culto, mas também um importante ponto de lazer e contemplação, inserido num parque arborizado e dotado de trilhos que convidam ao descanso e ao contacto com a natureza. O parque, enriquecido por choupos, oliveiras e relvados, proporciona uma atmosfera fresca e tranquila, complementada pelo som das águas da ribeira, que faz mover um moinho de rodízio restaurado e funcional.
Próximo ao santuário, encontram-se a fonte de chafurdo e a fonte da bica, antigas fontes de abastecimento de água para os habitantes da aldeia. A festa religiosa da capela, realizada a 8 de setembro, atrai peregrinos das aldeias vizinhas e de todo o concelho, reforçando o seu papel central na cultura e na tradição locais.